Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Salvador Dali
Na próxima semana o governo será de novo avaliado pela Troika quanto ao cumprimento da última versão do memorando de entendimento.
Tendo em conta que a Troika é co-responsável pela situação em que estamos e que Portugal é a última oportunidade para que esta política se justifique, a avaliação, por muito que todos saibamos que é negativíssima, será positiva.
Convém que não nos esqueçamos da instabilidade política que levou à queda do governo de Sócrates, eleito em 2009, empurrado por toda a oposição, que tinha a receita milagrosa para o crescente desemprego, a depressão económica, enfim, a resposta para a crise instaurada por Sócrates.
Da extrema-esquerda à direita mais reaccionária, de tudo se usou para assassinar as políticas entretanto defendidas pelo PS. A irresponsabilidade do BE e do PCP, que continuam a defender o paraíso na terra, sem que para isso se sintam obrigados a explicar a forma de o atingir, para além das promessas de ataque ao capital que explora os indefesos trabalhadores, assim como a irresponsabilidade do PSD e do CDS, cuja ideia de sociedade não inclui o serviço público, o estado como garante da igualdade de oportunidades, os direitos dos cidadãos à saúde e à educação, fizeram aprofundar o binómio crime / castigo para quem ousou aspirar à ascensão social e aos bens materiais, disponíveis apenas para quem tem berço.
Convém não nos esquecermos de todas as promessas desfiadas na campanha eleitoral, em que a mais emblemática foi a desvergonha da negação de redução dos rendimentos das famílias. Mas também convém lembrar o que foi dito que se faria e que está a ser feito por esta maioria, como a destruição do estado social, da escola e da saúde públicas, o esvaziamento das funções do estado, o empobrecimento da população mais carenciada e da classe média, a alienação de tudo o que pode ser privatizado, o assalto aos cargos públicos, o desrespeito pelo papel fulcral que uma informação liberta dos interesses económicos representa para o regime democrático.
Convém lembrar que a estabilidade política é, de facto, um bem, que a demissão deste governo e deste ministro das finanças não traria melhores soluções, pois não há alternativas. O PS de António José Seguro está mais preocupado em negar, mesmo que pela omissão, a existência de um passado recente, do que em demarcar as diferenças. Foi o PS que negociou, como governo demissionário e com os partidos desta maioria, o memorando de entendimento com a troika. Está obrigado a honrar esse compromisso e a apoiar as medidas que constam desse memorando ou das que são indispensáveis para que se cumpra. Mas o PS deve pugnar porque a sua voz, para além da troika, se oponha a tudo o que tem vindo a ser feito, a reboque da crise, da austeridade e da sua auto flagelação.
Convém lembrar que esta maioria foi votada em liberdade, para constituir governo e salvar Portugal, nas inspiradas palavras do nosso herói mais recente. Tem quatro anos para o fazer e nós todos, os eleitores, deveremos somar os prejuízos para apresentar a nossa conta, na tentativa de saldar a imensa dívida de que já somos credores.
É bom que não nos permitamos esquecer.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
