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Chiara Bigatti
Elas deitam-se a fazer contas, dormem a sonhar com números e acordam a dividir.
Elas dividem-se entre a frutaria, o talho, os mercados, as marcas brancas.
Elas despedem as empregadas domésticas e impregnam-se do ser doméstico.
Elas aprendem a fazer pão, a demolhar feijão, a planear a refeição.
Elas inventam receitas, repartem a comida, enchem as lancheiras.
Elas desistem do cabeleireiro, do verniz das unhas, das águas-de-colónia.
Elas reciclam a roupa, lavam a roupa, passam a roupa.
Elas fazem bolos, compotas e carinho.
Elas transpiram, conspiram e suspiram.
Elas revoltam-se e resignam-se, resignam-se e revoltam-se.
Elas não têm trabalho e fartam-se de trabalhar.
Elas não têm salário nem direitos a reivindicar.
Elas deitam-se derrotadas e levantam-se esperançadas.
Elas perdem o que tinham e dão o que têm.
Elas deprimem-se, calam-se, entristecem.
Elas desenfeitam-se e enfeiam.
Elas desintegram-se.
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