Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Também li e reli o Manifesto. É um texto em que se agrupam as palavras esquerda, livre, democracia, justo, direito, desenvolvimento, humano, e outras tão interessantes como estas, num todo vazio de conteúdo, de ideias, de qualquer política concreta, de qualquer prática explícita que possa materializar uma que seja dessas palavras.
Escrever esquerda, gritar esquerda, pintar esquerda, não transforma nada em mais desenvolvimento, nem em mais igualdade, nem em mais trabalho, nem em mais direitos ou mais justiça social. Não é por dizer muitas vezes determinadas palavras que a realidade muda. Do que a esquerda precisa é de medidas, aquilo que, por muito pouco politicamente correcto que seja apontá-lo, foi o que o governo de Sócrates (o primeiro) fez: na educação e na aposta nas energias renováveis, por exemplo. E no entanto, os mesmos que tudo fizeram para denegrir e boicotar essas medidas e que contribuíram objectivamente para que a direita tomasse o poder, manifestam-se agora contra sectarismos e apelam aos homens e mulheres livres que lutem pela esquerda.
Onde estão as propostas da esquerda? Onde estão as soluções da esquerda - como seria a austeridade? Despedíamos a troika? Como seriam os incentivos à criação de emprego? E os horários de trabalho? E os subsídios, voltavam? E os impostos, desciam? E a idade da reforma? E o tratado orçamental? Como seria a tal agenda para o desenvolvimento? O que fariam de diferente e como?
Também li e reli o Manifesto, com um cansaço e um desencanto cada vez mais pesados. Mas o problema deve ser meu. Provavelmente terei de concluir que a esquerda que se manifesta não é a minha. Ou que eu não sou de esquerda.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
À venda na livraria Ler Devagar