(…) Manuel Alegre (…) conseguiu provar que ainda há espaço político em Portugal para a social-democracia de esquerda, e que a emergência desta pode travar a ascensão do BE, como se notou nos resultados de Louçã (as picardias entre os dois mostram que queriam ambos crescer para o mesmo espaço). Alegre teve ainda o mérito de mostrar que existe quem, na esquerda democrática, não morra de amores pela UE, e foi consequentemente republicano em questões como a lei da nacionalidade ou os direitos dos imigrantes (onde foi mais longe do que o actual Governo quer ir). (…) Ricardo Alves, Esquerda Republicana (esquerdarepublicana.blogspot.com)
No programa “prós e contras” da RTP1, ontem à noite, e no “forum” da TSF, hoje de manhã, ouvi opiniões acaloradas sobre o significado político do resultado da votação em Manuel Alegre, e o que vai ele fazer com isso.
Parece-me que o PS, nomeadamente o seu secretário-geral, José Sócrates, deveria pensar no facto de Manuel Alegre ter provado estar certo, e ele errado. Deveria pensar que há muita gente que não se reviu na escolha feita pelo PS para candidato à presidência, ou seja, que o PS, poucos meses após uma maioria absoluta, não soube interpretar os anseios do seu eleitorado. Talvez não fosse má ideia repensar o método de decisão ou mesmo a formação dos órgãos de decisão do partido.
Mas não é o que vai acontecer. Na maior parte dos casos continua a subvalorizar-se o fenómeno da candidatura de Manuel Alegre, e a enterrar-se a cabeça na areia, não vendo o óbvio.
A verdade é que também não se percebe muito bem o que Helena Roseta quer dizer com “não deixar morrer este movimento de cidadania”, ou coisa parecida. Este movimento de cidadãos formou-se com o objectivo de eleger um presidente, mesmo sem o apoio de máquinas partidárias, pelo que foi pioneiro na demonstração de que isso era possível. Mas agora Manuel Alegre deve usar esse capital de experiência e de peso político na reforma do seu próprio partido.
E, se for necessário, por uma qualquer outra causa, liderar outros movimentos de cidadãos para atingir outros objectivos.
Estou com curiosidade de ver o que se vai passar no próximo congresso do PS. Receio bem que não aconteça mais nada e continue tudo como está. Não me parece que Sócrates goste de assumir erros.