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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Não pense. Levante-se e ande. Comer pouco, muito pouco. Café faz-se em casa, no aconchego do lar. Aquece-se o corpo com cobertores ou com outro corpo. Melhor a segunda hipótese. Tomar banho aos domingos e feriados, ou só aos domingos, porque vão acabar os feriados. Talvez não acabem com os dias do Senhor ou da Nossa Senhora, nesses também se pode tomar banho. Nos outros dias usam-se os lavatórios e os bidés, aqueles equipamentos que estavam a cair em desuso mas que, no Portugal do século XXI, são do mais avançado que há.
Não pense. Levante-se e ande. A roupa ainda serve. A nova moda é a recuperação do velho. Reciclar é o mote das novas temporadas, que se prolongarão não se sabe bem por quanto tempo. Andar a pé e muito, faz bem e ajuda a manter o peso. Mas as horas gastas nos transportes serão sempre bem aproveitadas a ler um livro ou a ler o livro do vizinho, ele que gaste o dinheiro, a falar das férias que há muitos anos se faziam, ou da desgraça da vizinha.
Não pense. Levante-se e ande. Almoços vegetarianos ou frugais, nas marmitas de transporte que se compram no continente, aquecidas nos micro-ondas do trabalho. Café? Demasiado pode fazer subir a tensão. Não pense. Levante-se e ande. O serão bem ocupado com a roupa, a louça, o pó, o aspirador. Puro exercício, melhora as articulações. De vez em quando vê-se a TV, RTP, TVI e SIC, que não há dinheiro para pagar o resto. Nem internet, nem jornais, nem cinemas, nem concertos, nem museus. As noites de sono são mais profundas.
Não pense. Levante-se. Ande.
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