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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Não parece haver saída para esta crise, com cada solução delineada pior que a anterior. A única certeza é a falta de consideração que a Alemanha e seus congéneres têm pelos países periféricos e a intoxicação das suas próprias opiniões públicas, que consideram os povos latinos como bandos de preguiçosos e malfeitores. A quem serve esta situação?
O Primeiro-ministro grego lançou uma bomba ao querer o apoio da população, ou apenas a acalmia social, para poder tentar aplicar o enésimo plano de austeridade, ao pedir um referendo. Pelos vistos não será feito, tal o susto que os seus opositores políticos, dentro e fora do PASOK, tiveram.
Talvez o exemplo de Papandreou devesse incitar à reflexão de outros responsáveis políticos, nomeadamente em Portugal. Tem havido bastante polémica sobre qual o voto do PS em relação à lei do OE 2012, multiplicando-se razões para a abstenção – da parte da direita – ou para o chumbo – do BE e do PCP. A estabilidade política, a assinatura do memorando e a redução da conflitualidade social são as justificações que se aduzem aos favoráveis da primeira hipótese. No entanto, o voto do PS não é necessário à aprovação do orçamento, tal como não me parece que o PS tenha capacidade para controlar manifestações de descontentamento, sejam elas quais forem.
O que eu esperaria da liderança do partido socialista seria a audácia de questionar se esta é a Europa que queremos construir. Talvez seja altura de olhar para a nossa adesão à União Europeia e, sem preconceitos, fazer uma avaliação do que se conseguiu e dos rumos que nos esperam. Queremos, de facto, uma União Europeia em que, quando alguém se lembra de consultar os cidadãos, provoca uma tal hecatombe? Queremos uma Europa em que as decisões são tomadas por 2 estados-membros? Queremos uma Europa estratificada e dividida entre bons e maus, corruptos e cumpridores, preguiçosos e empreendedores?
E importante lembrar que o PSD e o PS, assim como o Presidente Cavaco Silva, apesar das promessas pré eleitorais, não quiseram referendar o Tratado de Lisboa, num dos grandes erros políticos protagonizados por Sócrates. Não estamos numa União de países soberanos, que pratica a democracia, estamos dentro de uma união monetária que nos penaliza fortemente e nos impede de decidir o nosso próprio destino.
Não será este um importantíssimo tema de discussão política dentro do país? Porque o OE 2012 está obviamente aprovado. Se calhar deveríamos era debater abertamente a opção de deixarmos a moeda única, de procurarmos alternativas para esta Europa.
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