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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
O papagaio de Flaubert, de Julian Barnes, é um livro brilhante e delicioso. A propósito do interesse de um biógrafo amador do escritor Gustave Flaubert, que procura saber qual o verdadeiro papagaio (Lulu) companheiro de Felicité, heroína de um dos contos - Un cœur simple - que compõem Trois contes, publicado em 1877, somos conduzidos a uma discussão filosófica sobre a arte e o seu autor, sobre a ficção e a realidade, o amor, a dedicação, o descomprometimento e desenraizamento próprio a que o escritor se remete, à solidão, à essência do que significa ser feliz, conceito sempre presente de uma estádio de alma impossível de alcançar ou, sequer, de definir.
Viajamos para Ruão com um médico de 60 anos, viúvo, e procuramos a sua voz na voz de Flaubert, percorremos a sua vida descobrindo a de Flaubert, o homem e o escritor, concluindo que a existência real e palpável é a dos livros e não a da vida que nos calha.
Deixo apenas um parágrafo:
(...) Ellen. A minha mulher: alguém que eu sinto compreender pior do que um escritor morto há cem anos. Isso é uma aberração ou é normal? Os livros dizem: ela fez isto porque. A vida diz: ela fez isto. É nos livros que as coisas nos são explicadas; na vida não são. Não me surpreende que algumas pessoas prefiram os livros. Os livros dão um sentido à vida. O único problema é que a vida a que eles dão sentido são as vidas dos outros, nunca é a nossa. (...)
Aguardo com alguma ansiedade a edição de Nothing To Be Frightened Of, que já tentei ler no original (tal como fiz com Flaubert's Parrot). Infelizmente a minha fluência em inglês literário não é tão boa como gostaria. Por isso espero a tradução que parece estar prevista, também pela Quetzal.
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