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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Estamos numa escalada perigosa na lógica do pensamento único, do fundamentalismo moralizador e dos polícias do pensamento. Tanto se fala na liberdade de expressão que se esquece a suprema liberdade de pensar, argumentar, rebater, discutir. Criam-se novos tabus numa sociedade que se diz cada vez mais aberta.
A comissão de inquérito parlamentar é um palco para uma luta política que perdeu de vista o objectivo proclamado, tendo permanecido o objectivo subjacente – desgastar o governo como um todo e o Primeiro-ministro em particular. O deputado Ricardo Rodrigues, com as saídas intempestivas de cena, ajuda à descredibilização da sua bancada. É uma peça de teatro sem qualidade. Mas no Parlamento, na casa da democracia, o facto de alguém se remeter ao silêncio é motivo para escândalo e protestos de indignidade, por parte de quem deveria defender o direito a falar ou a calar-se. A Assembleia da República travestida de tribunal inquisitório.
Afinal a deputada Inês de Medeiros sempre tem direito a que lhe paguem as viagens para Paris. Depois de ter sido difamada e enlameada pelos jornais, blogues e comentaristas militantes, daqueles que se indignam pelo facto do dinheiro dos contribuintes pagar deslocações de deputados mas que se insurgem contra medidas de regularização de salários milionários dos apóstolos dos mercados, num país que assiste à extrema hipocrisia social e à desigualdade na distribuição da riqueza, obviamente vilipendiadas pelos mesmos apóstolos, mantém-se como alvo de ataques de carácter, uma das melhores contribuições da anterior direcção do PSD para a luta político-partidária.
O episódio do teste de Direito Constitucional do Prof. Paulo Otero deixa-nos uma amarga sensação de que é proibido falar, caricaturar, usar a palavra homossexual ou o conceito de homossexualidade, pelo perigo de ofensa grave. Pelo que fui lendo ao longo dos últimos dias, um Professor resolveu usar exemplos absurdos para que os estudantes, todos eles maiores de idade, usassem os seus conhecimentos e a sua capacidade argumentativa para defender o indefensável. Repentinamente o Professor passou a ser maldito por homofóbico e reaccionário, iniciando-se aquilo que parece uma uma caça às bruxas. Na opinião de alguém que o conhece e que lhe reconhece ideias ultraconservadoras, o Paulo Otero é um excelente professor, encoraja os alunos a exporem as suas ideias e premeia quem as defende, mesmo que sejam opostas às suas.
Como essa mesma pessoa disse, o primeiro que caricaturou George W. Bush como um macaco foi espirituoso e muito arguto; se alguém se atrever a fazer o mesmo a Barack Obama é, de certeza, racista.
Amanhã é 25 de Abril. E viva a democracia, a criatividade, a liberdade de pensamento, a transgressão, a provocação intelectual, o desalinhamento.
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