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Os novos Guardiões do Templo

por Sofia Loureiro dos Santos, em 24.02.10

 

Este é o texto hoje publicado pelo Público, em Cartas à Directora (pág.34), a propósito do último artigo de Pacheco Pereira: Um estranho Verão entre eleições:

 

Saiu hoje um artigo no Público, assinado por José Pacheco Pereira – Um estranho Verão entre eleições – em que o articulista afirma que o blogue Simplex, blogue de apoio ao PS e formado exclusivamente para isso, como consta do seu manifesto publicado a 20/07/2009, teria servido como fluxo de informação do governo, preparado por assessores e utilizando bases de dados da Rede Informática do Governo, através de João Galamba, um dos impulsionadores do blogue.

 

Tal como outros membros do blogue, aceitei integrá-lo porque acreditava, como acredito, que a manifestação de opinião na blogosfera é uma forma de intervenção cívica acessível e democrática, que enriquece o debate. O convite para integrar o blogue foi-me feito precisamente assegurando a completa independência editorial o que foi determinante para a minha aceitação. Mais afirmo que não me foi prometida qualquer contrapartida, monetária ou outra, por essa participação tal como não o foi a qualquer dos outros participantes.

 

Posso portanto afirmar com conhecimento de causa que não havia controlos, orientações nem distribuição de temas para debate. Cada um de nós actuou e escreveu dentro das suas disponibilidades, abordando as suas áreas de interesse, com as informações de que dispunha e a que tinha acesso, nomeadamente documentos que membros do governo, candidatos a deputados e militantes do PS usavam, como base de sustentação argumentativa, como depreendo que é feito em qualquer campanha eleitoral. Toda a informação que foi trocada nos emails é a habitual entre um grupo que se uniu com um objectivo comum, assumido, claro e transparente.

 

É absolutamente vergonhosa a utilização deste simples facto, a criação de um blogue para fazer campanha eleitoral, estratégia utilizada por outros partidos políticos - Jamais pelo PSD e Rua Direita pelo CDS – tendo o articulista feito parte do blogue Jamais. Será que também recebeu ou prometeu dinheiro ou outras recompensas por esse facto? Será que não havia troca de comunicações entre os seus vários elementos, divulgação de factos e documentos em que baseassem as suas análises e opiniões? Em que país democrático é que se proíbe os políticos do partido do governo de fazerem campanha pelo seu próprio partido? A liberdade de expressão é apenas para os partidos da oposição?

 

Ao contrário do que o articulista defendeu em plena campanha, no seu blogue, no blogue Jamais, nos artigos de opinião dos jornais para os quais escreve e nos programas de televisão em que participa, a asfixia democrática é exercida por ele e por quem usa os métodos tristemente célebres de ataque ao carácter das pessoas já que não tem argumentos para debater ideias. Foi assim na ditadura anterior ao 25 de Abril de 1974, foi assim até 25 de Novembro de 1975, foi assim na antiga União Soviética, foi assim no regime franquista, é assim em Cuba e em todas as ditaduras, sejam elas de que sinal forem.

 

Assim se percebe que há pessoas, sendo o articulista José Pacheco Pereira um excelente exemplo, que entendem a liberdade individual como um instrumento para impor a sua visão totalitária da sociedade. Para elas a criação de blogues de gente livre são uma intolerável ascensão do povo à esfera do poder. A democracia é boa, mas apenas quando é controlada por minorias constituídas pelos novos Guardiões do Templo.

20/02/2010

 

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publicado às 13:40


5 comentários

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De ACÁCIO LIMA a 24.02.2010 às 14:09

Não é aceitável perder a oportunidade de, explicitamente, declarar a minha Solidariedade com a Autora do post, participante activa e empenhada no blog SIMPLEX.

Mas assinalo também, o rigor da classificação, "Visão Totalitária", atribuida ao articulista.

Cordiais e Afáveis Saudações Democráticas e Republicanas

ACÁCIO LIMA

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De mdsol a 25.02.2010 às 01:00

Este assunto é completamente lamentável. Muito boa a sua resposta.

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De José Viegas a 24.02.2010 às 19:18

Muito bem.
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De bettencourt de lima a 24.02.2010 às 23:38

Do alto do monte - Conto de Natal
... Pacheco deixa arrastar a âncora, perde o norte e encalha. Com a água pelo pescoço, agita-se freneticamente, mas não pede ajuda. Da sua boca, houve-se, disparadas, as palavras: «....Sócrates maldito... Corrupt … Soc .... glu .... glu .... gl ....». Depois, silêncio. Do alto do monte, o velho assiste à cena e abana a cabeça. Um pensamento, todavia, absorve-o... nunca mais acabam com a publicidade no canal público… «Comenda!!!», berra, olhando ligeiramente por cima do ombro. O fiel amigo, ouvindo a voz do dono, aproxima-se correndo nas quatro patas e agitando a cauda num frenesim. O velho pousa a mão direita sobre a cabeça do cão e faz-lhe distraidamente uma festa. «Comenda...» diz novamente... … agora que a golden share vai à vida, o Belmiro pode outra vez tentar vender aquilo aos bocados e fazer uma pipa de massa,» e conclui com tristeza... «O país afunda-se». O rafeiro desanimado volta a deitar-se em cima do jornal. O velho cogita. A vida passou depressa. Como num filme agitado, imagens apressadas percorrem-lhe o pensamento. Olha novamente para o sítio onde desaparecera Pacheco. Nunca gostara muito dele. A situação piorara depois daquela insistência obsessiva com que alimentara os ódios dela e a conduziu àquela derrota estrondosa. Olhou demoradamente para o mastro que boiava no sítio do naufrágio. Julgou ver um objecto que emergia. Semicerrou os olhos, concentrando-se na imagem. Pareceu-lhe ver um dedo espetado, depois um punho e, finalmente, o corpo de Pacheco emerge de rompante à superfície separando as águas com estrondo. O mar devolvia Pacheco à vida. Os pulmões de Pacheco congestionados recusam-se a aceitar o sopro da vida. Pacheco estrebucha e consegue, num ronco cavo, começar a respirar. Os olhos arregalados percorrem a costa em redor, ávidos de vida. De repente, Pacheco avista o velho no alto do monte, e, na sua agitação, confunde-o com Deus. Não era Deus, longe disso, mas, para Pacheco, aqueles cabelos desgrenhados e a cara bexigosa personificavam o Criador e o milagre do seu regresso à vida. O mastro arrastado pela corrente dá à costa e, com ele, Pacheco. Sentindo terra firme, Pacheco beija a rocha e enterra fundo as mãos na areia. De repente, ouve uma voz. Era uma voz sem som, que se lhe cravava no cérebro. Uma voz simultaneamente maternal e paternal, que lhe fazia lembrar recordações de infância. Maternal porque o aconchegava, o acarinhava e lhe dava segurança. Paternal porque se tornava rapidamente exigente, não lhe dava espaço para solilóquios e o encurralava. Esta era mesmo a voz de Deus. “Pacheco”, disse a Voz, “Eu amo todas as coisas, vivas ou inertes. A uma espécie dei consciência e responsabilidade. Nesta espécie não dei a todos as mesmas condições de vida. Tu nasceste privilegiado, com carinho, bens materiais e numa família de antigas tradições. Cresceste e fizeste-te homem. No meio onde vives, foste considerado e admirado por fazeres muitas concessões à liberdade de pensamento e, fartas vezes, sorri quando abocanhavas aquele teu correligionário mulherengo.” Mas”, continuou a voz, “algo explodiu dentro de ti e, de repente, dei contigo a vociferar, escumar e arrastar a barriga pela lama. Pacheco, Eu não te fiz réptil! Devolvi-te a vida. Sê Homem.” Pacheco chorou primeiro silenciosamente, depois convulsivamente, mas o rosto resplandecia. O choro era de alegria, e murmurou: “Deus é grande”. E, na costa, vinda não se sabe de onde, espraia-se a Ode à Alegria do compositor surdo.
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De mdsol a 25.02.2010 às 13:00

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