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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Este é o texto hoje publicado pelo Público, em Cartas à Directora (pág.34), a propósito do último artigo de Pacheco Pereira: Um estranho Verão entre eleições:
Saiu hoje um artigo no Público, assinado por José Pacheco Pereira – Um estranho Verão entre eleições – em que o articulista afirma que o blogue Simplex, blogue de apoio ao PS e formado exclusivamente para isso, como consta do seu manifesto publicado a 20/07/2009, teria servido como fluxo de informação do governo, preparado por assessores e utilizando bases de dados da Rede Informática do Governo, através de João Galamba, um dos impulsionadores do blogue.
Tal como outros membros do blogue, aceitei integrá-lo porque acreditava, como acredito, que a manifestação de opinião na blogosfera é uma forma de intervenção cívica acessível e democrática, que enriquece o debate. O convite para integrar o blogue foi-me feito precisamente assegurando a completa independência editorial o que foi determinante para a minha aceitação. Mais afirmo que não me foi prometida qualquer contrapartida, monetária ou outra, por essa participação tal como não o foi a qualquer dos outros participantes.
Posso portanto afirmar com conhecimento de causa que não havia controlos, orientações nem distribuição de temas para debate. Cada um de nós actuou e escreveu dentro das suas disponibilidades, abordando as suas áreas de interesse, com as informações de que dispunha e a que tinha acesso, nomeadamente documentos que membros do governo, candidatos a deputados e militantes do PS usavam, como base de sustentação argumentativa, como depreendo que é feito em qualquer campanha eleitoral. Toda a informação que foi trocada nos emails é a habitual entre um grupo que se uniu com um objectivo comum, assumido, claro e transparente.
É absolutamente vergonhosa a utilização deste simples facto, a criação de um blogue para fazer campanha eleitoral, estratégia utilizada por outros partidos políticos - Jamais pelo PSD e Rua Direita pelo CDS – tendo o articulista feito parte do blogue Jamais. Será que também recebeu ou prometeu dinheiro ou outras recompensas por esse facto? Será que não havia troca de comunicações entre os seus vários elementos, divulgação de factos e documentos em que baseassem as suas análises e opiniões? Em que país democrático é que se proíbe os políticos do partido do governo de fazerem campanha pelo seu próprio partido? A liberdade de expressão é apenas para os partidos da oposição?
Ao contrário do que o articulista defendeu em plena campanha, no seu blogue, no blogue Jamais, nos artigos de opinião dos jornais para os quais escreve e nos programas de televisão em que participa, a asfixia democrática é exercida por ele e por quem usa os métodos tristemente célebres de ataque ao carácter das pessoas já que não tem argumentos para debater ideias. Foi assim na ditadura anterior ao 25 de Abril de 1974, foi assim até 25 de Novembro de 1975, foi assim na antiga União Soviética, foi assim no regime franquista, é assim em Cuba e em todas as ditaduras, sejam elas de que sinal forem.
Assim se percebe que há pessoas, sendo o articulista José Pacheco Pereira um excelente exemplo, que entendem a liberdade individual como um instrumento para impor a sua visão totalitária da sociedade. Para elas a criação de blogues de gente livre são uma intolerável ascensão do povo à esfera do poder. A democracia é boa, mas apenas quando é controlada por minorias constituídas pelos novos Guardiões do Templo.
20/02/2010
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