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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
(Fernanda Palma, Correio da Manhã, 02/08/2009)
A ciência tem os seus limites e deve aprender a minorá-los. Não há nenhuma análise, por mais sofisticada que seja, cujos resultados não tenham margem de erro. O conhecimento científico aprofunda-se todos s dias e, hoje em dia, é possível fazer um controlo bastante apertado ao sangue colhido dos dadores, pelo menos aos agentes infecciosos que se conhecem.
A selecção de dadores de sangue rege-se por análises de avaliação e controlo de risco. Tal como a decisão de escolher grupos de risco a quem aplicar as vacinas da gripe ou do colo do útero; tal como a decisão de definir grupos que beneficiam de um determinado agente terapêutico; tal como se definem grupos populacionais para rastreios de determinadas doenças.
Só para exemplificar, o rastreio do cancro da mama é efectuado às mulheres que têm história familiar de cancro da mama e à população feminina com mais de 50 anos, no NHS (Reino Unido). Mesmo havendo países que baixam a idade de rastreio para este tipo de cancro, não há nenhuma organização de saúde que preconize o rastreio a toda a população. Seria incomportável a nível dos recursos humanos, logísticos e financeiros. E no entanto há mulheres mais novas com cancro da mama, assim como há cancro da mama em homens, não sendo estes incluídos no rastreio.
Neste caso poderá alegar-se que quem não é rastreado poderá ser prejudicado porque corre o risco de ter cancro da mama sem que este seja detectado em fases iniciais (o objectivo do rastreio). Tal como no caso da determinação de grupos de risco para administração da vacina da gripe, pode colocar-se a questão da restante população estar a ser discriminada por correr o risco de ser infectada quando há uma hipótese de prevenção.
No caso dos dadores de sangue quem não dá sangue não corre qualquer risco por esse facto. Quem o recebe sim. E como não existe a certeza cientificamente comprovada de que as análises a que temos acesso são capazes de excluir todo o risco de contaminação, esta é uma forma de proteger quem vai receber as transfusões. Por exemplo, a dádiva de sangue era paga em muitos países. Há, neste momento, orientações da OMS para os dadores sejam 100% voluntários porque se concluiu que os pagos tinha muito maior prevalência de doenças que os voluntários.
Não me parece portanto que esteja em causa qualquer lógica economicista com a exclusão dos homossexuais masculinos, mas apenas uma lógica de aplicação dos conhecimentos actuais e dos recursos disponíveis em benefício do tratamento de doentes.
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