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Transfusões (2)

por Sofia Loureiro dos Santos, em 18.07.09

 

 

Ainda a propósito do assunto da discriminação dos homens homossexuais como dadores de sangue, convém que sejamos rigorosos e que procuremos perceber as razões da exclusão desse grupo populacional.

 

Mais uma vez insisto que essas razões se baseiam em estudos científicos de controlo de risco e são a salvaguarda dos doentes que necessitam do sangue doado (cada pessoa transfundida recebe uma mistura de sangue de vários dadores – concentrados eritrocitários, de plaquetas, etc. - não se usando, praticamente, transfusões de sangue total, o que aumenta o risco de transmissão de infecções).

 

Como em todas as áreas científicas, o que hoje é verdade amanhã pode não ser. Por isso, e pela constante investigação epidemiológica sobre prevalência de infecções nas populações, assim como a identificação de agentes patogénicos, nomeadamente virais, que se vão acumulando, há muitas vezes controvérsia na aplicação de princípios gerais para um determinado assunto, seja ele os critérios de selecção e exclusão de dadores de sangue, como neste caso, ou de classificação de tumores da glândula tiróide.

 

Por isso mesmo, existem grupos nacionais e internacionais que se reúnem periodicamente, analisam os vários contributos científicos em cada área, as consequências para a população, éticas, sociais e de saúde pública, e definem orientações ou guidelines para cada caso. Só assim é possível analisar os dados que vão aparecendo diariamente e, quando a evidência suportar a mudança de atitudes, elas possam ser efectuadas com a segurança possível e com a garantia de que se faz tudo para evitar aumentar o risco inerente a qualquer acto médico.

 

No Annual Meeting de 2008 da American Medical Association (AMA) - REPORTS OF THE COUNCIL ON SCIENCE AND PUBLIC HEALTH - apresentado pela Dra. Mary Anne McCaffree, entre as páginas 421 e 428, faz-se uma revisão das guidelines actuais, as razões, as perguntas e problemas existentes, nomeadamente os levantados socialmente pela sacusações de discriminação dos homens homossexuais, as investigações existentes para determinar se é possível alterar a recusa permanente da doação de sangue por parte deste grupo, conclusões e recomendações (pág. 426 e 427):
 

Men who have had sex with men since 1977 are currently permanently deferred from blood donation. This FDA policy recommendation has generated controversy due concerns that it may be discriminatory and that it stigmatizes the MSM population. It is clear that a policy change with respect to blood donation deferral is a risk management decision wherein the risks of ntroducing additional infected units for transfusion over the current residual risk must be alanced against the benefits of increasing the pool of blood donors. Also important are ethical and societal factors, which this report does not address. Any policy decision on blood donation deferral of the MSM population must be governed by the best available scientific evidence but there are inherent weaknesses in mathemathical models used in the risk assessments on this issue that continue to generate some uncertainty. With respect to the MSM population, it appears that a policy change from a permanent lifetime deferral to a 5-year deferral following the last MSM contact may be supportable, but societal and ethical consequences must be analyzed should this decision be advanced. Such an analysis should include discussion of what society would consider acceptable risk with respect to safety of the blood supply, as that will determine to what extent a precautionary principle must be factored into any policy decision. Finally, should such a policy change occur, blood collection agencies must be marshaled to collect data that will provide actual data for future risk assessments to improve decision-making on this issue.

The Council on Science and Public Health recommends that the following statement be adopted in lieu of Resolution 515 (A-07), and that the remainder of this report be filed:


That our American Medical Association (AMA) recognize that based on existing scientific evidence and risk assessment models, a shift to a 5-year deferral policy for blood donation from men who have sex with men is supportable.

 

Encontrei também outro artigo em que se estuda a hipótese de reduzir esse tempo para 5 anos, implementando a pesquisa sistemática do HHV-8 (Human herpesvírus 8 – associado a linfomas e a sarcoma de Kaposi) no sangue dos dadores.

 

O que está em causa para os organismos públicos, neste como noutros casos, é o dever que têm de garantir aos receptores de sangue o seu direito a serem tratados em segurança.
 

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publicado às 13:47


6 comentários

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De jrd a 18.07.2009 às 15:06

Porque não sou entendido na matéria (reconheço que serei um caso raro, neste país de "conhecedores"), leio-a com muita atenção e não hesito em concordar consigo.
Esta prevenção não é discriminação. Acho eu.
Se estiver errado só espero que me "descriminem".
Tenha um bom fim de semana

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De mac a 18.07.2009 às 15:36

Prevenir é uma coisa, discriminar é outra...Afinal de contas quem diz que um hetero é menos promiscuo que um homo? Os votos de fidelidade trocados durante a cerimónia do casamento, nunca foram levados muito a sério...É ver quem recorre às prostitutas...
Acho bem prevenir, mas para isso os profissionais de saúde em vez de perguntarem se a pessoa é homossexual, deveriam perguntar à quanto tempo aquele possível dador tem uma relação estável. E outra coisa, ninguém é obrigado a dizer a verdade, portanto durante o questionário, podem esconder a sua orientação sexual.
E outra coisa, havendo tantas doenças por aí, será que o sangue não é analisado, independentemente das respostas dadas durante o questionário? Será que confiam assim tanto na palavra dos dadores...
Cheira-me que analisar o sangue deve dar muita despesa, confiando-se assim nas respostas dadas...Se um dia fosse parar ao hospital e precisasse duma transfusão, preferia receber sangue dum homo que tivesse uma relação estável, do que de um hetero casado mas que fosse às meninas...
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De carlosfreitas a 19.07.2009 às 14:56

Já vi uma ministra por cá cair, ir a tribuna, porque naquele tempo a informação pública era o que era... Dai que não acredito que seja apenas entre homossexuais e lésbicas que a proibição deva existir. Ela deve existir quando o sangue de qualquer individuo esteja contaminado. A discriminação de grupos de risco devia incluir igualmente heterossexuais . Basta fazer o despiste para se saber se uma pessoa pode ou não dar sangue. O que sobra desta discussão é apenas falta de sensibilidade para lidar com o problema, saber explica-lo e contribuir para uma melhor compreensão deste problema.
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De Sofia Loureiro dos Santos a 19.07.2009 às 15:33

Insisto em que não existe discriminação. Do que se trata é de minimizar os risco para quem vai receber esse sangue.
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De carlosfreitas a 19.07.2009 às 22:13

Insisto: a discriminação, chame-se-lhe o que se quiser, deve existir face a individuos portadores de doenças transmissíveis que não apenas as de natureza sexual. E não se trata apenas de minimizar mas de assegurar maximizando que os recebedores de uma transfusão sanguinea não estejam sujeitos a outras complicações que posteriormente possam ser desencadeadas pela necessidade de receberem sangue. Estou de acordo com as suas posições, sobretudo quando releva a questão dos organismos públicos e da política de saúde a ser seguida neste caso em concreto.
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De Sofia Loureiro dos Santos a 19.07.2009 às 23:15

Se fala de discriminação nesse sentido é claro que existe e em relação a várias pessoas que tenham determinado tipos de doenças. Está tudo nos documentos que linkei.

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