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Anatomopatologistas precisam-se

por Sofia Loureiro dos Santos, em 26.04.09

                

 (schistosomíase; carcinoma ductal invasivo Her-2 +++)

 

Ao contrário do que é habitual, este é um post de alerta e em defesa da corporação dos Anatomopatologistas, a que eu pertenço.

 

Os Anatomopatologistas são médicos especialistas em diagnosticar as nossas doenças, olhando para o microscópio, olhando para os tecidos e as células, tentando ver cada vez mais além, havendo até já formas de olharem para as moléculas.

 

Aos Anatomopatologistas é-lhes pedido que distingam entre uma malformação congénita, uma infecção ou um tumor, entre um tumor benigno e maligno. É-lhes pedido que, a meio de uma operação, decidam entre a malignidade e a benignidade de um tumor, se este está totalmente extirpado ou se é preciso fazer uma cirurgia mais agressiva.

 

Depois, para além do diagnóstico e da avaliação das margens cirúrgicas, têm que fazer o estadiamento do tumor, ou seja, têm que dizer até que ponto o tumor está avançado porque isso condiciona o tipo de tratamentos que serão necessários, para além da perspectiva do tempo e da qualidade de vida do doente.

 

À medida que vão sendo descobertos os mecanismos moleculares de alteração das células e se vão desenvolvendo medicamentos dirigidos a cada uma dessas moléculas, o que significa terapêuticas individualizadas, tendo em conta os diferentes comportamentos dos tumores e as diferentes formas de que eles se revestem, o trabalho dos Anatomopatologistas é também de orientação quanto ao exacto medicamento a administrar.

 

Os Anatomopatologistas estão na base de cerca de 80% de todos os actos médicos, cirúrgicos e terapêuticos dos sistemas de saúde. A eles se exige conhecimentos especializados da sua especialidade, adaptação a tecnologias cada vez mais específicas, permanente interacção com as outras especialidades clínicas e cirúrgicas para a abordagem multidisciplinar dos doentes, estudo e monitorização permanente do seu próprio trabalho, controlo de qualidade, investigação clínico-patológica, formação dos mais novos, documentação iconográfica do seu trabalho, coordenação e participação nas bases de dados do registo oncológico, realização de rastreios de vários tipos de neoplasia (colo do útero, mama, cólon, etc).

 

Os Anatomopatologistas respondem a todos os serviços dos hospitais (públicos e privados), não têm listas de espera e têm objectivos de rapidez e qualidade nos tempos de resposta. Como a sua actividade depende da actividade dos outros serviços os anatomopatologistas parecem invisíveis. Se houver incentivos aos cirurgiões para operarem mais, aos gastrenterologistas para fazerem mais consultas, etc, não se pensa que desse trabalho resultam mais peças cirúrgicas, mais biopsias e mais citologias para os mesmos Anatomopatologistas, que não recebem incentivos nenhuns.

 

Há cada vez menos Anatomopatologistas e os que existem estão cada vez mais envelhecidos e com cada vez maior carga de trabalho. Enquanto não houver uma revisão da forma como se remuneram estes especialistas, a especialidade, cada vez mais necessária até pelo aumento das doenças oncológicas, continuará a ser preterida por outras menos trabalhosas e melhor remuneradas.

 

A medicina de qualidade depende tanto de serviços de cirurgia altamente especializados como de oncologistas, pediatras, obstetras, gastrenterologistas, como de anatomopatologistas em número, motivação e competência suficientes para que possam cumprir um papel central na prestação de cuidados de saúde.

 

É extremamente importante que os decisores políticos e administrativos, a nível central e periférico entendam esta urgência e tudo façam para promover a melhoria das condições de trabalho destes especialistas, e para incentivar a escolha desta especialidade.
 

                      

 (linfoma de Bürkitt; lesão intraepitelial de baixo grau)

 

 

Nota: Report of the Review of NHS, Pathology Services in England, Chaired by Lord Carter of Coles, 2006

 

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publicado às 12:05


16 comentários

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De Sofia Loureiro dos Santos a 29.11.2010 às 22:15

Obrigada pela confiança, Cara Colega! Com todo o gosto!
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De Esperanca Ussene a 13.04.2011 às 10:48

Olá Dra. Sofia. Espero que esteja tudo bem consigo. Como prometi, cá estou para tirar algumas dúvidas. Em Moçambique há muitos casos de carcinoma hepatocelular e com frequência temos feito punção aspirativa com agulha fina, a famosa PAFF, para o diagnóstico. No entanto, os colegas da África do Sul nunca fazem PAAF nestes casos e dizem que está contra-indicado . Verdade ou não , o certo é que tenho observado que a maioria dos pacientes a quem fazemos PAFF morre 3 a 4 dias depois (se bem que a maioria já está na fase terminal!).Qual é a sua experiência em relação a esses casos?
Um abraço.
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De Sofia Loureiro dos Santos a 13.04.2011 às 19:54

Esperança Ussene, por favor escreva-me para o email disponível no perfil do blogue. Conversaremos por aí. Obrigada.

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