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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
O pedido de Sócrates para uma nova maioria absoluta é natural e lógica. Da parte dele, do PS e de uma governação estável.
As maiorias absolutas têm, na minha opinião, mais desvantagens que vantagens. E a do PS de Sócrates, tal como as do PSD de Cavaco anteriormente, é disso plena demonstração. O governo tende a hegemonizar-se na discussão política, desvalorizando e desprezando os debates parlamentares. No último que vi, Sócrates não respondeu a uma única pergunta da oposição, aproveitando o tempo que lhe cabia para falar contra as oposições e fazer propaganda política.
Por outro lado, as maiorias absolutas de um partido apagam os debates no seio dos próprios partidos, eternizando-se a solução única, condenando-os a uma travessia do deserto após a queda do líder. Foi assim no PSD e será assim no PS.
No contexto político em que estamos, no entanto, no Portugal de 2009, temos uma esquerda em que o BE já afirmou que nunca viabilizará um governo do PS, nunca se coligará nem apoiará o PS, porque o seu objectivo não é governar mas ser oposição, sempre. Por outro lado há o PCP que tem uma visão da sociedade que não evoluiu desde 1974, começando no discurso de Jerónimo de Sousa e acabando no sindicalismo que lhe está afecto.
Se o PS não tiver maioria absoluta resta-lhe formar um governo minoritário, com o tempo de vida que se lhe adivinha, ressuscitar o bloco central, que é no que parece apostar o PSD, ou depender de Paulo Portas.
Portanto António Costa tem toda a razão: quem quer votar à esquerda só pode votar PS ou então arrisca-se a fazer o jogo da direita. O BE colocou-se na posição de abrir a porta a governos de ou com a direita, mesmo que a votação na esquerda seja largamente maioritária.
Estes são os paradoxos a que pode conduzir o populismo. Mas não será nenhuma tragédia, nem nenhum colapso governativo. Será apenas uma solução pior que a da maioria absoluta do PS.
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