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O "negócio" da saúde

por Sofia Loureiro dos Santos, em 08.12.08

Sempre achei estranha a súbita e explosiva proliferação de unidades privadas de saúde nos últimos anos, pelo número e pela dimensão. Que me lembre, só na área da grande Lisboa, abriram dois grandes hospitais com valências de cuidados intensivos, urgências e oncologia: o Hospital dos Lusíadas (HPP Saúde) e o Hospital da Luz (Espírito Santo Saúde), para além de unidades mais pequenas, como as Clínicas CUF Cascais e CUF Torres Vedras (José de Mello-Saúde).

 

Não conseguia perceber se haveria capacidade económica na população para poder arcar com seguros de saúde que comportassem tratamentos oncológicos, por exemplo, ou internamentos prolongados em unidades de cuidados intensivos, ou terapêuticas onerosas para doenças do tipo da SIDA.

 

A partir desta notícia, que cita José Manuel Boquinhas, administrador dos HPP - Espero que a ideia de integrar os privados na rede (oncológica) vá para a frente - ficou tudo bastante mais claro. Como o próprio artigo indica, os doentes iniciam os tratamentos nos hospitais privados, os que dão lucro ao hospital e às seguradoras, e quando se lhes acaba a capacidade económica, são transferidos para o sistema público de saúde que, obviamente, não os pode recusar. Segundo o DN isto passa-se com 20 a 50% dos doentes oncológicos.

 

Como não há, de facto, poder económico que permita pagar seguros para a totalidade das despesas de saúde, os hospitais privados deixaram de ter clientes para se sustentarem. Daí a necessidade de acordos para entrarem nas redes de cuidados de saúde do SNS. Passará o estado a ser o seu cliente e pagador. Por vontade deles seria o estado a viabilizar economicamente estes projectos que, pelo menos agora, se revelam desajustados da realidade do país.

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publicado às 19:29


15 comentários

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De Jorge Lopes a 08.12.2008 às 20:54

Olá;
Depois de ler o seu texto e de comungar das suas dúvidas e questões, não posso deixar de lhe apelar à revolta cívica! Como? Votando em branco ou nulo nas próximas eleições legislativas. Porquê e com que objectivos? Porque se existir um massivo voto em branco ou nulo juntamente com a abstenção que normalmente se verifica este regime político corrupto perde legitimidade perante o povo, que é o primeiro passo para uma regeneração política que mude para melhor o nosso futuro.
Felicidades
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De Sofia Loureiro dos Santos a 08.12.2008 às 21:48

Jorge Lopes
Nunca apelei nem apelarei para o voto em branco nem para a abstenção. Não estou minimamente interessada em mudar o regime político. Para mim o regime democrático é o melhor que há e faz-se precisamente participando, nomeadamente com o voto, que pode mudar políticas e políticos.
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De Jorge Lopes a 10.12.2008 às 21:29

nTemo ter sido mal compreendido ou pouco explícito:
Não coloco de forma alguma a ideia de liberdade e democracia em causa! O que quis dizer e volto a afirmar é que o espectro partidário e os políticos que temos actualmente não servem, a meu ver, os interesses legitimos de prosperidade dos portugueses. E quando falo em regime refiro-me apenas a esse aspecto. Mesmo o PCP e o BE, por exemplo, acabam por, no limite, comungar dos mesmos pratos e panelinhas e demais tachos dos outros partidos; acabam por viver as mesmas polémicas de ambição de poder que os outros partidos ditos de regime vivem. É por isso que eu digo que o povo português deve dar um aviso muito sério a toda a classe política de que não vai suportar por muito mais tempo a corrupção e o compadrio político que nos esmaga enquanto colectivo. E deve dar um primeiro aviso votando massivamente em branco, nulo, ou até não votando, sendo esta última hipótese não muito do meu agrado.
Felicidades
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De Sofia Loureiro dos Santos a 11.12.2008 às 21:58

Jorge Lopes
Percebi mesmo mal. Mas continuo a achar que o voto em branco ou a abstenção não são soluções. Se não concordamos com o que existe, porque não fazermos nós próprios? Que tal candidatar-se?
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De Jorge Lopes a 12.12.2008 às 21:49

Sofia Santos;
Por uma razão muito simples: Tenho o bom senso e a humildade de reconhecer que não tenho experiência, nem talvez os conhecimentos necessários, nem meios financeiros ou forma de a eles aceder, para me lançar numa aventura dessas. Mas isto não pode nunca significar que não tenha o direito de criticar o que acho mal feito! Vivem em Portugal cerca de 10 milhões de pessoas e parece-me óbvio que nem todos os criticos poderiam candidatar-se. Temos, todos nós, de possuir a humildade de reconhecer que nem sempre podemos ser líderes ou cabeças de cartaz; por vezes temos de ser seguidores, ainda que sem perder a própria identidade, independência e dignidade. No entanto se a sua pergunta-desafio se referia a algo mais pequeno como por exemplo criar uma associação ou coisa assim , ai posso dizer-lhe que muito provavelmente o farei num futuro próximo. Para já sou um activista do voto em branco...
Já leu o livro Ensaio Sobre a Lucidez?
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De Sofia Loureiro dos Santos a 13.12.2008 às 22:01

Jorge Lopes
A pergunta era um bocado retórica. Era apenas para salientar que é muito mais difícil dispormos de nós, da nossa autonomia e do nosso tempo para a cidadania do que criticar. Obviamente que temos o direito e o dever de criticar (eu passo a vida a fazê-lo) mas, se nenhuma solução nos serve, devemos ponderar como participar noutra solução.
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De Fernando Penim Redondo a 08.12.2008 às 21:00

Cara Sofia L. S.,

penso que este tipo de questões pede e merece reflexões profundas. Assim, para maior clarificação, sugiro que medite sobre estes dois temas:

1. porque é que cerca de 2 milhões de pessoas, ou alguém por elas, pagam seguros de saúde ?

2. serão os "hospitais privados" os maiores e melhores negócios privados alimentados pelo SNS ?

saudações
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De Sofia Loureiro dos Santos a 08.12.2008 às 21:42

Fernando Penim Redondo
Tem toda a razão. Este tio de questões deve ser profundamente analisado. Não foi isso que pretendi com o post , penas chamar a atenção para o assunto.

Quanto às suas questões:
1 - as pessoas pagam seguros de saúde, na sua enorme maioria, porque há uma grande atraso no acesso aos cuidados de saúde no SNS.
2 - Não, não acho que o sejam e espero que nunca o sejam.

Mas penso que a acessibilidade aos cuidados de saúde só se resolverão com uma reforma do SNS. É bom que fique claro que não tenho rigorosamente nada contra as instituições de saúde privadas. Mas será que os HPP estavam a pensar na rede oncológica quando abriram?
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De Ana Pereira a 08.12.2008 às 21:38

A maior parte dos seguros de saúde são feitos pelas empresas aos seus empregados.Quando saem ou se reformam deixam de ter seguro.
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De Carlos Farinha(o anónimo anterior) a 08.12.2008 às 21:57

Eu apelava ao voto em qualquer Partido menos no que actualmente está no poder
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De Sofia Loureiro dos Santos a 08.12.2008 às 22:02

Isso já é diferente. Precisamente é essa a vantagem da democracia. Cada um faz campanha por aqueles que melhor acha que defendem os interesses do país.
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De Carlos Farinha a 08.12.2008 às 23:12

Tenho muito receio que estejamos a perder a nossa identidade nacional, vejo os portugueses contra portugueses, é por isso que não subscrevo muito criticas mútuas
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De Anónimo a 08.12.2008 às 23:17

Passei por isso tudo. A minha mulher teve um problema oncológico grave. Foi para um privado convencida que o seguro pagava tudo. Um dia, ameio de um tratamento de quimio e radioterapia, recebeu uma carta do hospital informando-a que se não pagasse 15.000 euros até ao fim da semana os tratamentos seriam interrompidos. Consegui esse dinheiro, junto da banca e de amigos. Assim que pude, mudei-a para um hospital do SNS. Infelizmente já era tarde. Mas fiquei com a sensação que o hospital, além do dinheiro, não lhe interssava casos de desfecho incómodo.
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De António de Almeida a 09.12.2008 às 17:56

porque é que cerca de 2 milhões de pessoas, ou alguém por elas, pagam seguros de saúde ?

-Permita-me responder à pergunta acima colocada, porque sou dos portugueses que paga (do seu bolso) seguro de saúde (por ser obrigado a descontar para a seg. social, pago em dobro).
-Há cerca de 8 anos desloquei-me á urgência em Sta Maria, fui diagnosticado e assistido, sendo remetido para consulta externa, a fim de realizar uma possível cirurgia. Desloquei-me à consulta externa no dia marcado, a consulta era ás 9H, mas por volta das 11,30 ainda tinha várias pessoas à minha frente (tendo eu chegado ao Hospital ás 8H30M). Para mais sabia que ia para lista de espera na referida cirurgia (não era caso urgente, mas incomodativo, podendo a lista de espera demorar de 1 a 2 anos). Pois bem, recorri à seguradora, tive consulta (aliás várias, para além de exames complementares), nunca esperei mais de meia hora para entrar num gabinete médico (tempo também é dinheiro), e 4 meses depois fui operado (no dia por mim escolhido, deu inclusivamente para programar com a agenda profissional a melhor altura). Não está em causa o profissionalismo e a dedicação dos profissionais do SNS (muitos são os mesmos), mas um sistema. Fará sentido que para realizar uma simples análise tenha que ir ao posto médico marcar uma consulta para daqui a 2 meses?

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