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Namoro

por Sofia Loureiro dos Santos, em 06.12.08

Não sei qual é a melhor canção de amor. Mas esta é uma das melhores.

 

 

 

 

 

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando
de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas

 

Sua pele macia - era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce - como o maboque...
Seus seios, laranjas - laranjas do Loje
seus dentes... - marfim...
 

Mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou:
"Por ti sofre o meu coração"
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou

 

Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo, rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigenia,
me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não.

 

Levei à Avo Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou.

 

Esperei-a de tarde, à porta da fabrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficamos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor... e ela disse que não.

 

Andei barbudo, sujo e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
"- Não viu... (ai, não viu...?) não viu Benjamim?"
E perdido me deram no morro da Samba.

 

Para me distrair
levaram-me ao baile do Sô Januario
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso
as moças mais lindas do Bairro Operário.

 

Tocaram uma rumba - dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí Benjamim !"
Olhei-a nos olhos - sorriu para mim
pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim.

 

(poema de Viriato da Cruz; canta Fausto)

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publicado às 12:48


9 comentários

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De FG a 06.12.2008 às 14:07

Excelente escolha.
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De mdsol a 06.12.2008 às 16:56

Aí Benjamim... E ela disse que sim, e ela disse que sim...

Claro que é uma belíssima canção de amor! Já a "postei em tempos" e, "no meu tempo, ouvi-a (quer na versão do Fausto como na do Sérgio Godinho) vezes sem conta.
Belíssima escolha!

:))
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De Transdisciplinar a 06.12.2008 às 17:20

Não conhecia . Lindo !
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De Sonhadora-T a 06.12.2008 às 20:44

É bonita, sim senhora.

Parabéns pelo destaque.

Visite o meu cantinho.

Sonhadora-T
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De Cristina Loureiro dos Santos a 06.12.2008 às 21:13

É muito, muito linda, sim! Um clássico das canções românticas, concordo contigo.
Adoro!

As melhoras, muito mel e limão, mistura e toma às colheres lolol
Beijinhos :)
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De Isabel Sanchez a 06.12.2008 às 23:07

Sim, sem duvida das melhores :D
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De Sofia Loureiro dos Santos a 07.12.2008 às 20:02

Parece que anda por aí uma espécie de cadeia blogosférica sobre canções de amor. Vou postando alguma das minhas preferidas.
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De António Viriato a 08.12.2008 às 15:59

Sempre me encantou este poema do angolano Viriato da Cruz, onde está bem patente a fusão da cultura portuguesa com a angolana, pese a vontade de uns e de outros dos seus representantes.

Tal como o Monangambé, de outro poeta angolano, salvo erro, António Jacinto, ambos muito cantados aqui em Portugal, nos anos de brasa de 1974/75, estes belos poemas transcendem a sua época e até os motivos que levaram os seus autores a produzi-los.

Quem serão hoje os de «barriga grande» em Angola, os que têm Mercedez ? E para que motores trabalharão hoje «as cabeças de pretos» ?

Por vezes, a História é perversa, na sua sinuosa Justiça...

Felicitações pelo êxito do Blogue, com os seus mais de 100 000 visitantes.
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De Sofia Loureiro dos Santos a 08.12.2008 às 17:35

Descobri há muito pouco tempo que este poema era de Viriato da Cruz. E também não sabia que Monangambé era de António Jacinto, para mim um autor desconhecido. Vou tentar conhecer.

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