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Que Europa queremos?

por Sofia Loureiro dos Santos, em 18.06.08

O resultado do referendo ao Tratado de Lisboa tem sido muito comentado por várias pessoas, entre as quais Luís Naves, do Corta-fitas, que sempre se debruçou seriamente sobre a construção da nova Europa.

 

Do seu último post sobre o assunto, tenho a comentar que:

 

(...) Com as actuais instituições, a Europa não irá a lado nenhum, porque não funciona. Tentei explicar com um exemplo que devia ser clássico: no tratado de Nice, o trio composto por Lituânia, Bulgária e Portugal tem os mesmos votos que a Alemanha no Conselho Europeu, o órgão máximo. Isto é IRREALISTA; no novo tratado, o equilíbrio de poder favorece a Alemanha, pois esta tem 82 milhões de habitantes, contra os 22 milhões do trio anteriormente referido. A regra da população é a mais democrática e permitirá que a máquina tenha ambição. (...)

 

O argumento do número de habitantes em vez do número de países, para se avaliar da democraticidade e dos equilíbrios de poder, esquece que a União Europeia não é um país nem um Estado soberano. Ou seja, são os Estados independentes que devem ser colocados em pé de igualdade e não a soma dos habitantes de cada país.

 

(...) No tratado de Lisboa é sobretudo importante o novo equilíbrio de poder entre Estados (que repõe o domínio dos grandes existente antes do alargamento) e a expansão das decisões por maioria qualificada. Em resumo, a UE terá maior facilidade em legislar e o equilíbrio de poder é definido segundo o critério da dimensão populacional. (...)

 

Mais uma vez o critério da maioria populacional. Por outro lado as decisões por maioria qualificada de número de Estados, com tão grande número de Estados, pode ser facilitdora.

 

(...) Todos manifestam a mesma desconfiança em relação a governos que negociaram o tratado e a mesma ideia (a meu ver errada) de que só um referendo é democrático. (...)

 

A desconfiança existe e tem razão de ser. Em primeiro lugar é tão democrática a ratificação no Parlamento como em referendo. O que já não é democrático é a não realização de referendo pelo receio da rejeição, já não falando na quebra de promessas eleitorais. Não houve qualquer cuidado em tentar fazer campanha a favor da bondade deste tratado, mas houve todas as cautelas para evitar os referendos. Isso é que me parece pouco democraático.

 

(...) Esta é uma concepção de Europa muito específica, uma gigantesca zona de comércio livre com o mínimo de órgãos e políticas comuns. (...)

 

E será que os cidadãos europeus querem ou sentem necessidade de ter uma Europa diferente? Já alguém se deu ao trabalho de os convencer que o aprofundamento político é melhor que a manutenção de uma gigantesca zona de comércio?

 

(...) Na minha opinião, esta é a discussão que interessa ter. Que Europa queremos. (...)
 

Concordo totalmente. Mas essa é a discussão que nenhum patido político quer ter. E é isso que faz com que as opiniões públicas desconfiem destes tratados.

 

 

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publicado às 22:45


6 comentários

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De impaciente a 19.06.2008 às 02:15

Nada me move contra a Alemanha (e ainda menos a favor) mas chamarem ao Tratado do IV Reich - Tratado de Lisboa, para dourar a pílula, é que me aborrece!
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De Luís Naves a 19.06.2008 às 10:35

sofia, agradeço muito as referências e a crítica. o primeiro excerto é matéria de facto. o segundo excerto é o importante, pois resume a natureza do novo tratado. houve uma alteração na forma como o conselho europeu chega às decisões: antes, cada país tinha um determinado número de votos, o que beneficiava os pequenos, passando-se a um critério populacional, o que repõe o poder dos maiores. no antigo sistema, um grupo de países pequenos podia bloquear decisões. os bloqueios são agora mais fáceis para uma coligação de grandes. uma última nota: a quarta citação corresponde à visão de vaclav klaus e david cameron, um líder liberal e outro conservador. não é a minha e penso que poucos europeus concordam com ela.
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De Transdisciplinar a 19.06.2008 às 10:50

É mesmo essa discussão que interessa ter !
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De lino a 19.06.2008 às 18:30

Excelente posta! Agora, até os gringos já "arrotam postas de pescada" (da número 99 e congelada desde que há a técnica de congelação) acerca do não dos duendes saltitantes.
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De Lobo das Estepes a 20.06.2008 às 10:08

A desconfiança existe e tem razão de ser. Em "primeiro lugar é tão democrática a ratificação no Parlamento como em referendo. O que já não é democrático é a não realização de referendo pelo receio da rejeição, já não falando na quebra de promessas eleitorais. Não houve qualquer cuidado em tentar fazer campanha a favor da bondade deste tratado, mas houve todas as cautelas para evitar os referendos. Isso é que me parece pouco democrático ."
Permito-me discordar de si Sofia, pois como ambos sabemos, o parlamento apesar de ser constituído por deputados eleitos, isto é por representantes do povo, na realidade pautam a sua acção pela fidelidade ao grupo partidário a que pertencem, sim porque partido etimologicamente quer dizer mesmo isso Grupo. Pelo que, o referendo tem uma carga democrática maior que o parlamento. E se remontarmos à origem da democracia, ou seja ao sentido primitivo do conceito, democracia significa todas as decisões da comunidade serem decididas pelos membros dessa comunidade sem intermediários, repito sem intermediários. Claro está, salvo nos cantões suíços , a democracia na sua pureza é impraticável nos Estados modernos, logo o referendo será o que ainda mantém uns certos laivos dessa democracia.

Um post bastante pertinente o seu

Desejo-te um fim de semana solar

Fernando

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De Sofia Loureiro dos Santos a 21.06.2008 às 12:08

Em teoria e no limite a "melhor" e a mais "pura" democracia é a directa e é uma utopia inalcançável. Eu aceito a democracia participativa. Mas há matérias que não se devem esgotar no Parlamento e, principalmente, quando isso foi matéria de compromisso eleitoral.

Bom fim-de-semana, Fernando.

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