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Jornalismo

por Sofia Loureiro dos Santos, em 21.07.06

Quem tenha visto ontem, na RTP1, a peça sobre o debate parlamentar com a Ministra da Educação teria ficado exactamente na mesma no que diz respeito às razões pelas quais tinha decidido repetir duas provas. Teria visto que a justificação seria a existência de péssimos resultados e teria ouvido excertos das intervenções dos deputados da oposição que lhe chamaram incompetente e arrogante.

Não tive oportunidade de ver as reportagens dos outros canais generalistas, mas deduzo que devem ter sido semelhantes, pois na maioria dos casos assim é. Há uma espécie de cartelização dos telejornais.

Quem, como eu, viu as duas coisas, não pode deixar de ficar perplexa e muito preocupada com a forma como a informação é manipulada.

A omissão de informação é tanto ou mais grave que a sua deturpação pura e simples. Os jornalistas têm a função de servir informação para que quem a lê possa cruzar dados e pensar com e sobre eles. O poder dos media é enorme e exige uma enorme responsabilidade assim como um enorme profissionalismo.

Neste momento o que interessa ao jornalismo televisivo é o aproveitamento de alguns momentos histriónicos, cómicos ou trágicos que prendam a atenção dos espectadores, sem qualquer preocupação de rigor, explicação ou esclarecimento. O tempo disponível para debitar frases ou imagens é curto, e de uma notícia salta-se para outra, mais espectacular que a primeira.

O que mais me impressiona é que esta manipulação de informação não é ditada por qualquer ideologia. É apenas ditada pelo imediatismo, pelo controlo de audiências e pela tentativa de cativar novos espectadores.

Os partidos políticos e os governantes já se habituaram a esta ditadura comunicacional e tendem a governar, não com programas e objectivos, mas com aquilo que fica bem no telejornal das 20:00, para quem os julga de imediato, ou seja, os vários jornalistas / comentadores que se passeiam de um para outro canal, explicando a quem ouve o que deve pensar.

Isto é menos verdade no jornalismo escrito, em que a escolha é maior. No entanto, conforme alerta Fernanda Câncio no seu
artigo de hoje, a imprensa escrita está a cair no mesmo erro, reduzindo as notícias a alguns títulos, servindo-as sem peles nem caroço para melhor serem deglutidas.

A informação livre é um dos pilares da democracia. Que liberdade de informação é esta se temos um filtro ditado pelas leis das audiências e do espectáculo? Como se pode assegurar que o que vemos e ouvimos corresponde, de facto, ao que se passa? Quais são os deveres profissionais e éticos dos jornalistas, quem os regula e controla?

Como em todas as profissões há bons e maus profissionais. Como todas as corporações, esta assume a defesa de atitudes e situações indefensáveis, considerando-se acima de qualquer crítica. Como noutras profissões, a auto regulação não funciona, sindicatos, ordens e outros organismos perpetuam e amplificam o autismo corporativo.

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publicado às 12:26



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