por Sofia Loureiro dos Santos, em 05.08.07
Ainda sobre Dalila Rodrigues.
Dalila Rodrigues foi nomeada para uma comissão de serviço de 3 anos como directora do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), na vigência da anterior Ministra da Cultura, Maria João Burstoff, em Setembro de 2004.
Parece que não restam dúvidas de que exerceu esse cargo com empenhamento e competência, a julgar pela avaliação que dela faz o próprio director do Instituto de Museus e Conservação (IMC), Manuel Bairrão Oleiro.
Por ser um cargo temporário e de nomeação, está sujeito à confiança política de quem a nomeia. Neste caso à Ministra da Cultura actual (que, ela sim, deveria ter dito já qualquer coisa sobre esta polémica) ou, mais directamente, do director do IMC.
Acho admirável como é que uma pessoa que declarada e publicamente se manifesta contra a nova lei orgânica do IMC, que é, aliás, um direito que lhe assiste, espera poder ser reconduzida no cargo de directora do MNAA. Acho ainda mais extraordinário que se sinta perseguida por tal facto e que tenha ficado surpreendida.
Em primeiro lugar ficámos a saber que a renovação das comissões de serviço são obrigatórias. Depois ficámos também a saber que, embora as pessoas declarem publicamente que discordam da política do governo, neste caso de um ínfimo pormenor como é a lei orgânica do organismo que tutela directamente a estrutura a dirigir, devem sacrificar-se a concretizar políticas de que discordam, ou com meios que consideram inadequados.
A liberdade de expressão é um direito, o assumir as responsabilidades das suas posições políticas é um dever. Dalila Rodrigues não foi demitida, nem foi castigada, apenas não vai cumprir mais uma comissão de serviço como directora de um Museu, que se regerá por regras com que ela não concorda.
Se Manuel Bairrão Oleiro decidiu bem, isso é o que será avaliado daqui para a frente.
Quanto ao abaixo-assinado subscrito por 16 directores de museus nacionais, que se demarcaram da posição de Dalila Rodrigues, tem o mesmo significado que outros abaixo-assinados subscritos por outras pessoas, sobre os mais diversos assuntos. A conclusão de que esses directores estariam a defender os seus lugares é, no mínimo, extremamente deselegante, como Dalila Rodrigues insinua, a respeito dos seus ex-homólogos. Será Dalila Rodrigues mais honesta, mais sincera e mais competente que os directores dos outros museus, apenas porque tem uma opinião contrária à da tutela? Adenda: tenho muita pena de não ter acesso ao documento subscrito pelos 16 directores, pois não gosto muito de ler notícias com bocados escolhidos; gosto mais de escolher eu.