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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Vincent Van Gogh
Tenho uma casa assombrada
Pelos ecos do passado
A verdade abandonada
O poema censurado
Tenho uma casa cinzenta
Com ramos de realidade
Onde se guarda e sustenta
O fogo da liberdade
Tenho uma casa encantada
De armas que se calaram
De ventos na madrugada
De mãos que não se negaram
Tenho uma casa encarnada
Para quem quiser entrar
Seja o fim da caminhada
Seja a voz a desfilar
Tenho uma casa vestida
Dos cravos que inventamos
Flutuam pela avenida
No futuro que criamos
Vincent Van Gogh
À medida que os anos passam, os deserdados da democracia vão perdendo vergonha e ganhando terreno.
A decisão do governo relativamente às comemorações dos 51 anos do 25 de Abril de 1974 e aos 50 anos das eleições para a Assembleia Constituinte deveriam ser uma prioridade de toas as Instituições Democráticas, não só pela celebração da alegria da libertação e pelo reconhecimento do tanto que o País se desenvolveu, como também pela alegria e necessidade de transmitir a quem nasceu já depois dessas datas, aquilo que de mais importante, precioso e delicado existe: a democracia, a liberdade, a igualdade e a solidariedade.
Todos estes conceitos são cada vez mais desprezados, se não denegridos pelas crescentes forças autoritárias, ignorantes e ditatoriais, de ditadores e/ou dos seus aprendizes.
É muito importante e urgente que não deixemos que o medo, o desinteresse, a amargura e a desilusão se instalem.
Desçamos a Avenida celebrando a Liberdade, com cravos, com turbantes, com mantos, com o que quisermos, de preferência bem vermelho.
Viva a Liberdade!
Alfazema
1.
Concentrar a vida em alfazema
A sua cor perfume capacidade de serenar
A possibilidade de encher o vazio instalado
A metade que falta de colorir a inquietude
E o negrume das sombras
Concentrar a vida nas pequenas e fugazes
Alegrias no abraço inesperado nas raras sensações de realização
Janelas e suaves cantares de aves
O murmúrio aconchegante de outros ocupando lentamente
A aridez à minha volta
Concentro-me em respirar
Na cumplicidade muda
Da flor
2.
São sinais de roxo mantos
Lençóis de penitência
No pecado do esquecimento
É preferível o vermelho da liberdade
O verde da aventura
Nem roxo nem paixão
Aventura
A Trump não chega uma sociedade americana amalgamada em gente sem escrúpulos, preconceituosa, odiando minorias e comportamentos fora da norma, xenófoba, racista, hiper nacionalista, violenta e ignorante.
Trump quer estender o seu autoritarismo e a distorção com que olha para a vida e o mundo, em que o poder é o dinheiro - tudo se compra e tudo se vende - e o encerramento de muros, reais ou virtuais, a todas as empresas que tenham interacção com os EUA, pela obrigação de impedirem qualquer política de diversidade. Todas as embaixadas dos países da UE estão a receber cartas para que as essas empresas certifiquem que "não operam quaisquer programas que promovam a DEI que violem as leis contra a discriminação".
É difícil de entender tudo isto. Mas não podemos invocar surpresa, pois Trump anunciou tonitruante os seus objectivos.
Se não houver um cerrar de fileiras de todos os países que reconhecem a loucura, Trump vai conseguir o que quer.
A palavra resistência deve ser a bandeira das democracias e daqueles que defendem a Liberdade e os Direitos Humanos.
Tree Branch Chair
Mike Just
Por mais que tentasse, acontecia sempre. Nunca o que comprava, diretamente ou por encomenda, vinha totalmente em condições. Por muito que planeasse, medisse, remedisse, anotando cuidadosa e criteriosamente tudo o que queria e observava, tudo o que poderia eventualmente correr mal, nunca conseguia a plenitude da perfeição.
Uma gaveta relutante ao abrir e fechar, um móvel desequilibrado com uma perna ligeiramente mais estendida, uma cómoda que ultrapassa o seu lugar na parede, obrigando o espelho a desviar-se do centro, um outro com varões altos e direitos, em vez de carinhosamente à mão, uma secretária com rolamentos avariados, enfim, as imperfeições do Universo iam-se juntando à sua volta.
Há pessoas assim, elas próprias com qualquer coisa de diferente, assimétrico, desencontrado. Uma perna ligeiramente mais curta, um braço que ficou enfraquecido, uma boca torta, o cabelo em desalinho.
Tudo se revoltava, na sua vida. Até o amor, decepado e retirado abruptamente, transbordante de felicidade ou doloroso de profunda tristeza, até o amor se desconjuntava ao abraçar quem tanto queria, com um dos lados da alma mais nevoenta que a outra, como os brinquedos que fazia a desfazerem-se sem nexo, as viagens que sonhava a fugirem sem regressar.
Na verdade, nada no mundo é previsível.
E tudo se constrói ou desmorona em poucos segundos.
A forma como somos manipulados pela informação, feita por jornalistas credenciados, é triste e afasta, cada vez mais, os cidadãos dos media tradicionais. Na verdade, começam a ficar muito parecidos com a "informação" das redes sociais. Perigoso, muito perigoso.
Vem isto a propósito da forma como se insinua sem o afirmar, que a melhoria do ranking de uma escola pública está associada à proibição do uso de telemóveis pelos alunos, desde janeiro deste ano. Ou seja, há cerca de 3 meses.
"Escola pública que lidera 'ranking' com melhor média de exames proibiu telemóveis em janeiro"
Está, portanto, instalada a certeza de que os smartphones são uma desgraça para os alunos, razão e explicação de tantos problemas, desde o aproveitamento escolar à violência entre jovens.
Em termos de declaração de interesses, tendo imenso a concordar com esta opinião. Mas convém explorarmos o tópico, antes de tentarmos ligar uma coisa à outra, sem qualquer juízo crítico. Isso deveria ser uma prioridade no trabalho jornalístico, mas não é.
Como exemplo, cito um artigo publicado em setembro de 2024, no Journal of Psychologists and Counsellors in Schools, cujas autoras (Marilyn Campbell e Elizabeth Edwards) fizeram uma revisão da literatura sobre o tema (total de artigos encontrados n=1317, total estudado após critérios de exclusão n=22), realizados em múltiplos países: Bermudas, China, República Checa, Gana, Malawi, Noruega, África do Sul, Espanha, Suécia, Tailândia, Reino Unido e Estados Unidos da América. Concluíram que há muito poucas evidências, se não nenhumas, sobre o efeito que a ausência de telemóveis nas escolas resulte na melhoria do rendimento escolar, saúde mental e cyberbulling. Mais concluíram uma significativa falta de evidências que suportem decisões fundamentadas (retirar ou não os telemóveis do espaço escolar).
Noutro artigo mais recente (fevereiro de 2025), na revista The Lancet Regional Health - Europe, conclui-se não haver evidências que as políticas restritivas, em relação ao uso de telemóveis e redes sociais, que associem o seu uso a melhor saúde mental.
A manipulação e incompetência dos jornalistas, a preguiça ou a intenção de enganar e induzir comportamentos, instalou-se. É cada vez mais difícil destrinçar a verdade verdadeira das meias verdades ou mentiras com que somos continuamente inundados.
Não significa isto que não haja mais estudos que digam o contrário, ou que não sejam necessários muitos mais. Mas ligar 3 meses de ausência de telemóveis a melhoria no ranking é, manifestamente, desonesto e abusivo.
Sugestões:
Uso de telemóveis no Espaço Escolar: revisão da Literatura e Orientações Práticas
Swallow
1.
De repente recomeçam as angústias
Incertezas vestidas de certezas
Própria não é a vontade
Nos espaços vividos e imaginados
Apertam-se cercos muros
Desfazem-se corpos palavras
Obrigam-se olhos a varrer o chão
Aves sem asas nem bicos
Perdem a cor e o rumo
De repente reiniciam-se gestos
Sussurros códigos esperança
No urgente regresso da liberdade
2.
Na pesca respeitamos o peixe
No mar urdimos a rede
Para que a captura
Não se confunda com traição
Na caça respeitamos a lebre
Limpamos a arma os passos sedosos
Cuidamos das fugas
Das cruéis armadilhas
Nada evitamos na alma humana
Desde que receemos pela sobrevivência
E difícil acreditar que algum dia os Estados Unidos da América se transformariam numa ditadura.
É muito difícil aceitar que um dos mais importantes e significativos baluartes da Liberdade resvala para uma sociedade fechada, sem liberdade de imprensa, sem separação de poderes, sem garantias de igualdade ou justiça para os seus cidadãos, sem qualquer pejo em usar a força para deter e violentar pessoas que tenham a ousadia de mostrar opiniões diferentes, que proíbe livros, palavras, conceitos, que transforma a ciência em ideologia, que dizima o Departamento da Educação, que ameaça países de compra e/ou invasão, sem qualquer respeito pelo direito internacional, pelo direito dos povos à autodeterminação, que rasga a Constituição dos EUA.
Putin invadiu a Ucrânia. Irá Trump invadir a Gronelândia, anexar o Canadá?
Que ninguém diga que não sabia. Trump e os seus apaniguados foram suficientemente claros. O projecto 2025 está a ser rapidamente implementado.
É muito difícil assumir a realidade, os EUA a fazerem-nos regressar aos anos 30 do século XX. Mas assim é.
As nuvens adensam-se. Estaremos ainda a tempo de evitar maiores e piores males?
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