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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Por muito que se esforcem os cabeleireiros, os cabelos são imprevisíveis.
Albert Einstein
Seremos as pregadeiras
Do mundo que nos calhar
Como pedras parideiras
Devotos mas sem altar
Serão os dias de flor
Sem cantos nem oração
Bálsamo que acalma a dor
Das feridas da paixão
E os abismos da tormenta
Que arrefecem madrugadas
Com salpicos de água benta
Serão asas prateadas
Seremos de terra e bruma
Anéis de vento e de mar
Nas vagas de amor e espuma
Sem medo de navegar
[17/Julho/2022]
A Bundle of Nerves Sculpture
Esta ansiedade palpável
Com que me deito e levanto
Numa correria instável
Com que atraso e adianto
Os segundos sem ponteiros
De um tempo reversível
Os relógios desordeiros
De uma calma impossível
Esta fase treme e louca
De noitadas em vigília
Vira noites sem boca
E faz ranger a mobília
Vem a manhã corrompida
De cansaço inundada
Lembrar ao corpo que a vida
Acorda de madrugada
Salvador Dalí
Neste manto liquefeito
De névoa quente e cinzenta
Procuro o ar rarefeito
Em que a vida se fragmenta
No pó parado e suspenso
De um sono intermitente
Um vago ardor de incenso
Um langor inconsciente
Calo o Bach e a flauta
A luz o olho o mundo
Na melodia sem pauta
Apago-me num segundo
Sisyphus
Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
[Miguel Torga]
Deixo um vídeo que conta a história de Romaria, de Renato Teixeira, e algumas informações sobre Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
É de sonho e de pó
O destino de um só
Feito eu perdido em pensamentos
Sobre o meu cavalo
É de laço e de nó
De gibeira o jiló
Dessa vida cumprida a sol
Sou caipira pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura
E funda o trem da minha vida
Sou caipira pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura
E funda o trem da minha vida
O meu pai foi peão
Minha mãe, solidão
Meus irmãos perderam-se na vida
A custa de aventuras
Descasei, joguei
Investi, desisti
Se há sorte eu não sei, nunca vi
Sou caipira pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura
E funda o trem da minha vida
Sou caipira pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura
E funda o trem da minha vida
Me disseram, porém
Que eu viesse aqui
Pra pedir de romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar, meu olhar
Sou caipira pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura
E funda o trem da minha vida
Sou caipira pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura
E funda o trem da minha vida
Sou caipira pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Não sei se é resultado da pandemia se é apenas do passar dos anos e do encolher do corpo, das ideias, do mundo à nossa volta, do ensimesmamento a que nos votamos, da cada vez maior incapacidade de cumprir o assumimos como dever, a verdade é que sinto um cada vez maior isolamento.
A todos os níveis – familiar e profissional – e com todas as gerações. Vamos trocando mensagens, alguns telefonemas ou vídeo conferências, mas a vontade de estar junto, os abraços que foram banidos do nosso quotidiano, a moralização da pandemia com a instalação da culpa, tudo contribui para que estejamos cada vez mais sós.
E por isso as raras ocasiões em que se quebra esse hábito, viciante e desolador, fica um gosto bom de aconchego e carinho, aquele sentimento que perdura quando estar com alguém é um bem muito importante.
E como acontece desde tempos imemoriais, as refeições são uma boa razão para o convívio, a troca de ideias, o riso, a partilha de histórias. Começa-se por uma sangria de champanhe com frutos secos, continua-se com uma sardinhada, um naco na pedra, uns lagartos grelhados, os diversos e profusos brindes com os obrigatórios copos a baterem uns nos outros, melodia inconfundível de um almoço entre amigos.
Vivemos tempos em que aquilo que é mais essencial ao Homem, a sua sociabilidade, a sua necessidade de amar e ser amado, o toque das mãos, o sorriso, o olhar, a expressão facial, é agora uma memória que teima em ser enterrada, em nome de uma assépsia e de uma incrível nova ordem da esterilização da pele, do ar, do mundo.
Para além das ameaças bem reais que nos cercam, fabricamos mais medo e terror para nos transformarmos em gente que não se atreve a amar e que já se esqueceu do que era pensar nos outros e não em si mesmo.
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