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E o mar aqui tão perto

por Sofia Loureiro dos Santos, em 28.06.22

rocha 2.jpg

E o mar aqui tão perto.

Mesmo com a angústia da guerra, com o tempo que vai escasseando para a realização dos sonhos, com a tristeza das várias nostalgias, resta-nos o mar, a fuga e o encontro da lonjura, dos outros, de mais.

E o mar aqui tão perto.

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publicado às 16:55

Santo António de Lisboa

por Sofia Loureiro dos Santos, em 13.06.22

santo antonio de lisboa.jpg

Teresinha Sousa

 

Santo António de Lisboa

Vem cá ver o que isto é

Comer sardinha com broa

Beber vinho e água-pé

 

Não há febra nem sangria

Que nos cure a tradição

De lamentar a alegria

E louvar a maldição

 

Dar vivas ao vento agreste

Cantar como quem aguenta

Implorar ao pai celeste

Aprumo nesta tormenta

 

Somos bravos pacifistas

E guerreiros de um só dia

Solitários saudosistas

Bêbados de poesia

 

Oh meu querido santinho

Quero que sejas meu par

Ampara-me no caminho

Que ainda me falta andar

 

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publicado às 16:40

Discursos

por Sofia Loureiro dos Santos, em 11.06.22

speech bubble.jpg

Peech Bubble XII

Jürgen Drescher

 

Discursam discursos

Orelhas de abano

Cornetas de guerra

Orelhas de terra

Não saem da boca

Os dados quadrados

Movem-se na boca

Os sons desbotados

 

Discursos discursam

O povo envelhece

Palavra a palavra

O povo empobrece

 

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publicado às 10:07

10 de Junho de 2022

por Sofia Loureiro dos Santos, em 10.06.22

10 junho 2022.jpg

Oh Povo bom Povo

Tanto de ti se fala

Tão pouco por ti se faz

Tanto que o povo cala

Tanto que o silêncio trás

 

Oh Povo triste Povo

Tanto que de ti se pede

Tão pouco que a ti se dá

Vinho que não mata a sede

Os sonhos do que não há

 

Oh Povo grande Povo

Tão pouco de tanto guardas

Tanto do muito que perdes

Tanto em ser feliz tardas

Do tanto de ti que rendes

 

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publicado às 20:59

Paula Rego - exposição em Madrid

Republicação de 16 de Outubro de 2007

por Sofia Loureiro dos Santos, em 09.06.22

Salazar vomitando a Pátria – não se percebe bem o que é Salazar, o vómito ou a Pátria. Se calhar é esse mesmo o objectivo: não distinguir umas coisas das outras porque Salazar, a Pátria e o vómito, deviam ser sinónimos para Paula Rego.

salazar vomitando a patria.jpg

Salazar vomiting the Homeland – 1960

De um abstraccionismo estranho e aterrador, de um exílio de muitos olhos e muitas línguas, passa para uma pintura figurativa exímia, com proporções grotescas, intencionalmente absurdas, em que as mulheres são másculas, com braços curtos, cabeças e mãos enormes, expressões fechadas e, por vezes, quase demenciadas.

the-maids.jpg

The maids – 1987

As pinturas de Paula Rego vivem das histórias infantis, em que os personagens reais se transformam e adquirem animalescas figuras, animalescas atitudes e visões. Os adultos com a crueldade desses contos, com a ingenuidade simples e concreta das crianças. Em muitos quadros há várias cenas de uma peça que está a ser visionada, normalmente em planos diferentes, com dimensões diminutas ou cores esbatidas, escondidas em brinquedos ou peças de mobiliário.

Em raros quadros se nota alguma felicidade, com no quadro da dança ou no quadro da fuga para o Egipto. Neste último a figura masculina é preponderante e acolhedora, a feminina carinhosa, sem toque.

Os quadros que retratam as bailarinas são chocantes, pois as figuras a que estamos habituados a associar leveza e beleza, aparecem curtas, grossas, pesadas, desfeadas, em vestidos de cores fortes e escuras, tudo bizarro e violento.

war.jpg

War – 2003

Os últimos quadros retratam a velhice nas suas facetas mais cinzentas, ridículas, dependências e decadências de corpos, amarguras e solidões de almas.

repouso e fuga para egipto.jpg

O repouso na fuga para o Egipto – 1998

Interessantíssimos os estudos para os quadros, onde se percebem várias hipóteses antes da decisão, elas próprias séries espantosas, como as da dança, em que há alguns desenhos de corpos em dança satânica, tal como um quadro a preto e branco de diabos e outro sobre as bruxas e os seus bruxedos.


dancing .jpg

Dancing Ostriches from Disney’s Fantasia - 1995

Não sei como Paula Rego convive com ela própria, mas a quem olha o que ela pinta, o estômago, os nervos e a cabeça revolvem-se e transtornam.

É uma pintura visceral, e que provoca reacções viscerais. É espantosa.

scavengers.jpg

Scavengers – 1994

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publicado às 22:02

Nesta carta que te escrevo

por Sofia Loureiro dos Santos, em 07.06.22

letters.PNG

Ivan Djidjev

 

Nesta carta que te escrevo

Com tantas letras de espanto

Abro os dedos com enlevo

Como os versos que te canto

 

Mas a voz que me emudece

Numa angústia esculpida

Confiança que estremece

Como folha ressequida

 

Não aprende a esvoaçar

Enfrentando a ventania

Que pressinto nesse olhar

Que desfaz a poesia

 

Recolho então de mansinho

E dissolvo-me no ar

Das palavras faço um ninho

No vazio que é amar

 

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publicado às 16:45


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