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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
De mulher temos os ramos
por onde trepam angústias e segredos
e sofremos os ninhos
remendando asas e nuvens
de rosas e espinhos.
The Telegraph
As imagens entram pelos nossos olhos sem intervalos. A destruição o medo, os destroços, os estrondos, as lágrimas, o espanto, o indizível subitamente real e feroz.
Que fazer? Até onde e quando se poderá permitir a escalada?
Putin não vai parar. E nós a assistir.
Não sei muito bem como nem quando, mas todos vamos ser chamados a participar nesta guerra. A apoiar quem precisa. Se não for pior, haverá uma recessão económica mais grave e duradoura que aquelas que passámos.
Tristes tempos nos esperam.
No frenesim de apoiar os ucranianos, que defendem o seu país da invasão da Rússia, um estado ditatorial imposto por Putin, estão a atingir-se proporções assustadoras no que diz respeito à massificação do espectáculo que é a solidariedade e às boas intenções dos povos democráticos.
Mas, como em tudo, não há bons e maus, heróis e vilãos, por muito que seja isso o que a inundação mediática nos faz crer. O mundo livre, nomeadamente os países da União Europeia e os EUA, combate a Rússia, não os russos.
No mundo livre e democrático, ninguém deve ser obrigada a dizer quais as suas opções políticas. Ninguém deve ser perseguido pelas suas opiniões ou pelo silêncio sobre elas.
Considero uma aberração, compreensível, mas não deixando de o ser, as várias manifestações de bulling à comunidade russa portuguesa, tal como aos intelectuais que não se declaram contra a invasão e contra Putin. Num país em que o uso da palavra guerra é considerado traição, parece-me incrível que os corajosos intelectuais ocidentais, sentados confortavelmente nas suas sociedades livres e democráticas, julguem aqueles que pagam com a sua liberdade e a sua vida a manifestação de discordância perante o poder autocrático de um ditador.
Ainda por cima vindo de tantos que, por exemplo em Portugal e durante a ditadura, tiveram que assinar documentos em que negavam ser comunistas ou participar em actividades subversivas para que pudessem manter o emprego.
A liberdade deve ser para todos, de se manifestarem ou de não se manifestarem. Tenho as maiores dúvidas sobre os boicotes culturais e sobre a condenação de quem não expressa o que, subitamente, se tornou na nova verdade inquestionável e soberana. Tenho as maiores reticências à censura de canais de televisão e de agências de informação.
Tenho um enorme cepticismo sobre estas ondas mediáticas intensíssimas e fugazes, que se arriscam a soçobrar perante o peso do ruído omnipresente.
Tenho uma enorme desconfiança a tantos postos de trabalho já disponíveis a quem foge da guerra. Será que já se esqueceram dos médicos, engenheiros, professores, músicos e tantos outros técnicos qualificados que, durante anos, alimentaram a mão de obra barata da construção civil e do serviço doméstico, sem que o país lhes reconhecesse as competências e pudesse oferecer-lhes os empregos correspondentes às suas qualificações?
Há muita crueldade nestas ondas mediáticas de apoios, julgamentos e solidariedades, muitas vezes postiças e fúteis. Espero que esteja enganada, pois esta guerra vai durar e destruir ainda muitas vidas. E nós vamos esquecer depressa as boas intenções e regressar rapidamente às nossas vidas em que o medo do outro e o preconceito são reis.
A não ser que também façamos parte da destruição. E mesmo na dor e no sofrimento, a solidariedade é uma rara ocorrência.
Sting
In Europe and America there’s a growing feeling of hysteria
Conditioned to respond to all the threats
In the rhetorical speeches of the Soviets
Mister Krushchev said, “We will bury you”
I don’t subscribe to this point of view
It’d be such an ignorant thing to do
If the Russians love their children too
How can I save my little boy from Oppenheimer’s deadly toy?
There is no monopoly on common sense
On either side of the political fence
We share the same biology, regardless of ideology
Believe me when I say to you
I hope the Russians love their children too
There is no historical precedent
To put the words in the mouth of the president?
There’s no such thing as a winnable war
It’s a lie we don’t believe anymore
Mister Reagan says, “We will protect you”
I don’t subscribe to this point of view
Believe me when I say to you
I hope the Russians love their children too
We share the same biology, regardless of ideology
But what might save us, me and you
Is if the Russians love their children too
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