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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
No último dia de 2021 fazia um post assim titulado.
Há uma nuvem que perpassa por 2020 e 2021. Quase parece que os anos estão congelados, suspensos, tanto como suspendemos e congelámos as nossas vidas.
No último dia do último ano também tínhamos umas eleições perto. Essas previsíveis, enquanto as próximas o são menos.
Imprevisibilidade, é mesmo a palavra que me ocorre quando penso no ano de 2022.
Porque vou aprendendo, à medida que os anos passam, que tudo pode mudar de um momento para o outro, que o que sabemos certo pode transformar-se no incerto.
Perigosos tempos os que passamos.
Que sejamos felizes, É mesmo o que mais importa. Que sejamos felizes nós por fazermos felizes os outros.
Até para o ano.
Alguém me parabenizou com uma imagem de 60 pinguins.
Mesmo sem explicar o que esta piada privada significa, fica bem de ver que os 60 anos vierem ter comigo, ou eu deixei de fugir deles.
É realmente muito. Não sei porque são iguais aos 50 e, se calhar, também aos 40.
Os anos passam e eu sinto-me igual, com a excepção dos dias em que me sinto com 1000. Para mais, os últimos (2020 e este) não existem na minha mente, embora tenha a certeza de que irão perdurar na minha memória.
Muito obrigada a todos quantos se lembraram de mim, neste dia que acaba por ser sempre um marco, e ao qual atribuímos significados que, na maioria das vezes, não têm significado nenhum.
Para o ano haverá mais..... espero.
Olho para o dia como sucessão de segundos
cada qual mais longínquo e inatingível.
Deslaçado o corpo e dormente a alma
arrasto a vontade de alargar as brumas da noite
fumos cinzentos mantos pesados
uma diáfana impalpável realidade virtual
que vai protelando transferindo adiando
desde o imperceptível estremecer da madrugada.
A minha amiga Ana Marques Pereira é uma mulher extraordinária.
Não só como clínica, rigorosa, competente, empática, informada (tratam-se doentes, não doenças), com quem tive o privilégio e o prazer de trabalhar durante alguns anos, mas também como pessoa interessada na vida, na História, nos livros, nos manuscritos, na arquitectura, nos objectos, nos ingredientes, na indústria, enfim, em tudo o que se relacione com cozinhas, gastronomia e alimentação humana ao longo da História.
Interessada e interessante, consegue verter os seus conhecimentos para vários livros e conferências, cursos e palestras, com a animação de quem está a contar uma história policial, com a erudição e a simplicidade de quem sabe, de facto, muito.
Também com ela partilho o gosto pelos policiais e pelos heróis de Agatha Christie. Talvez esse gosto tenha sido uma das razões pela escolha da Medicina como profissão - a procura do diagnóstico através das várias pistas que são os sinais e os sintomas, o relacionar tudo isso, o conhecer o corpo e também a personalidade do doente que nos conta, saber escutar e fazer as perguntas certas.
Pois a Ana Marques Pereira lançou ontem mais um livro interessantíssimo - Cadernos de Dominguizo. É um livro que relata a forma como descobriu imensas coisas sobre uma abastada família da Beira Baixa (séc. XIX) através de 2 cadernos de receitas manuscritos, que tinha comprado há já bastante tempo.
Uma verdadeira história policial, cheia de pistas que se vão estudando e esgotando, cheia de conhecimento, referências, citações e explicações, bem contada, num livro lindo e muito bem feito.
Parabéns a ela e a quem com ela trabalhou para que o livro se transformasse numa realidade. E a Alexandra Prado Coelho que tão bem o comentou.
E não se esqueçam! Se também escreverem à mão as vossas receitas culinárias, não se esqueçam de as compilar, dar-lhes um título, assinarem e datarem!
Aqui está uma bela surpresa de Natal.
Arroz de frango ou de pato? De peru ou de marisco?
Arroz ou massa? Estrelinhas ou lacinhos? Ou esparguete?
Frango inteiro ou algumas partes? Cozido e desfiado ou guisado e inteiro?
Com legumes ou com chouriço? Com farinheira? Morcela? Ou com ervilhas e milho?
Com tomilho ou com coentros? Com salsa? Com aipo?
Mas que dúvidas existenciais.
Mas que indecisões incomensuráveis.
Mas que insatisfação inexcedível.
Inovemos:
Frango desnudo e desfeito, em cama de legumes variados e cogumelos, envolvido por arroz agulha e polvilhado de coentros.
Cozer muito bem 2 membros inferiores de frango e 2 peitos, sem peles, em água com sal, pimenta, aipo, cenoura, alho, louro e um pouco de cebola. Reservar o frango e coar a água.
Refogar cebola, alho, pimento vermelho, um pedacinho de gengibre, cogumelos, aipo, couve coração e um pouco de bacon em fatias, com azeite, sal e pimenta. Depois de tudo já bem refogado e ligado, deitar lá para dentro o frango desfiado, arroz agulha e a água de cozer o frango (a água é sempre o dobro do arroz).
Depois do arroz já pronto, polvilhar com coentros (afinal foi salsa) aos bocadinhos.
Servir e comer.
Marisa Monte & Jorge Drexler
Vento que levanta a onda
Que carrega o barco
Que ondula o mar
É o mesmo que vai dar na praia
Que levanta a saia
Rodada de oiá
Hay tiempos de andar contra el viento
Cuando el contratiempo comienza a soplar
Então o vento que é de aragem
Bate no varal pra me dar coragem
O vento que vem de longe
Quem sabe da fonte do vento solar
O vento que é o movimento do ar
Vamos levantar a vela
Abrir a janela
Ventilar a dor
Vamos a nombrar al viento
Celebrar su aliento
Purificador
Pampero, Terral, Tramontana,
Alisio, Santana, Siroco, Mistral
Levante, Minuano y Cierzo
Y mil más que el verso quisiera nombrar
Às vezes o vento muda
Sai batendo a porta faz tudo voar,
O vento é o temperamento do ar
Sopro
Sopra
Soprará
Sopro
Sopra
Soprará
Vento que levanta a onda
Que carrega o barco
Que ondula o mar
É o mesmo que vai dar na praia
Que levanta a saia
Rodada de oiá
Hay tiempos de andar contra el viento
Cuando el contratiempo comienza a soplar
Então o vento que é de aragem
Bate no varal pra me dar coragem
O vento que vem de longe
Quem sabe da fonte do vento solar
O vento que é o movimento do ar
Sopro
Sopra
Soprará
Soprará
Duas famílias que vivem lado a lado e que uma tragédia separa. No entanto, alguma coisa de muito forte as mantém unidas, ao longo dos anos em que não se vêem.
Uma história atravessada por uma imensa tristeza e melancolia, mas ao mesmo tempo de esperança, em que se celebra o amor como a cola dos cacos em que nos vamos transformando.
Gostei muito.
Não sei mesmo que sociedade estamos a construir.
O anúncio de Natal deste ano, da NOS, é bem exemplificativo de como incentivamos o desligar da realidade.
Nada serve, nada estimula, nada completa o desejo de uma criança (filha única, com pais a que não faltam recursos económicos, numa idílica casa no meio da neve) a não ser o que não há. Apenas com isso ela se satisfaz.
A perfeição do mundo está na nossa imaginação. Mas neste anúncio o mundo é um holograma do que não há.
Que mensagem é esta? Como a conseguimos incluir na retórica do Natal, para não dizer no espírito do mesmo?
Estranho. E assustador.
Desde ontem que esta frase não me sai da cabeça.
Ouvi-a, por acaso, num programa da Antena 1, a propósito do Natal, e foi dita por Joel Neto.
Nada de mais simples e difícil: a bondade.
Por isso urgente.
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