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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Ao meu lado ouço um relato muito mais colorido do que o da televisão.
Estamos todos a torcer pela vitória, nem que seja por 1 - 0, basta 1. Mas tem que entrar, não pode ser só 0 - 0! Perder é que não.
Vá lá, pessoal, que é mais fácil estar deste lado do que do vosso. Vamos ao ataaaaaaaque!!!!!
Se eu cheirasse a manjerico
Como bem cheira Lisboa
Dispensava o abanico
Que o calor desabotoa
Vou passando para a frente
E depois já volto atrás
Tenho uma pressa dormente
Alergia que o Sol trás
Nesta dança de rodar
Entra mão e entra pé
Não reparto com meu par
O meu bule de café
Vou marchar de manjerico
De mão dada com meu par
Pois que este namorico
Mal chegou que vai ficar
Champ de coquelicots près de Vétheuil
As imagens vão passando como um ruído de fundo. De vez em quando levanto os olhos e vejo um rosto, um olhar, um movimento de árvores, um barco que afunda, abelhas, alguém a vociferar. Baixo-os de novo para um qualquer canto do meu cérebro que cada vez se isola mais, se abstrai do mundo à volta e mergulha numa autossugestão, numa autodigestão, num lodo mais ou menos mole mais ou menos pardo, tudo mais ou menos.
Assim se está mais ou menos.
Ouço, vou ouvindo a cacofonia de opiniões estridentes. É tudo muito estridente, muito assertivo, muito repentino, muito oco. Tudo muito igual a sempre embora pareça muito diferente.
O que é mesmo diferente é o meu corpo, a forma como aprecio o silêncio e o aconchego de quem se ama.
Exatamente envelhecida. Apenas me renovo nas ideias que me contam, nas surpresas dos mundos por onde viajo, no surpreendente do que nos outros cuida e acarinha, no que os outros dão e se dão a tanta gente anónima, só porque sim, só porque é isso que sabem fazer, sem alarde nem publicidade, mas certo e certeiros, dia a dia, mês a mês, vida a vida.
As vidas que nos passam e nos tocam, outras que arranham, outras que passam ao largo.
As aventuras são contínuas mesmo na mediania do quotidiano. De vez em quando um sobressalto cósmico que muda tudo, mesmo sem mudar muito.
E assim se está mais do que menos, quando não menos que mais. Mas está-se.
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