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Compota de maçãs e laranjas

por Sofia Loureiro dos Santos, em 28.02.21

compota de laranja e maca.jpg

 

Mas enfim, no intervalo de tão maravilhosos e instrutivos programas, dá-me para criar compotas, cujas voltas e reviravoltas acabam por dar sempre no mesmo.

Desta vez juntei 1 Kg de maçã vermelha, já descascada e sem caroços, a 1 Kg de sumo e polpa de laranja e a 1 kg de açúcar amarelo.

Usei o espremedor de citrinos e aproveitei toda aquela polpa que fica ao espremer, pesei tudo até dar 1 Kg - foram 6 laranjas grandes e sumarentas. Deitei para um enorme tacho que só uso nestas ocasiões (já foi o tacho das feijoadas, em alturas de grandes aglomerados de pessoas que gostavam de comer e beber) e fui enchendo com os quartos das maçãs, para que não oxidassem (depois de pesar, claro); só parti aos bocadinhos depois. Para além do açúcar temperei com 4 cravinhos e 4 paus de canela.

Esteve bastante tempo ao lume. Quando começou a ligar reduzi a um puré grosseiro com a varinha mágica, depois de retirar a canela e o cravinho, e voltou ao lume, até fazer ponto de estrada.

Não está nada mal, a sério.

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publicado às 18:18

Para contornar a fadiga pandémica

por Sofia Loureiro dos Santos, em 28.02.21

forged-in-fire.png

A fartura de ouvir falar da pandemia, dos casos, dos mortos, dos hospitais, dos internamentos, das UCI, dos virologistas, dos jornalistas, é tanta, tanta, tanta, tanta, que estou fã dos mais inusitados programas televisivos.

É verdade. Descobri algumas pérolas que não perco.

Papo tudo o que tem a ver com obras e remodelações de casas. Estou catedrática em open concepts e em destruir paredes, daquelas de madeira e papelão, que fazem as delícias dos Property Brothers, do Love it or List it, ou de qualquer outro dos infindáveis modelos de mudar uma casa do dia para a noite – bem, é mais em 4 semanas – e fazer com que os felizes vendedores ou moradores se sintam em casas de revistas de decoração. Penso mesmo que nunca conseguirão usar tão fantásticas cozinhas, tão maravilhosos jardins e tão luxuosos ensuite bathrooms, para não estragarem nada.

Isto para não falar dos já velhos e ultrapassados programas de culinária – MasterChef, 24Kitchen e que mais haja, para miúdos e graúdos, que eu fico horas a aprender a fazer variados e espampanantes cozinhados, luxuriantes, sedosos, saudáveis, vegetarianos, asiáticos, portugueses, japoneses, italianos, tailandeses, mesmo que depois não ponha nada em prática. É só para me deliciar com os sabores e os aspectos, alguns truques que já incorporei (na cozinha tudo se incorpora), mas na maioria das vezes é apenas a sublimação de uma escrava de dietas.

Mas agora estou mais voltada para facas, facalhões, espadas, machados, setas, enfim, tudo o que corta, fere e mata.

Descobri, ou sejam deram-me a descobrir, um programa no canal História, que se chama Forged in Fire. O que tem isto a ver com História é um mistério, mas isso são ninharias e picuinhices, portanto ser do canal História, Odisseia ou Hollywood é a mesma coisa.

Ora esse programa não é mais que um MasterChef, mas de ferreiros.

O concurso consta de um grupo de ferreiros, profissionais ou amadores, ainda não percebi muito bem, que têm um determinado número de horas para fabricar uma faca. Há um júri, composto por 3 indivíduos, tanto quanto percebi experts em tudo o que corte, fira ou estripe, um com uns bigodes retorcidos, outro com um sorriso assustador e outro magrinho e com olhos alucinados. Há ainda o apresentador, que foi militar, com umas orelhas bastante proeminentes e uma pose marcial espectacular.

Habitualmente os concorrentes têm aspecto e arcaboiço condicentes com ferreiros: enormes nas várias dimensões corporais, muito frequentemente com adornos pilosos exuberantes, outras vezes de cabeças bastante rapadas. Mas o mais divertido é que são extremamente dóceis e polidos, aceitando sempre com grande urbanidade e desportivismo as críticas do júri e debandam depois das eliminações a que são sujeitos, sem usarem as ditas armas brancas que acabaram de fazer.

E muito espantada fico com a ciência e a enorme trabalheira por detrás de qualquer simples navalha. Há imensos tipos de metal, que se podem ir buscar a correntes de bicicleta ou a restos de tanques de guerra, que se misturam, aquecem e batem como o Cétautomatix do Astérix. Depois há a têmpera, que é o mergulho do metal incandescente em óleo, para que a lâmina fique dura. E ainda o cabo, todo um outro manancial de conhecimento e preparação, importantíssimo para o manejo da arma.

São habitualmente 4 concorrentes que vão sendo eliminados até ficarem 2. Esses têm depois uma semana para, na sua própria casa (forja), fabricarem uma arma icónica e histórica – talvez daí ser no canal História, quem sabe - que vai desde uma espada chinesa de tempos imemoriais a um machado com cachimbo dos índios americanos.

A final é entre esses 2 ferreiros e as suas obras são submetidas às provas mais inconcebíveis: bater em blocos de gelo, em troncos de madeira, cortar carcaças de porcos, furar e estripar bonecos feitos de gel balístico, cortar canos de água, enfim, tudo para ver se o gume aguenta, se o corte é limpo e se, no fim, como diz o jurado de sorriso assustador – your blade will kill.

Portanto para me afastar da paranóia da pandemia estou a transformar-me numa maníaca de facas – só espero que me mantenha tão contemplativa como com as opíparas refeições servidas e degustadas apenas com a imaginação.

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publicado às 16:02

Dos travesseiros, almofadas e almofadões

por Sofia Loureiro dos Santos, em 21.02.21

organic house.PNGJavier Senosiain

 

Por muito que a decoração esteja na moda, há sempre artigos que estão mais na moda que outros. E designs e concepts, tal como o afamado e omnipresente open concept que agora é apanágio de todas as obras de remodelação, em Nashville, Canadá, Austrália ou Portugal.

Cores garridas, toques de modernidade e de personalidade (o que significa deixar alguma coisa que lembre o clássico de há 30 anos), enfim, uma revolução total naquilo que era o nosso concept, normalmente mais close que open.

Pelo menos para mim. Aqui há dias espreitei um programa que se chama Casa Nova Vida Nova, em que um exuberante e feliz designer transformou uma sala totalmente clássica numa outra às riscas azuis, com cores tipo fato de marinheiro que, se fosse comigo, me levaria a um enfarte do miocárdio fulminante.

Além disso os open concept fazem-me sempre lembrar os grelhados a permanecer em toda a sala, a roupa a secar como decoração interior pós moderna e as vassouras e baldes como (pouco) atractivos adereços, para não falar na louça espalhada pelas bancadas e pelas ilhas.

Sou retrógrada, certo. Pelo menos para certas coisas.

Mas vou-me adaptando a algumas necessidades mais imediatas e mais práticas, tendendo cada vez mais para o minimalista. Em confinamento, no entanto, tudo tem acrescidos desafios. Desde que me montaram o bendito sommier que procuro incessantemente travesseiros, sejam eles de rolo ou mais achatados, para colocar à cabeceira da cama, ocupando o espaço entre o colchão e a parede.

Muito difícil está a tarefa. Há pouquíssimos travesseiros, mesmo que os sommiers sejam inúmeros. E os hotéis estão repletos de travesseiros e almofadões enormes. Mas online não consigo encontrar nada que me satisfaça. Ou há travesseiros sem fronha, ou as fronhas são muito maiores que os travesseiros, ou os almofadões não têm a dimensão correcta.

Obras, remodelações e mudanças dão cabo de mim. Nunca me apetece arrumar nada. Descobrem-se coisas que pensávamos perdidas, perdem-se outras que achávamos a salvo. A minha mesa de cabeceira, que não foi substituída, contém uns porta-retratos de há séculos que não consigo guardar. Vão ali ficando e pegando de estaca. Mas a verdade é que, por muito que pense que é desleixo, se calhar é o meu subconsciente a implorar-me para que alguma coisa faça a ponte entre o que era e o que agora é.

E não é nada fácil – ver o que fui, perceber o que sou e tentar encontrar um fio condutor entre ambas.

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publicado às 19:02

Branco

por Sofia Loureiro dos Santos, em 21.02.21

black and white.jpg

Ishibashi Yui

Não tenho por hábito olhar-me ao espelho. Não sei muito bem porquê, mas a pressa e o desinteresse são sempre dominantes. Por outro lado, nunca me achei bonita, por isso a motivação também não é grande.

Quando me olho atentamente é porque há alguma coisa próxima de preocupação de saúde – tenho algumas alergias e supervisiono manchas que se vão tornando mais notórias. Quando me vejo inadvertidamente há sempre uns segundos em que me pergunto quem é a pessoa à minha frente e, à medida que os anos passam, mais estranheza encontro nesse olhar.

Outro dia aconteceu um desses encontros de mim comigo. Após as obras de remodelação, a luz da casa de banho é muito melhor, mais branca e mais intensa. Descobri admirada que havia qualquer coisa brilhante que cintilava, espalhada pelo meu cabelo, que parecia um pó. Depois de ter sacudido rapidamente com a mão, percebi que não era pó cintilante, nem qualquer bocado de estuque que estivesse a desmoronar-se. Apenas os cabelos brancos que, num curto intervalo de tempo, se multiplicaram e se generalizam na minha cabeça.

Tornei a sacudir, com as duas mãos, alisando com os dedos o penteado despenteado que sempre uso, tentando disciplinar a finura e a revolução que quotidianamente se travam. Os brilhantes mudaram de lugar, mas lá continuam. Mesmo sem querer, durante uns meses parecerei penteada para festas inexistentes, até que haja mais branco e menos brilho na minha pessoa.

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publicado às 15:22

Nada de novo

por Sofia Loureiro dos Santos, em 20.02.21

Eleanor_Rigby.jpg

Tommy Steele

 

Tal como alguém me disse não há nada de novo

para além do que temos nada de belo nem obscuro

para além dos dedos que desenham a vida

concreta quotidiana lisa cinzenta.

O que me entristece é que trancaram até as rosas

que nunca semeei que espalharam pelo campo

o rumor da desistência que transformaram em nuvens

o grito estridente da solidão.

 

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publicado às 17:58

Can't stop the feeling

por Sofia Loureiro dos Santos, em 20.02.21

Justin Timberlake

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publicado às 10:20

Da mole humana

por Sofia Loureiro dos Santos, em 14.02.21

El Aquelarre Goya.jpg

Pinturas Negras

Francisco de Goya

 

A mole humana é tudo menos a divisão binária em bons e maus, mesmo que nisso tenhamos necessidade de acreditar.

As pessoas têm matizes e são também as suas circunstâncias. Além disso adaptam-se e habituam-se às condições mais extremas, tomando partido das fraquezas dos outros para sobreviver. Não somos heróis. Somos pessoas, naquilo que há de melhor e de pior.

Neste artigo do Público - Os portugueses foram vítimas ou cúmplices da PIDE? (de Duncan Simpson), o autor demonstra a forma como tanta gente usou a PIDE para resolver questões e vinganças pessoais ou para ter um modo de vida, como aceitou e integrou uma das mais poderosas armas da ditadura no controlo dos cidadãos, fazendo a sua vida quotidiana sem se importar com as dores, os medos e as injustiças a que eram sujeitos alguns dos seus amigos, familiares ou vizinhos. A PIDE estava no meio de tudo, entre casais, namorados, parceiros de negócios ou de jogatana.

Também tenho estado a rever uma série que já passou na RTP-2 – Un village français – que cobre o período entre a ocupação francesa e a sua libertação. O mais interessante da série, pelo menos para mim, é o perfil das vários personagens que, durante os anos do governo de Vichy, se misturaram e viveram com os alemães. Uns aceitando-os e satisfazendo-se com as suas ordens que lhes davam trabalho, o seu antissemitismo larvar, promoviam fortunas e ascensão social. Outros servindo o Estado Francês, mesmo a contragosto, tentando minorar as dores de quem estava sob a sua responsabilidade nem que, para isso, atropelassem os seus valores morais e fossem cúmplices das mais horrorosas atrocidades. Havia aqueles que não questionavam as ordens dos superiores, por mais contrárias que fossem à mais simples humanidade. Outros ainda amaram os invasores, constituindo famílias mais ou menos ortodoxas perante circunstâncias clandestinas ou duvidosas.

Aquando da libertação, é retratada a transformação dos cúmplices em algozes, no julgamento dos colaboracionistas, em que todos os que fizeram a sua vida à sombra e com os ocupantes eram os mais duros justiceiros defensores de judeus e comunistas, apontando os dedos para que ninguém os apontasse a eles.

Nada disto é novo nem surpreendente. É apenas a realidade, triste, suja, escura, a subterrânea gente que tem sentimentos e pulsões, que num dia é herói no outro vilão, que olha apenas o seu quintal, a sua vida, as suas necessidades, adormecendo as consciências e justificando as suas acções que, muitos anos depois dos acontecimentos, nos é fácil rotular e classificar.

Uma das grandes armas das ditaduras é o medo. Com o medo – da polícia, de perder o emprego, de ser repudiado socialmente, de morrer, do inferno, de dores, de passar fome e miséria, etc. – o medo é o que nos leva a revelar as nossas mais hediondas competências, se disso acharmos que depende a nossa sobrevivência.

Esta pandemia tem posto a nu muito desta nossa humanidade frágil, feia e mesquinha. O pensamento único no que diz respeito às estratégias de combate à mesma, a quantidade de Torquemadas e de iluminados que invocam a ciência em vão, negando a própria essência do que é o estudo e o método científico, a dúvida metódica, a investigação do que não se sabe, a certeza de que tudo pode mudar pelo evoluir do conhecimento. É terrível assistir ao inundar dos media com as certezas absolutas sobre vírus novos, sobre infecciologia, modelos matemáticos, previsões e epidemiologia, arrasando pessoas que põe em dúvida aquilo que não é certo mas que difere da doutrina oficial.

Transformou-se a ciência numa doutrina e numa ideologia – quem é a favor de medidas restritivas, confinamentos e fechamento das sociedades é de esquerda e quer salvar vidas, quem questiona estas estratégias é de direita, negacionista e precisa de ser calada e punida exemplarmente. Sofre bullying nas redes sociais, nos media e nas próprias instituições profissionais. Voltou o delito de opinião. Porque muito do que se diz sobre a gestão pandémica é opinião. Legítima, como é óbvio, mas opinião. Estudos científicos há vários e podem apontar para várias direcções. Vale a pena espreitar o Instituto de Saúde Baseada na Evidência e as newsletters sobre COVID-19.

É muito importante que os governos se baseiem em conhecimentos técnicos sobre a doença, a sua evolução, terapêutica, prevenção, factores de risco, etc. Mas também muitas outras vertentes sociais, económicas, de trabalho, de saúde mental, tudo aquilo que esperamos que os nossos responsáveis tenham em conta para tomar decisões.

Toda a minha vida de adulta tenho lidado com a doença, o rigor, o diagnóstico, a responsabilidade de observar as melhores e mais avançadas práticas na minha especialidade. Olho para o que se está a passar, com o mundo mergulhado numa voragem de abismo sem sequer poder ponderar, questionar, duvidar do que ouço, leio, vejo. Ou seja, negar tudo aquilo que me formou como profissional de saúde. Sinto-me perplexa e revoltada.

Mas sou humana e, como tal, nenhuma heroína. O mais fácil e mais confortável é seguir a onda. E se, mais tarde, quando houver tempo e estudos sérios e abrangentes que nos esclareçam tantas das nossas ignorâncias, a onda virar ao contrário, talvez fazer como farão os que agora não têm a mácula da dúvida, que defenderão com a mesma ferocidade o que agora repudiam e condenam.

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publicado às 17:09

.... ou com pezinhos de lã

por Sofia Loureiro dos Santos, em 12.02.21

adiamento autarquicas.JPG

Público

O próxio passo poderá ser a ponderação da futilidade de eleições (quaisquer que elas sejam) no meio da pandemia.

Lá isso é

Sérgio Godinho

 

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publicado às 09:41

Dos corriqueiros acidentes confinados

por Sofia Loureiro dos Santos, em 07.02.21

sommier.jpg

Este confinamento, que a todos põe os nervos em franja, tem sido fértil em pequenos acidentes e desastres que parecem insolúveis, ou muito mais difíceis de resolver quando apenas podemos usar o computador.

Vem este desabafo a propósito de uma irritação doméstica que me acometeu, há uns dias, e que me levou a constatar que coisas muito pouco importantes têm o condão de nos deixar al borde de un ataque de nervios*.

A mobília do meu quarto (cama, mesas de cabeceira, cómoda e roupeiro) foi a primeira coisa que comprámos para a nossa casa, antes de nos casarmos. Daquelas rústicas, de madeira, grande, pesada e fidedigna, uma metáfora para o que se esperava do próprio casamento. Foi comprada na Rebordosa, depois de uns dias de visitas a várias casas (de fábricas) de móveis com uma prima muito querida que nos acompanhou e ajudou nesses primeiros passos pré casório.

Mas a verdade é que já passaram vários (muitos, mais precisamente 32, quase 33) anos. E a mobília começa a dar conta do seu (e nosso) envelhecimento. E a cama primeiro rangia horrorosamente: descobrimos que era do estrado, que foi substituído. Depois foi-se abaixo de uma das pernas, tendo-se partido o encaixe de uma das tábuas (nessa altura éramos ambos bastante elegantes). Um vizinho velhote mas que sabia arranjar tudo tirou-nos do aperto. Depois tivemos que trocar de colchão, o que resultou numa escalada diária ao Everest, visto que não me lembrei de medir a altura do dito. Desde então sou fã de banquinhos que ajudam a chegar mais alto, o que muito me mortifica porque é bastas vezes aproveitado para as torturas diárias do treino (agora que é feito em casa tudo serve para me fazer sofrer).

Há quase um ano, em pleno confinamento e a meio de obras de remodelação, foi-se abaixo de outra das pernas, tendo dado azo a um episódio de rir até às lágrimas, quando recuperei do susto de ter visto o meu querido esposo a desaparecer pela cama, fazendo saltar o tabuleiro com o pequeno almoço que eu, extremosa esposa, tinha trazido para a manhã de sábado (ou domingo, já não me lembro). Dessa vez fomos salvos pelo carpinteiro que tinha arranjado a estante do meu escritório, em perigo por suster tanto livro. Felizmente foi muito simpático e  disponível e resolveu o assunto em três tempos.

Mas há umas semanas, depois de várias ameaças perceptíveis apenas para os ouvidos mais receosos (eu), com alguns sons de protesto quando nos virávamos mais bruscamente, resolveu partir-se de novo. Desta vez estávamos atentos e não fomos apanhados de surpresa. Mas a cama deixou de o ser para passar a tripé periclitante.

A solução gritava – tínhamos de trocar a cama. Só que com todas as lojas de móveis e decoração encerradas, o objectivo não era fácil de atingir. Resolvemos optar por um sommier (confesso que só agora percebi o que era). Mas qual, com que altura, se sem pés se com pés, baixos ou altos, foi todo um emaranhar de decisões difíceis e cheias de armadilhas, pois uma coisa é apreciar ao vivo outra muito diferente é ver fotografias no ecrã dos computadores.

Outra novela foi a entrega e a montagem. Sim, porque arriscarmo-nos a montar uma cama depois do fraquejo dos pés da outra, nem pensar.

Resumindo e concluindo: tivemos que dormir uns dias com o colchão em cima do estrado directamente no chão, o que me obrigou a treinos suplementares de sentar e levantar (com a barriga encolhida e as omoplatas juntas) sempre que pretendia levantar-me da cama. Andava deprimida, confesso.

No dia em que chegou a encomenda fiquei aterrada porque as embalagens não pareciam corresponder ao sommier (com estrado e pés) que vira no site onde o tinha comprado. Concluí de imediato que me tinha enganado na encomenda, o que me deixou ainda mais deprimida. Mas afinal não, tudo estava certo. No dia seguinte a eficaz montagem devolveu-nos a dormida a uma altura muito mais simpática e confortável.

O problema é que agora temos de pensar numa cabeceira, ou em almofadas, ou em travesseiros com fronhas etc., e nada disso é fácil de encontrar online. Enfim, uma enorme trabalheira por tão corriqueiro acidente.

*do título de um filme de Pedro Amodóvar

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publicado às 17:40

Estratégias

por Sofia Loureiro dos Santos, em 06.02.21

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obitos pandemia 07_02_2021.jpg

letalidade pandemia 07_02_01.jpg

Evolução da pandemia (post corrigido)

(dados - corrigidos em 07/02 - do Worldometer)

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publicado às 22:11

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