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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Há um ano estreava Histórias de Lisboa. Para mim, um fantástico desafio e experiência, aumentados pelo orgulho de participar num espectáculo do Teatro Meridional.
Neste vídeo podemos perceber o conceito, os bastidores, a Lisboa de há um ano, poesia, e excelentes profissionais a criarem e a trabalharem. É sempre um milagre. Obrigada a todos por esta oportunidade, especialmente à Natália e ao Rui. E parabéns!
E como a Lisboa de hoje é diferente da Lisboa de então. Como, de um momento para o outro, tudo muda. Talvez se pudéssemos guardar alguma desta Lisboa silenciosa, espaçosa, dormente e luminosa para um futuro que rapidamente irá voltar, negando as juras de revolução na vida e no uso e abuso dos recursos, fosse se não o suficiente pelo menos uma vitaina de ar e de asas para continuarmos a sonhar.
Esta é a letra do fado que o Rui Rebelo magistralmente musicou
LISBOA
Regresso numa noite de alegria
com ondas de memória no olhar
a pele em nuvens de melancolia
de um corpo que recusa naufragar
Em barcos ou nas pedras das calçadas
nas ruas que percorro e desconheço
um mundo de palavras soletradas
de quem faz de Lisboa um recomeço
Destino de um passado que se esquece
ao ritmo que desfaz a melodia
verdade de um canto que apetece
no Tejo em que se espelha a poesia
As aves que ecoam assustadas
nas praças que Lisboa desenhou
desfilam pelas portas desbotadas
como se a luz abrisse o que fechou
Nem muros de pobreza e solidão
limitam tantas almas sem idade
dedilham com amor e lentidão
o fado que refaz a liberdade
Regresso numa noite imaginada
pelas ruas que a Lua inundou
recolho numa alma enrugada
o canto que Lisboa me ensinou
O que se está a passar nos EUA é espantoso e assustador.
Assistir à violência policial, ao racismo entranhado na sociedade, e em especial nas forças policiais, aos cíclicos e repetidos episódios de abuso da força, de homicídio de cidadãos por aqueles que têm por primeira e última missão defendê-los é, infelizmente, um hábito. Mas ter na presidência daquele país um agitador louco, extremista, frenético, estúpido, vaidoso, narcisista, incompetente, e sei lá que mais, é aterrador.
Ouvir em directo o Presidente dos EUA dizer que vai encher as ruas e as cidades de polícia e tropa para esmagar os protestos de cidadãos, queiram ou não os governadores de cada Estado, ouvir o Presidente dos EUA incentivar os cidadãos a usarem armas uns contra os outros, ouvir o Presidente dos EUA ameaçar os seus próprios cidadãos, ouvir os jornalistas, governadores e responsáveis religiosos a desautorizarem e desrespeitarem o seu Presidente, é testemunhar aquilo que nunca julguei possível – o desfazer da democracia americana.
O que se segue a esta escalada? Como será possível manter esta situação até às eleições de Novembro?
Hoje estranhamos o que se passou na Europa, com o alastrar das ditaduras e o romper da II Guerra Mundial. Mas de facto tudo pode acontecer, mesmo naquele país em que pensávamos que as Instituições conseguiriam controlar os mais estranhos desvarios.
Ter uma criatura como Trump na Casa Branca é a prova de que tudo se pode desmoronar perante os nossos civilizados olhos. E a incerteza perante a hipótese de ele continuar, para lá de Novembro, é ainda mais indicativo dos perigos que enfrentamos. Os EUA estão a toransformar-se não só numa inutilidade, mas numa perigosa aberração que muito contribui para o desequilíbrio do mundo.
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