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Histórias de Lisboa

por Sofia Loureiro dos Santos, em 06.06.20

Há um ano estreava Histórias de Lisboa. Para mim, um fantástico desafio e experiência, aumentados pelo orgulho de participar num espectáculo do Teatro Meridional.

Neste vídeo podemos perceber o conceito, os bastidores, a Lisboa de há um ano, poesia, e excelentes profissionais a criarem e a trabalharem. É sempre um milagre. Obrigada a todos por esta oportunidade, especialmente à Natália e ao Rui. E parabéns!

E como a Lisboa de hoje é diferente da Lisboa de então. Como, de um momento para o outro, tudo muda. Talvez se pudéssemos guardar alguma desta Lisboa silenciosa, espaçosa, dormente e luminosa para um futuro que rapidamente irá voltar, negando as juras de revolução na vida e no uso e abuso dos recursos, fosse se não o suficiente pelo menos uma vitaina de ar e de asas para continuarmos a sonhar.

 

Esta é a letra do fado que o Rui Rebelo magistralmente musicou

 

LISBOA

 

Regresso numa noite de alegria

com ondas de memória no olhar

a pele em nuvens de melancolia

de um corpo que recusa naufragar

 

Em barcos ou nas pedras das calçadas

nas ruas que percorro e desconheço

um mundo de palavras soletradas

de quem faz de Lisboa um recomeço

 

Destino de um passado que se esquece

ao ritmo que desfaz a melodia

verdade de um canto que apetece

no Tejo em que se espelha a poesia

 

As aves que ecoam assustadas

nas praças que Lisboa desenhou

desfilam pelas portas desbotadas

como se a luz abrisse o que fechou

 

Nem muros de pobreza e solidão

limitam tantas almas sem idade

dedilham com amor e lentidão

o fado que refaz a liberdade

 

Regresso numa noite imaginada

pelas ruas que a Lua inundou

recolho numa alma enrugada

o canto que Lisboa me ensinou

 

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publicado às 10:26

O desfazer da democracia americana

por Sofia Loureiro dos Santos, em 02.06.20

O que se está a passar nos EUA é espantoso e assustador.

Assistir à violência policial, ao racismo entranhado na sociedade, e em especial nas forças policiais, aos cíclicos e repetidos episódios de abuso da força, de homicídio de cidadãos por aqueles que têm por primeira e última missão defendê-los é, infelizmente, um hábito. Mas ter na presidência daquele país um agitador louco, extremista, frenético, estúpido, vaidoso, narcisista, incompetente, e sei lá que mais, é aterrador.

Ouvir em directo o Presidente dos EUA dizer que vai encher as ruas e as cidades de polícia e tropa para esmagar os protestos de cidadãos, queiram ou não os governadores de cada Estado, ouvir o Presidente dos EUA incentivar os cidadãos a usarem armas uns contra os outros, ouvir o Presidente dos EUA ameaçar os seus próprios cidadãos, ouvir os jornalistas, governadores e responsáveis religiosos a desautorizarem e desrespeitarem o seu Presidente, é testemunhar aquilo que nunca julguei possível – o desfazer da democracia americana.

O que se segue a esta escalada? Como será possível manter esta situação até às eleições de Novembro?

Hoje estranhamos o que se passou na Europa, com o alastrar das ditaduras e o romper da II Guerra Mundial. Mas de facto tudo pode acontecer, mesmo naquele país em que pensávamos que as Instituições conseguiriam controlar os mais estranhos desvarios.

Ter uma criatura como Trump na Casa Branca é a prova de que tudo se pode desmoronar perante os nossos civilizados olhos. E a incerteza perante a hipótese de ele continuar, para lá de Novembro, é ainda mais indicativo dos perigos que enfrentamos. Os EUA estão a toransformar-se não só numa inutilidade, mas numa perigosa aberração que muito contribui para o desequilíbrio do mundo.

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publicado às 11:59

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