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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Jonathan Silva
Se o mundo ficar pesado
Eu vou pedir emprestado
A palavra POESIA
Se o mundo emburrecer
Eu vou rezar pra chover
Palavra SABEDORIA
Se o mundo andar pra trás
Vou escrever num cartaz
A palavra REBELDIA
Se a gente desanimar
Eu vou colher no pomar
A palavra TEIMOSIA
Se acontecer afinal
De entrar em nosso quintal
A palavra tirania
Pegue o tambor e o ganza
Vamos pra rua gritar
A palavra UTOPIA
Felizmente somos uma democracia e, apesar do declarado estado de emergência, a liberdade de expressão e a inexistência de censura são uma realidade.
Nas conferências de imprensa diárias, a DGS e um representante do governo, para além de outras pessoas de outras instituições, prestam contas e respondem a perguntas dos jornalistas. Ontem assim aconteceu e, a partir dos 32:17, a DGS responde a quem questiona o porquê da falta da cerca sanitária no Porto quando tal já tinha sido pedido.
A resposta, ao contrário do que foi amplamente replicado nas redes sociais, não me pareceu nada desastrada. Apenas foi a resposta a uma pergunta, ainda por cima fundamentada (a pergunta) numa carta que teria sido enviada por Rui Moreira ao MAI.
Não se pode pedir transparência e verdade aos responsáveis das Instituições e exigir que não respondam às perguntas politicamente incómodas. Pode e deve criticar-se aquilo que, tecnicamente, impede uma análise rigorosa da situação, como os problemas da colheita de dados para reporte, por exemplo. Pode e deve criticar-se a DGS por incongruências e inconsistências.
No entanto aquilo que Rui Moreira fez é inaceitável seja em que circunstâncias forem. Rui Moreira não tem que aceitar nem deixar de aceitar a autoridade da DGS. E se ontem alguém houve que não esteve à altura das suas responsabilidades foi precisamente o Presidente da Câmara do Porto, que resolveu assumir o papel de vítima numa situação em que apenas deverá imperar a avaliação do que poderá controlar o melhor possível, o avanço do contágio do vírus. Tal como aconteceu em Ovar.
Já agora convém perceber que as previsões de picos e de planaltos e dos momentos em que poderão acontecer dependem da evolução da epidemia e isso, como de resto tudo o que diz respeito a esta situação, tem uma reavaliação e reajustamento diários.
Graça Freitas está cansada? É natural, estamos todos. Eu estou particularmente cansada de tantos especialistas em COVID-19 que pululam na nossa sociedade. Apesar de tudo, as coisas até não estão a correr mal, pelo menos por enquanto. Assim se reconhece fora do país mas nós, como de costume, preferimos denegrir-nos.
(vale a pena ler este texto de Tiago Barbosa Ribeiro)
Quem diria que este fado
Seria algum dia escrito
Com o país confinado
Num reduto tão restrito
À janela como o gato
Estamos ao sol a crestar
E à noite sem recato
À lua vamos cantar
Vozes altas afinadas
Dedos soltos e trementes
As palavras libertadas
No louvor aos mais valentes
E o fado prisioneiro
Solta-se enquanto chora
Que o fado é sempre o primeiro
A voar pela noite fora
Vou do quarto para o banho
e do banho prá cozinha
dou um salto até à sala
onde aceno à vizinha.
A seguir a esta volta
esta grande caminhada
vou deitar-me ao trabalho
numa sesta abençoada.
É obrigatório estar
sempre a par das novidades
e ouvir com atenção
o falar das Entidades
Cada um na sua toca
solitário no seu ninho
mas luzindo com o olhar
transbordante de carinho.
Pois se pensava que a quarentena iria livrar-me dos treinos dantescos a que sou submetida, a minha PT decidiu que estava mesmo na altura de me preparar para os jogos olímpicos, visto que foram adiados.
E no meio dos escombros de umas obras suspensas pelo estupor do SARS-CoV-2, depois de salvar a passadeira, que tinha estado adormecida por vários anos e coberta de uma espessa camada de pó, afundada no meio de latas de tinta e tijolos, sempre de Skype (não confia em mim se apenas me ouvir dizer que estou a cumprir as repetições, que estou a encolher a barriga e a juntar as omoplatas), serei das poucas pessoas, se não a única, que vai ultrapassar a quarentena surgindo bela e elegante após o confinamento.
Mas a verdade é que os materiais de fitness estão esgotados em toda a parte – não há pesos, nem TRX, nem bombas para encher bolas de Pilates, tudo equipamentos absolutamente indispensáveis para o fitness at home.
Pensava eu! Porque cá em casa e através da janelinha do computador, as instruções incluem levantar garrafões de água de 5 litros, agachamentos com paus de vassoura e abdominais com tijolos. Portanto, não há desculpas para a inacção.
Sempre a treinar, seja ao ar livre seja no meio das obras, nada fará empalidecer o brilho da próxima medalhada olímpica da classe das sexagenárias – eu mesma!
Fecho a porta nego o vírus
escondo-me com afinco
sabe lá se estou ou não
faço de morta e minto
Penteio-me a preceito
com pente escova e desvelo
palha d’aço esbranquiçada
arremedo de cabelo.
Da sua cor não me lembro
se bordeaux se acastanhado
a última vez que o vi
era louro envergonhado.
Agora tem listas brancas
e amarelas desbotadas
cabelo crespo e singelo
de pontas arrepiadas.
Quando pudermos sair
desta toca de coelho
o melhor é nem olharmos
para o pobre do espelho!
Diz-se que há-de vir
uma era justa e boa
em que o valor da pessoa
se mantém quando envelhece.
Está no trabalho que fez.
Para conseguir uma coisa como esta
dava o sangue que me resta.
E era como se tivesse
nascido mais uma vez.
Deram-nos este banco de avenida
onde a sombra nos dói e a tarde gela
e daqui vemos nós passar a vida
Sem que a vida nos sinta perto dela.
Assim nos atiraram para fora
das coisas que ajudámos a fazer.
Ai, como o sol aquece pouco agora.
Ai, muito custa à noite adormecer.
Fomos pedreiros, varredores, ardinas
fizemos casas, cultivámos terras,
criámos gado, entrámos pelas minas,
demos os filhos para as vossas guerras.
Demos as filhas para vos servir,
cortámos lenha para a vossa fogueira.
E o tempo a ir-se, e a gente a pressentir
que vos demos sem querer a vida inteira.
E ainda é sangue o que nas veias corre.
Ainda é raiva o que nos dobra a mão.
Ainda ecoa um sonho que não morre
no nosso velho e atento coração.
Mensagem do Presidente da República ao País sobre a declaração do estado de emergência
Marcelo Rebelo de Sousa quis retomar a iniciativa política após a sua auto infligida quarentena um bocado extemporânea, que muitos louvaram e outros criticaram por não se justificar nas circunstâncias em que ocorreu.
Nesse sentido, e sempre com o Expresso como porta-voz oficioso, lançou-se imediatamente a imensa e irreversível emergência de decretar o estado da dita, dando ressonância à resistência do Primeiro-ministro.
Após o Conselho de Estado, e depois da amplificação da vontade do Presidente da República em decretar o Estado de Emergência, a decisão tornou-se irreversível até pelo alarme social a que se assistia. A atitude de António Costa só podia ser a de apoiar o Presidente, tal como aconteceu com o Parlamento, numa demonstração de grande responsabilidade institucional e de coesão entre os vários órgãos de soberania e poder.
Marcelo assumiu a responsabilidade e assumiu o protagonismo, essencial em tempo da crise já instalada e da que há-de vir, até porque as eleições presidenciais aí estão.
A convocatória a Mário Centeno para ir a Belém, com o Expresso a propagandear que Marcelo queria garantir que Centeno não abandonava o barco, imediatamente seguida pela insinuação de que teria sido a reunião com o Presidente a convencer Centeno a ficar e a assumir a sua responsabilidade, são exemplos gritantes de notícias plantadas. No mínimo essa insinuação é ofensiva. Nunca Mário Centeno assumiu que ia abandonar o governo e seria um suicídio político se o fizesse numa altura destas.
A confiança nos nossos governantes é essencial para que possamos atravessar esta grave situação. É indispensável que o escrutínio continue, através dos órgãos próprios e do jornalismo, ele próprio um órgão de controlo dos poderes quando não se transforma numa correia de transmissão de um qualquer projecto político, com é o caso.
Não quero ser mal interpretada. Como já aqui referi considero que no meio de tanta desgraça temos a felicidade de contar com um Presidente, um Governo e um Parlamento, com especial destaque para Rui Rio que tem tido uma postura de grande responsabilidade. Por isso me custam estas manobras, que me parecem dispensáveis.
Ou se calhar não. Pelo menos há um arremedo de que a vida continua.
E tem mesmo de continuar.
Neste momento, a grande diferença entre as infecções confirmadas em Portugal e Espanha é a distribuição etária. E também por isso, e se calhar exactamente por isso, a diferença entre as respectivas mortalidades - 1,1% e 6,1%.
É absolutamente crucial tentar impedir que a infecção se generalize a lares de idosos. É essencial que os mais velhos tenham a noção exacta do risco acrescido.
Prevenir e proteger é o mais importante.
Lava a cara lava a boca
usa a água e o sabão
lava a mão e lava a outra
com desvelo e atenção.
Entra em casa sem receio
limpa bem o puxador
abre a porta e depressa
tira a roupa do exterior.
Não te encostes a ninguém
os abraços vão esperar
cobre a boca e o nariz
se tiveres que espirrar.
Não te assustes não te alarmes
exercita o coração
estica encolhe encolhe e estica
até à próxima sessão.
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