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E porque não permitir-nos um certo optimismo, uma centelha de bom-humor, um momento de tolerância pelo que se aproxima, deixarmo-nos de tristes presságios e de remoer os desenganos?
Porque não a esperança, mesmo que curta, mesmo que frágil, numa melhor versão de nós próprios, das nossas vidas e das vidas de quem nos acompanha e envolve, porque não experimentarmos mais gentileza, mais atenção?
Tudo o que é novo é cintilante. Que possamos brilhar, nem que seja nos primeiros minutos do novo ano, do novo dia, do novo nós.
Bom 2020!
Ella Fitzgerald
Frank Sinatra
Out of the tree of life I just picked me a plum
You came along and everything's startin' to hum
Still, it's a real good bet, the best is yet to come
Best is yet to come and babe, won't that be fine?
You think you've seen the sun, but you ain't seen it shine
Wait till the warm-up's underway
Wait till our lips have met
And wait till you see that sunshine day
You ain't seen nothin' yet
The best is yet to come and babe, won't it be fine?
Best is yet to come, come the day you're mine
Come the day you're mine
I'm gonna teach you to fly
We've only tasted the wine
We're gonna drain the cup dry
Wait till your charms are right for these arms to surround
You think you've flown before, but baby, you ain't left the ground
Wait till you're locked in my embrace
Wait till I draw you near
Wait till you see that sunshine place
Ain't nothin' like it here
The best is yet to come and babe, won't it be fine?
The best is yet to come, come the day you're mine
Come the day you're mine
And you're gonna be mine
Listas de filmes, de livros, de quadros, de nomes, de compras, de prós, de contras, de filhos, de maridos, de mulheres, de namorados, de amigos, de receitas, de medicamentos, de roupas, de cidades, de países, de hotéis, de cafés, de carros, de brincos, de batons, de chapéus, de meias, de sapatos, de malas, de moedas, de contas, de canções, de poemas, de citações, de peças de teatro, de exercícios, de análises, de radiografias, de louça, de copos, de vinhos, de tapetes, de mantas, de relógios, de telemóveis, de………
Listas de anos - mais um.
Aí vem 2020.
(...) Sagas que nos distraem do essencial que não queremos encarar, de que é entre nós que estão os monstros, que é possível, entre nós, essa impossibilidade da razão, essa total ausência de diálogo, essa crueldade que não chega a sê-lo, porque não nos reconhece existência, sentimentos ou semelhança. (...)
Nuns dias entorto
noutros anoto
noutros capoto.
Nuns dias estiro
noutros encolho
nuns dias atiro
noutros recolho.
Há dias que sim
e dias que não
há dias sem fim
que sem razão
nos deixam assim.
Pequenos sinais
dos dias a mais
que sobram
para mim.
O isolamento, o envelhecimento, a constante procura do porquê de se ser, de se estar, a consciência de existir.
A repetição dos dias, dos pensamentos, das forças, do medir de forças, das memórias, dos desejos, dos momentos de alegria, do conforto da solidão, do vento como companhia, como companheiro, como adversário, como amigo.
O amor e a morte, a morte e o amor, mas não a morte do amor que fica, que sobra, que se instala e se repete.
Tudo se repete, dia a dia, hora a hora, noite a noite, madrugada a madrugada.
O deambular sem organização ou a organização do caos, o pensamento que discorre, que se interroga, que afirma, que se lembra, que sofre, que ama.
A arte das palavras e da imagem, sentir a chuva, a neve, as rochas, as pedras, as flores, a cor, o olhar, a curva dos lábios, a macieza das mãos e dos gestos, a ilha, o longe e a clandestina vida que se vai completando, sempre no caminho contra o vento.
Cristina Carvalho escreve um romance biográfico sobre Ingmar Bergman a partir dos últimos anos da sua vida em Fårö. Personificando Bergman, vestindo-o e mergulhando no seu espírito, Cristina Carvalho mostra-nos a faceta do homem e não a imagem do artista, o homem como a essência do ser artista e não a arte como profissão. Ficamos a conhecer Ingmar Bergman por dentro. Um artista visto por dentro, o homem que se não nega a que o sintam como alguém que se angustia, que tem medo, que se irrita, que persiste, que persiste na busca de si mesmo.
É um livro extraordinário.
Nada como o fim de um ano e princípio de outro para termos muitos objectivos e decisões, mais ou menos drásticas, mais ou menos realistas, que nos transformarão em pessoas melhores, mais atentas, mais animadas, mais inteligentes, mais previdentes, mais ágeis, mais belas, mais elegantes, mais fantásticas, mas sobretudo mais felizes.
Eu sou pouco dada a resoluções de ano novo. Na verdade começo o ano tal como o acabo, a rezingar com o tempo e com as festividades, com a enorme quantidade de comida e o enorme desperdício, mas apesar de tudo esperançada que os tempos que se avizinham sejam melhores que os passados. Até porque as minhas decisões vão sendo tomadas ao longo do ano, ao sabor das necessidades e dos impulsos.
Por isso posso recomendar vivamente o que já experimentei e experimento, nomeadamente os treinos, de que já aqui fui falando. Sim assim mesmo no plural: os treinos – 4 por semana. E sim, eu sei que sou um pouco amalucada, mas a verdade é que foi uma boa resolução de verão de 2017.
É horroroso. Na verdade é uma faceta de masoquismo que eu tenho, e que me faz assumir sevícias inimagináveis, que me levam a grandes conversas comigo mesma, sempre insultuosas, às 07:00 de quase todos os dias da semana. Mas depois de se assumirem determinados compromissos, torna-se impossível largá-los. E os treinos são impossíveis de largar, mais precisamente a Personal Trainer ou PT.
As minhas manhãs começam com um animado bom dia (dito por ela, bem entendido) e com um ainda mais animado aquecimento no remo. Depois continua a tareia com inúmeros e variados exercícios que são funcionais, que fortalecem o core, que nos dão força e energia para além de uma imensa vontade de fugir após o assassinato frio e cruel da maravilhosa PT e de todos os outros PTs que torturam desgraçados e desgraçadas como eu.
Quando estamos quase a morrer, somos revificados com uma sugestão do bebericar de água, panaceia para todos os cansaços. Temos que aprender a usar uma escala de esforço, que vai de 0 a 10 e que nunca percebemos aonde está (porque para mim é sempre 8). Temos que estar continuamente a encolher a barriga e a juntar as omoplatas, pois o não cumprimento destas regras básicas da vivência levarão a todas as lesões conhecidas e desconhecidas do universo muscular e ósseo, a levantar e atirar bolas com 6 Kg de peso, a equilibrarmo-nos no bosu, a fazermos diversas modalidades de prancha, variadíssimos abdominais e lombares, TRX, lounges, agachamentos, enfim, o vocabulário completo de termos que apenas significam esforço e transpiração.
Tenho, no entanto, que dizer a verdade – estou mais equilibrada, mais condensada, mais energizada, sem dores nas costas e objectivamente melhor da osteoporose. A endocrinologista, que tem uma paciência de Job, está feliz e eu suspeito que há uma maçonaria secreta em que os aventais vestem PTs e endocrinologistas, onde planeiam estes horrores e se divertem a rir das nossas tristes figuras.
Tudo isto para dizer que devem experimentar. Não se arrependerão. A sério. Apesar do que disse tenho uma PT fantástica, que não desiste de mim nem de me transformar numa atleta do dia-a-dia, sem costas curvadas nem barriga descaída, sem tortuosidades na coluna e com as hipotéticas hérnias bem disciplinadas, mais animada e bem-disposta. Lá em casa dizem-me que foi remédio santo. Admiro-lhe a paciência e a imaginação, a permanente simpatia e o cuidado com esta quase sexagenária, mesmo que dura e rigorosa, sem perdoar nenhuma desculpa ou menor vontade, vigilante dos pecadilhos da gula, sempre cheia de estratégias difíceis de rebater.
A felicidade também se constrói com estas pequenas vitórias, como ser capaz de me equilibrar em cima de um bosu e fazer agachamentos! Nada é fácil na vida. E eu tive muita sorte com a PT que me calhou.
Portanto: 2020 aí vou eu, mais fit que nunca, saudável e esbelta, uma perfeita velhota em rejuvenescimento permanente.
Num restaurante de bairro fomos mimoseados a toda a hora com "queridos" pela empregada de mesa, muito despachada, assertiva e desastrada, com uma boa disposição artificial e irritante.
Detesto que me tratem por "menina", "querida", "filha", "jovem", etc. Mas quem reagiu foi o meu comparsa que, com um sorriso cheio de dentes e muito arrepiante, lhe disse que não era o "querido" dela.
Dois ranzinzas, concedo.
Mas é que detesto mesmo.
A verdade é que o meu espírito natalício custa cada vez mais a chegar e chega cada vez mais tarde. Mas o tempo urge. Hoje dei início às hostilidades.
Os cabazes cá de casa estão esqueléticos e anémicos, literalmente, pois o licor de pêssego, embora delicioso, tem uma cor ligeiramente descorada.
Portanto este ano experimenta-se o doce de dióspiro. Este é um fruto que sempre evitei, pela sua textura e aparência demasiado gelatinosa, até ao ano passado, altura em que o experimentei (o de roer) e fiquei fã.
Como cá em casa tudo se transforma em compotas e licores, lá descasquei e cortei em pedacinhos 1,5 Kg de dióspiros que coloquei num enorme tacho com 1 Kg de açúcar, sumo e casaca de 1 laranja, 3 paus de canela e uns goles de moscatel de Setúbal.
Depois de fervilhar fazendo espuma durante algum tempo, resolvi reduzir a puré com a varinha mágica e deixar ferver mais um pouco.
Agora está a aguardar que arrefeça, para ver se necessita de voltar ao lume. Os frasquinhos serão cheios e rotulados para rechear os frugais cabazes, que serão saudáveis, naturais e sustentáveis - tudo muito bio e artesanal, para não ferir a economia circular - discurso muito em voga, seja lá o que for que significa.
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