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Que espero?

por Sofia Loureiro dos Santos, em 31.12.18

alex chinneck.jpg

Alex Chinneck

 

 

Nada espero do que não esperei

esperança de nunca que nada serei

sem nada do sonho do nada que sei

de mim que me dou a tudo o que dei

espero por ti que por ti me darei.

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publicado às 23:37

2019

por Sofia Loureiro dos Santos, em 31.12.18

2019.jpg

 

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publicado às 18:36

Das afrontas e dos esquecimentos

por Sofia Loureiro dos Santos, em 28.12.18

É muito interessante a notícia que saiu hoje no Expresso online, sobre a afronta a ADSE exigir a alguns prestadores privados um montante de 38 milhões de euros que lhes terão sido pagos indevidamente (em causa facturações de 2015 e 2016). A notícia avança mesmo com a ameaça, veiculada pela Associação Portuguesa de Hospitalização Privada, de quebra de prestação de serviços à ADSE.

 

O que o Expresso se esqueceu de referir é que há um parecer da PGR dando razão à ADSE, obrigando os prestadores a pagarem a dívida reclamada - notícia de 13 deste mês.

 

Curioso. Mais curioso a fonte de ambas as notícias ser a mesma agência Lusa.

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publicado às 18:24

Dos encerramentos e reaberturas da Maternidade Alfredo da Costa

por Sofia Loureiro dos Santos, em 28.12.18

Em 2012, no governo do PSD/CDS liderado por Pedro Passos Coelho, Paulo Macedo (Ministro da Saúde) decide que a Maternidade Alfredo da Costa (MAC) deve encerrar. Foi uma comoção geral, nomeadamente por parte da oposição (PS, BE e PCP), tendo-se assistido a manifestações, correntes e abraços à volta da MAC, providências cautelares e decisões judiciais com o objectivo conseguido de adiar o encerramento.

 

Apesar de Assunção Cristas se esforçar imenso por apagar a presença do seu partido nesse governo, o CDS apoiou, e quanto a mim muito bem, a decisão de Paulo Macedo. Neste momento surge à porta da MAC perorando contra a escassez de Anestesistas e outros profissionais de saúde na MAC e no restante SNS. A falta de vergonha é mesmo gritante. E não há um único jornalista que lhe lembre estes factos. Na verdade, se a MAC deveria encerrar (mesmo que dentro de alguns anos), não tem muita lógica admitir mais médicos para os seus quadros. Mesmo que a MAC só seja totalmente desactivada apenas quando abrir o novo Hospital de Lisboa Oriental, a transferência de serviços para outras unidades, dentro do CHLC, não parece ter sido revertida.

 

Porquê agora esta barragem noticiosa, acrítica, em relação à falta de Anestesistas na MAC?

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publicado às 15:15

Minha namorada

por Sofia Loureiro dos Santos, em 27.12.18

Miúcha

 

Meu poeta eu hoje estou contente

Todo mundo de repente ficou lindo, ficou lindo de morrer

Eu hoje estou me rindo, nem eu mesma sei de que

Porque eu recebi uma cartinhazinha de você

 

Se você quer ser minha namorada

Ah, que linda namorada você poderia ser

Se quiser ser somente minha

Exatamente essa coisinha, essa coisa toda minha

Que ninguém mais pode ser

Você tem que me fazer um juramento

De só ter um pensamento, ser só minha até morrer

E também de não perder esse jeitinho de falar devagarinho

Essas histórias de você

E de repente me fazer muito carinho

E chorar bem de mansinho sem ninguém saber porquê

 

E se mais do que minha namorada

Você quer ser minha amada, minha amada, mas amada pra valer

Aquela amada pelo amor predestinada

Sem a qual a vida é nada, sem a qual se quer morrer

Você tem que vir comigo em meu caminho

E talvez o meu caminho seja triste pra você

Os seus olhos tem que ser só dos meus olhos

Os seus braços o meu ninho no silêncio de depois

E você tem que ser a estrela derradeira

Minha amiga e companheira

No infinito de nós dois

 

Vinicius de Moraes

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publicado às 22:36

Aniversário

por Sofia Loureiro dos Santos, em 27.12.18

Crack the Whip.jpg

Crack the Whip

J. Seward Johnson

 

 

E quando os anos eram longos como longas

as tardes da nossa infância em que cabiam

todos os olhos e mundos que nos aguardavam.

E quando os braços eram pequenos como pequenas

as andanças das memórias a que chegamos

desbotadas fugidias sem que se apaguem ou expliquem

os dias que nos restam e dilatam os momentos

os poucos que ainda nos completam e seguram

como longas são as lembranças que nos deixam.

 

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publicado às 21:01

Dos endo e exo-recheios

por Sofia Loureiro dos Santos, em 26.12.18

peru.jpg

 

Tenho um problema com o rechear do peru ou, mais precisamente, de qualquer tipo de carne. Já há uns anos tentei um rolo de carne que saiu horrível, com a carne dura e rígida, qual cesto de madeira, com as cenouras e o ovo a escaparem indecentemente do abraço apertado das ataduras.

 

Mas não sou de desistir facilmente. A perna de peru já estava desossada pelo talhante, para receber o maravilhoso recheio que fiz: cebola, alho, salsa, pimento amarelo, cenoura, cogumelos, bacon, tâmaras, azeitonas, filetes de anchova (a ordem dos factores é arbitrária), tudo muito picadinho, regado com um fiozinho de azeite, vinho tinto e vinho do Porto, temperado com pimenta, cominhos e muito escasso sal, tudo envolvido numa alheira, (à qual tirei a pele, essa sim, só no fim).

 

Estava mesmo uma especialidade mas, quando tentei colocar o dito a meio do membro da grande ave galinácea, dobrando a perna sobre si mesma com a ajuda de uns fios próprios para o efeito (que, miraculosamente, estavam na dispensa), foi um desastre. Se atava uma ponta, o recheio fugia pela outra, se apertava a ponta oposta, o recheio fluía pelos lados.

 

Acabei por rodar a carne peru 180 graus, fazendo do recheio um colchão. Espalhei umas cebolinhas pequeninas no tabuleiro, umas castanhas congeladas, massajei o peru com massa de alho e de pimentão, um pouco de sal, um pouco de azeite, vinho e rodelas de laranja, para além de louro, cobri com papel de alumínio e assei durante cerca de duas horas. A meio da assadura virei o peru, para cozinhar dos dois lados.

 

Devo dizer que estava fantástico, com o exo-recheio misturado no molho, nas castanhas e nas cebolinhas. O esparregado (daqueles congelados já pré-cozinhados) serviu de acompanhamento saudável e vegetariano, enfim, uma perfeição.

 

Mesmo tendo saído vitoriosa desta provação, o problema do recheio mantém-se irresolúvel. Talvez para o ano já tenha inventado uma nova fórmula para o fazer. Os doces, os licores e o café remataram a refeição, tendo todos os comensais, após interrogação personalizada e universal (o que foi muito mal interpretado como bulling culinário) acenado e emitido vários ruídos com óbvio significado aprovador.

 

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publicado às 12:26

A força de outros tempos

por Sofia Loureiro dos Santos, em 25.12.18

(...) Muito se perde, e muito fica; embora
Não tenhamos a força que, outros tempos,
Tudo movia – quanto somos, somos:
Uma igual têmpera do peito heróico,
Ao tempo e fado frágil, mas bem forte
Para buscar, achar, e não perder.

Ulisses, de Tennyson, tradução de Jorge de Sena

 

Obrigada a quem me mostrou este poema dito por Helen Mirren.

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publicado às 19:20

Igualdade

por Sofia Loureiro dos Santos, em 25.12.18

Manhã de Natal, ocupada a ganhar forças para preparar o jantar de Natal.

 

Passeio pela Internet, olhos as notícias dos jornais e ouço a TV que tenho aos pés da cama. De vez em quando levanto os olhos. Há uns minutos dei com uma cena de um filme no canal Cinemundo - O Espaço que nos Une (2017) - que se passa no futuro, e vejo um homem que, aparentemente, está a trabalhar em frente a um computador. Mostra-se apreensivo e ausente, enquanto uma mulher lhe dá um café, com ar deferente, preocupado, quase maternal. Era obviamente a sua secretária.

 

É assim que projectamos o futuro, com secretárias mulheres a oferecerem cafés aos seus superiores hierárquicos, homens. Por isso, quando leio esta notícia sobre o tempo que levará a ser atingida a igualdade entre géneros, em termos salariais - 202 anos - acho que, se calhar, os seus autores estão a ser optimistas.

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publicado às 13:00

Está tudo com bom aspecto militar!

por Sofia Loureiro dos Santos, em 24.12.18

natal 2018.jpg

 

O lema deste Natal é ser alternativo. Aliás os meus Natais são todos alternativos – aqui respira-se a tradição.

 

Na verdade comecei o dia com uma que comecei há cerca de ano e meio – um maravilhoso e revigorante treino, em prevenção para aumento de massas gordas, coisa terrífica e de muito difícil terapêutica.

 

Mas logo a seguir continuaram as actividades natalícias, que isto são turnos contínuos e sem remuneração adicional. Tenho que ponderar uma greve com coletes verdes e encarnados, a condizer com a quadra.

 

A calda de açúcar já está pronta. Água (500 ml) com açúcar (650 gr) casca de limão e paus de canela ao lume fazem verdadeiros milagres. Então se, ao levantar fervura, lhe juntarmos um bom cálice de vinho do Porto, deixando depois fervilhar durante 12 minutos, é a receita mais alternativamente tradicional que podemos ter para regar os sonhos (e as rabanadas).

 

Claro que, no entretanto, embrulhei mais umas garrafitas de licor. Este ano adoptei uma nova moda – nada de fita-cola nem dobras simétricas. Pega-se num papel, envolve-se o objecto a embrulhar, amarrota-se artisticamente, de modo a cobrir todas as superfícies, e ata-se o sobrante de papel com uma fita colorida e flamejante. E pronto, nem faço de conta que embrulho.

 

O bacalhau aguarda a sua vez de cozer, tal como as batatas, o grão e a couve – desta vez optei por couve coração, porque não me apeteceu estar 3 horas a arranjar e lavar uma enormíssima quantidade de couve tão portuguesa quanto cansativa, que mirra assustadoramente no tacho. A perna de perú para amanhã também já está de molho em água, tomilho, pimenta, louro e rodelas de limão e laranja. O recheio será uma inspiração de momento, mas já estou a imaginar algo que inclua cebola, bacon, tâmaras, alheira, pimentos, cogumelos, azeitonas e anchovas. Enfim, imaginação nunca me faltou.

 

Por agora gozo os prazeres da preguiça, mas tenho a certeza de que logo à noite, rodeada por gente que adoro e pelos vapores tradicionalmente alternativos da Consoada, ouvirei cá dentro uma voz poderosa a dizer:

 

Está tudo com bom aspecto militar!

 

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publicado às 14:34

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