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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
(...) Já agora, seria oportuno que o sr. Cosgrave esclarecesse quais são esses critérios que definem as fronteiras das escolhas para o palco da Web Summit, uma iniciativa dirigida ao chamado novo empreendedorismo tecnológico e a sociedade digital onde, convenhamos, os propósitos de Le Pen estão manifestamente deslocados. Não se trata de censurar ou não censurar escolhas, mas de considerar o sentido que fazem ou não num determinado contexto. É isso e só isso o que está em causa e não o legítimo direito de Le Pen e outros líderes populistas se exprimirem em todos os fóruns políticos e mediáticos apropriados. (...)
Nada tenho contra o envelhecimento activo e a possibilidade de trabalhar após os 70 anos, seja no sector privado ou no público. Mas tenho algum receio que o término da reforma compulsiva aos 70 anos para a função pública, venha a ser, com o tempo, a manutenção do trabalho compulsivo a partir dos 70 anos. É claro que as condições dos trabalhadores hoje são muito diferentes das que existiam em 1926 (data da lei). Mas penso que há que ter em atenção inúmeros aspectos, não só a esperança e a qualidade de vida actuais, em comparação com as do início do séc. XX.
A realidade é que temos uma função pública com quadros envelhecidos, a precisar urgentemente de substituição e renovação. Já há muito que defendo que a reforma deveria ser gradual e que os últimos anos de actividade dos trabalhadores deveriam adaptar menos tempo e mais flexibilidade de horários a funções de formação e supervisão dos mais novos, aproveitamento da experiência e do saber dos mais velhos nas actividades diárias, para que, a pouco e pouco, se integrassem e renovassem as gerações, com a preparação simultânea de uma reforma activa e produtiva.
O desemprego jovem é grande pelo que o que me pareceria lógico era reduzir a idade da reforma e não incentivar a manutenção dos postos de trabalho após os 70 anos. Até porque a número de trabalhadores que tem esperado pelo limite de idade para se reformar é cada vez mais escasso, tendo sido de apenas 387 em 2017. Se as reformas forem cada vez mais exíguas, como é o caso, não me espanto que os trabalhadores possam pedir para continuar a trabalhar depois dos 70 anos, não porque de facto o desejem, mas porque se arriscam a ter sérias dificuldades económicas se não o fizerem.
É importante não desperdiçar o saber e a experiência de tanta gente notável que, aos 70 anos, tem ainda muito para dar à comunidade. Mas também não podemos dar-nos ao luxo de desperdiçar a força renovadora dos jovens que anseiam entrar no mercado de trabalho, sem o qual não podem assumir as suas vidas, privando-as do seu direito a serem cidadãos plenos, podendo ter os seus filhos, contribuindo para a sociedade com motivação, energia e competências diferentes das dos seus pais, e também para a economia do país.
António Saraiva reage negativamente às propostas do BE para reduzir as desigualdades salariais. Chegou mesmo a falar de uma nacionalização da economia portuguesa, numa intervenção que ouvi mas não consigo recuperar.
Segundo António Saraiva, nessa mesma intervenção, as empresas estão muito atentas e preocupadas com as ditas disparidades, até porque causam mal-estar entre os colaboradores, mas só a elas cabe a resolução do problema.
Desconheço as propostas do BE e não sei se a legislação proposta é uma boa solução, mas fico imensamente descansada com a preocupação da CIP e do seu presidente - como se deduz pelo campeonato das empresas com maiores desigualdades salariais, em que Portugal tem posições cimeiras. Aliás podemos ficar todos descansados, aguardando com muita paciência as medidas que as empresas hã-de tomar, enquanto assistimos a um aumento continuado das desigualdades.
Há que ter muito desplante.
Billboard, 17 February 1968
Ottis Redding
What you want
Baby, I got it
What you need
Do you know I got it
All I'm askin'
Is for a little respect when you get home (just a little bit)
Hey baby (just a little bit) when you get home
(Just a little bit) mister (just a little bit)
I ain't gonna do you wrong while you're gone
Ain't gonna do you wrong cause I don't wanna
All I'm askin'
Is for a little respect when you come home (just a little bit)
Baby (just a little bit) when you get home (just a little bit)
Yeah (just a little bit)
I'm about to give you all of my money
And all I'm askin' in return, honey
Is to give me my propers
When you get home (just a, just a, just a, just a)
Yeah baby (just a, just a, just a, just a)
When you get home (just a little bit)
Yeah (just a little bit)
Ooo, your kisses
Sweeter than honey
And guess what?
So is my money
All I want you to do for me
Is give it to me when you get home (re, re, re ,re)
Yeah baby (re, re, re ,re)
Whip it to me (respect, just a little bit)
When you get home, now (just a little bit)
R-E-S-P-E-C-T
Find out what it means to me
R-E-S-P-E-C-T
Take care, TCB
Oh (sock it to me, sock it to me, sock it to me, sock it to me)
A little respect (sock it to me, sock it to me, sock it to me, sock it to me)
Whoa, babe (just a little bit)
A little respect (just a little bit)
I get tired (just a little bit)
Keep on tryin' (just a little bit)
You're runnin' out of fools (just a little bit)
And I ain't lyin' (just a little bit)
(Re, re, re, re) when you come home
(Re, re, re ,re) 'spect
Or you might walk in (respect, just a little bit)
And find out I'm gone (just a little bit)
I got to have (just a little bit)
A little respect (just a little bit)
Os ataques de Trump à imprensa e, de um modo geral, a todos os meios de comunicação livres, mostram que, até na (quase) indestrutível democracia americana, o autoritarismo e as tendências ditatoriais fazem o seu caminho. A era Trump colocou a nu aquilo de que já se falava e que já se sabia há algum tempo: que as pessoas eram cada vez mais manipuladas pelo que se lê nas redes sociais, que há fábricas de invenção de notícias e que a ignorância e a má-fé imperam.
É claro que, para quem joga um jogo viciado, como Trump, ter uma imprensa livre é uma péssima notícia. Daí o ataque constante e violento a todos os que o confrontam, tal como aos seus apoiantes, com as mentiras e as inenarráveis declarações diárias a que nos habituou.
O grito da imprensa norte americana de hoje, com cerca de 300 jornais a assinarem editoriais em que escreve que Os jornalistas não são o inimigo deveria ser repetido e ecoado por todo o lado, nomeadamente em Portugal. A democracia é um hábito que morre rapidamente, se todos os dias não a experimentamos.
Mas é importante que os jornalistas, da imprensa escrita e das restantes formas de comunicação, olhem para si próprios e percebam que também são vítimas de si próprios. Desde o momento em que se constituem actores políticos e entram no jogo da manipulação dos factos, realçando o que pode comprometer uma certa orientação política, esquecendo ou deturpando o que a favorece, quando usam acriticamente as redes sociais, fazendo de caixa de ressonância aos mais aberrantes (pseudo) factos, sem qualquer investigação das fontes e da veracidade dos mesmos, estão a hipotecar a sua isenção e credibilidade informativas. Quando pescam comentários e causas estapafúrdias, com a miragem das audiências e da visibilidade que desejam, quando publicam artigos mal traduzidos e mal escritos, sem qualquer enquadramento histórico e/ ou científico, acabam por se comparar com o lixo pseudo informativo que pulula pela internet.
E é importante que nós próprios, cidadãos, olhemos para a nossa incapacidade de perceber que a imprensa livre não sobrevive sem dinheiro, que a independência económica é uma das mais importantes chaves para o rigor e a exigência, e um dos mais eficazes antídotos contra a corrupção. Se os jornais em papel se pagam também se devem pagar os jornais digitais. Por outro lado a formação, a honestidade e a competência dos jornalistas é semelhante às das outras profissões, não sendo eles super heróis nem párias sociais.
O verdadeiro inimigo é, de facto, a ignorância. É o ingrediente mais fértil para a intolerância, a estupidez, o desprezo pelos outros, o fanatismo. Combater a ignorância é um dever de toda a sociedade, sendo a informação livre um dos seus mais importantes instrumentos.
(…) Estas notícias têm mais proximidade aos interesses económicos, históricos e sociológicos dos portugueses do que qualquer tweet inconsequente de Donald Trump.
Estas notícias dizem mais ao coração de centenas de milhares (milhões?) de imigrantes desses países que residem em Portugal, potenciais leitores de órgãos de comunicação social portugueses, do que qualquer manifestação contra imigrantes num país do centro da Europa.
Estas notícias cumprem todas a regras editoriais que o jornalismo determina, porém, inexplicavelmente, nós, jornalistas, ignoramos ou reduzimos a sua importância à expressão mínima. Preferimos debater, com paixão anacrónica, o nome de um museu sobre a formação do império colonial português.
Durante anos colaborei, alegremente, neste virar de costas do jornalismo português ao mundo da lusofonia. Agora sou obrigado a ver como fui tão burro e como é, desculpem, tão burro o jornalismo português.
(…) Le Pen não vem a Lisboa no quadro de uma delegação da Assembleia Nacional francesa ou do seu grupo de extrema-direita no Parlamento Europeu, como seria seu direito legal. Vem para a Websummit. Ora, não façamos de conta que a Websummit não é um evento político pago e apoiado por todos nós para promover uma determinada imagem de Portugal. Foi-o quando Fernando Medina mandou pôr cartazes, no dia a seguir à vitória de Trump, dizendo (e bem) que Lisboa era “uma cidade de pontes e não de muros”. Foi-o quando António Costa lá foi falar como primeiro-ministro ou quando Marcelo, como presidente, elogiou o evento. E se-lo-á, de uma maneira ou de outra, tanto se Marine Le Pen lá for falar (no mesmo palco que usou Costa) como se vier entretanto a ser desconvidada. Cabe-nos a nós a escolha de lhe dar palco ou de deixar bem claro que lhe recusamos palco. Não há nenhuma escolha não-política. (…)
(…) Ou então o país que sabe que valores são os seus, e que está pronto para dizer: Le Pen representa o contrário daquilo que Portugal é, o contrário da nossa posição na Europa e no mundo, e não a consideramos bem-vinda num evento apoiado pelo nosso governo para promover o pais que somos e queremos ser.
É simples. Não se trata de limitar a liberdade de alguém a quem não faltam canais (nem rublos) para se exprimir. Trata-se de dar uma mensagem política perante um assunto político. É para isto que os estados têm a prerrogativa de declarar alguém persona non grata(informação útil: mantém-se consagrada no direito europeu relativo à liberdade de circulação). Use-se. Sim, Marine Le Pen fará uma birra. Respondam-lhe que é a soberania nacional.
A liberdade de expressão é um valor inestimável e sem o qual não há democracia. Mesmo que alguém defenda o contrário do que eu defendo, mesmo que o considere desprezível, tem o direito de o defender. Mas o que está em causa na reacção negativa ao convite a Marine Le Pen como oradora na Web Summit nada tem a ver com o respeito pela liberdade de expressão.
O governo português abriu os braços à Web Summit e apoiou a sua realização em Lisboa. A Web Summit pretende ser uma plataforma de encontro da vanguarda da tecnologia, por isso Lisboa e Portugal terão interesse em que a visibilidade se faça a partir destas conferências, que chamam gente, turismo e, quem sabe, investimento e emprego.
O que percebemos agora é que, a coberto da atenção mediática, está a ser infiltrada e aporveitada como plataforma para diulgação de ideologia de extrema direita, o que não deixa de ser contraditório com tudo o que a apologia da nova tecnlogia sem fronteiras representa.
Por isso nada de ingenuidade da parte do governo ou de quem representa o Estado. Acho muito bem que se demarquem deste convite e do que ele significa, mesmo que a consequência seja perder a Web Summit 2019. A coerência e a decência podem ter que pagar um preço, que é sempre menor do que o do oportunismo e o do cinismo político. Marine le Pen terá com certeza oportunidade de dizer o que pensa em eventos organizados por entidades privadas, sejam elas quais forem, sem apoios públicos. E só irá ouvi-la quem quiser.
1.
Será a manhã inteira nos meus passos
tão suaves e decididos como carícias
será o dia morno de arvoredo
sussurrante e melodioso como pássaros
será feito de novo o meu dia
transformando medo em poesia.
2.
Tanto que juntamos as mãos
como se a pertença nos chegasse
tanto que olhamos o céu
como se a imensidão nos acalmasse
tanto que usamos o corpo
como se a juventude nos sobrasse
tanto que apertamos a vida
como se a eternidade nos faltasse.
3.
Gasto a vida sem que saber como se usam
as inesperadas manhãs em que se misturam
sonhos e actos numa consumada
ligação incestuosa.
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