Habituei-me a lidar com a exigência, a pontualidade, as regras, a voz de comando. Aprendi as conversas, os livros, a necessidade de pensar e reflectir. Cresci a sentir a seriedade, o sentido do dever, do serviço, da obrigação, da superação.
A minha casa era o espelho do que julgava ser o mundo. Sempre a fazer mais e melhor, independentemente de qualquer necessidade ou mesmo esperança de reconhecimento, fazer o máximo como um dever. À medida que os anos passaram percebi que a minha casa não era a norma, nem um hábito generalizado. À medida que fui assumindo outras responsabilidades reconheci que a minha casa era, de algum modo, extraordinária.
E ontem, mais uma vez, ao ouvir o que pessoas a quem tanto devemos diziam do meu pai, ao ver tanta gente a comover-se, a cumprimentá-lo e a agradecer-lhe o exemplo, ao ler o seu percurso descrito por pessoas estranhas à minha casa, posso assumir sem pudor que sou filha de um pai extraordinário.
A Clairière de l'Armistice é o local onde se encontra uma réplica da carruagem de comboio onde foi assinada a rendição da Alemanha, na I Guerra Mundial, a 11 de Novembro de 1918 e onde também foi assinada a capitulação da França, na II Guerra Mundial, a 22 de Junho de 1940.
Esta carruagem, no fim da I Guerra, foi colocada na zona onde está agora, não exactamente no mesmo sítio, tendo sido comprada pelo Governo Francês e restaurada para que fosse o símbolo vivo da vitória dos Aliados.
Mas Hitler, vingando-se dos Franceses quando, em poucas semanas, esmagou a França, decidiu que a suprema humilhação destes e a suprema vitória dele seria obrigar a França a assinar a sua rendição precisamente na mesma carruagem e precisamente no mesmo sítio. Para isso foram demolidas as paredes do museu para a conduzir exactamente ao mesmo local.
Após a assinatura do Armistício de 1940, a carruagem foi transportada para Berlim.
Em 1945, com o avanço das forças aliadas sobre Berlim, foi levada para a Turíngia, onde foi incendiada pelas SS por ordem de Hitler. A que vemos de novo na Clairière é uma carruagem adquirida novamente pelo governo francês, da mesma série da original (2419D), e recolocada com um museu adjacente.
Compiègne foi a última etapa. Tanto que ficou por ver, tanto que ficou por saber. As brumas adensam-se outra vez sobre a Europa. As crises da democracia, bem visíveis nos aproveitamentos populistas dos líderes de extrema direita, manipulando o medo do desemprego, e a insegurança, fazendo dos estrangeiros e dos refugiados o bode expiatório dos problemas económicos e do terrorismo, incentivando a xenofobia e o racismo, fazem temer uma nova ascensão das ditaduras, do nacionalismo e do racismo.
É essencial que nos lembremos do resultado dessas falácias e das manipulações que não são novas mas são sempre perigosas. É essencial que nos informemos e não cedamos ao medo. O conhecimento é o nosso melhor amigo.
Aproximando-nos já a largos passos do fim desta espécie de peregrinação, fomos para Albert, uma cidade no departamento do Somme, que foi vastamente martirizada durante a I Guerra Mundial, precisamente na Batalha do Somme, uma ofensiva dos exércitos aliados, especificamente do Francês e do império Britânico, contra o Alemão. Iniciou-se a 1 de Julho e terminou a 18 de Novembro de 1916 e foi a mais sangrenta da Grande Guerra, com cerca de 1 milhão de homens mortos ou feridos. O primeiro dia da batalha foi ainda a mais mortífera para os ingleses, que perderam 57.470 homens, entre Albert e Bapaume.
Em todo o caminho vamos encontrando vários memoriais e monumentos que lembram episódios da guerra, inúmeros cemitérios de australianos, ingleses, etc.. Um deles, que ficava no local mais elevado da Batalha, onde se encontrava um moinho, lembrava a bravura e heroicidade dos australianos.
Noutro local presta-se homenagem ao Regimento do Newfoundland, um território pertencente ao Império Britânico que foi quase totalmente dizimado nesse primeiro dia da Batalha do Somme - 80% de mortos, feridos e desaparecidos, a maior parte deles nos primeiros 30 a 60 minutos de combate. Vimos ainda outro monumento que recorda a utilização de tanques, em Poizières. Uma enorme quantidade de memoriais, cemitérios e locais de homenagem em relação aos caídos no Somme.
Chegados a Albert, num dia que começava a clarear, nada melhor que um café (que, convenhamos, poucos franceses sabem fazer) antes de nos aventurarmos pelo Musée Somme - 1916. Entrámos num café com aspecto simpático, decididos a beber um capuchino (deliciosa alternativa depois do meu companheiro se ter lembrado da iguaria). À porta dos toilettes um aviso importante e peculiar...
... apenas porque 5 minutos não dá para grandes leituras, mas mesmo assim...
... havia um confortável sofá para esperarmos, convidando a puxar de um livro.
Certos do grande amor pela literatura dos habitantes e visitantes de Albert, entrámos no museu do Somme. Depois de descermos para uma espécie de túnel subterrâneo, onde se encontrava um magote de adolescentes (ingleses) ruidosos de mais, assistimos primeiro a um filme de 15 minutos sobre a Batalha do Somme e os vários locais a visitar, para percorrermos depois uma espécie de trincheira onde se expunham várias cenas, muito bem montadas, sobre a vida dos militares nas trincheiras, com fardamentos, equipamentos, restos de armas e cacos de utensílios de todos os dias - higiene, saúde, alimentação, etc. - que dá uma ideia muito nítida do que deve ter sido aquele inferno e como se incorporava uma espécie de normalidade, inclusivamente com artesanato que os soldados faziam com os restos do metal das bombas, das balas, etc.
Há ainda uma vitrine que lembra os feridos na face e os problemas de reconstituição cirúrgica e da evolução das próteses, através de fotografias de uma associação criada na altura pelo Coronel Picot - Union des Blessés de la Face et de la Tête ou, mais prosaicamente,Gueles cassées. No fim da "trincheira" pudemos ver o que tinha acontecido com o militar do qual nos tinham dado, à entrada, uma reprodução da sua carta militar. Tinha morrido, como tantos e tantos outros.
Ficámos alojados mesmo em frente à Catedral, num turismo de habitação muito simpático. O fim de tarde e a noite estavam tão fantásticos que jantámos na esplanada do "La Basilique".
Toda a Flandres (na França e na Bélgica) foi transformada num enorme cemitério, na altura da Primeira Grande Guerra. Particularmente em Ypres, as ruínas em que ficou demonstra bem a violência dos ataques que sofreu. Todos os exércitos aliados tiveram pesadas baixas e os canadianos foram expostos aos primeiros ataques com gás mostarda por parte dos alemães.
Ypres - Catedral em ruínas
Na porta (Gate) de Menin Road (Menenpoort em flamengo), tal como ficou conhecida pelas tropas britânicas e dos países da Commonwealth que ali lutaram e morreram durante os anos da guerra, foi erigido um Memorial aos milhares de soldados que nunca foram identificados ou encontrados, sem sepultura conhecida. Os seus nomes estão gravados por todo o interior do memorial.
Este memorial foi inaugurado em 1927 e, um ano depois, um grupo de ilustres cidadãos de Ypres encontrou uma forma de mostrar a sua gratidão a todos os que tinham morrido pela libertação da Bélgica. Diariamente, às 20:00h, é tocado o toque militar aos mortos – The Last Post, na porta do Memorial, no lado oriental de Ypres. A primeira cerimónia foi a 1 de Julho de 1928 e, desde esse dia, com um intervalo de alguns meses até 11 de Novembro de 1929, todos os dias à mesma hora é tocado o last post, com excepção dos 4 anos da ocupação germânica de Ypres, durante a II Guerra Mundial (20 de Maio de 1941 a 6 de Setembro de 1944).
Todos os dias se junta uma multidão, aguardando a cerimónia. Repentinamente faz-se um silêncio total e todos os que conversavam animadamente se calam ao som das cornetas. É muitíssimo dramático e comovente e eu, que muito facilmente me comovo, chorei mesmo durante aqueles minutos. Há sempre alguém que declama uma das estrofes de um poema de Robert Laurence Binyon – The Fallen:
They shall grow not old, as we that are left grow old:
Age shall not weary them, nor the years condemn.
At the going down of the sun and in the morning
We will remember them.
Este foi um dia muito preenchido por emoções, como todos os que dedicamos a conhecer e a visitar tudo o que tem a ver com as duas grandes guerras. Já durante a manhã tínhamos visitado o Cemitério Militar Português de Richebourg, onde estão sepultados 1831 corpos de soldados portugueses, 238 sem identificação, mortos durante a campanha do Corpo Expedicionário Português, predominantemente na batalha de La Lys.
Tanta juventude ceifada por todo o lado, nesta Europa que deveria ter aprendido com a sangria de 1914 – 1918, que voltou a sangrar entre 1939 e 1945, e que está, a pouco e pouco, a ressuscitar tantos fantasmas que julgávamos enterrados de vez, como a xenofobia e o racismo.
Lille
Visitámos ainda, ao pé de Lille, na vila de Ascq o local aonde se deu o massacre de Ascq – uma resposta mortífera e totalmente desproporcionada de tropas alemães a um atentado feito pela Resistência (1 de Abril de 1944) a um comboio que transportava equipamento militar alemão. Do atentado não resultaram feridos e os danos materiais forma mínimos, mas as tropas SS chacinaram 80 civis. O local passa totalmente desapercebido e, pelo estado em que se encontra, dá a sensação de que os próprios franceses não lhe dão qualquer importância.
O dia acabou num excelente restaurante em Ypres, onde também se vendiam louças e outros utensílios e decorações de cozinha, chamado DÉPOT. Uma tábua de queijos, patés e enchidos, bem regados com cerveja, da menos alcoólica, diga-se, pois as da casa, premiadas, tinham cerca de 8 graus, deu-nos o alento que necessitávamos depois de tão grandes emoções.
A ideia era passar em Crecy, local da batalha do mesmo nome, um dos confrontos entre franceses e ingleses (que o ganharam) na Guerra dos Cem Anos (26 de Agosto de 1346). Sabíamos inclusivamente que havia um museu que gostaríamos de visitar.
Sítio da batalha de Crécy
Até lá percorremos quilómetros e quilómetros de terra plana, totalmente cultivada, em que não se via vivalma. Passámos por alguns agrupamentos de casas, de vez em quando, onde fomos obrigados a respeitar uma velocidade máxima de 50 ou 30 Km/h, até chegarmos ao poiso escolhido para a noite. Confesso que estava um pouco apreensiva, pois apesar do meu tão apregoado amor pelo campo, pelo silêncio e pela solidão, tanta solidão, tanto silêncio e tanto campo também me pareciam um pouco exagerados. Só me lembrava que de noite, se o céu estivesse limpo (o que não era o caso), poderíamos ver um céu totalmente estrelado, pois não se via uma única luz à volta, nem de casas nem pública. Ou como estava nublado, seria de uma escuridão assustadora.
Mas o sítio em que ficámos - La Nicoulette, em Saint Riquier, Gaspennes – era muito simpático, num quarto húmido, mas acolhedor e confortável. O rapazinho que nos recebeu, o filho do dono, aí com os seus 10 anos, totalmente desembaraçado, a explicar-nos as especificidades da chave e da abertura da porta, em francês e em inglês, era enternecedor.
Fomos então em busca do museu de Crécy, que encontrámos. Era composto de 3 salas, 1 dedicada à Batalha de Crécy, outra com a exposição de vários artefactos arqueológicos da Idade Média encontrados na zona, e outra dedicada à II Guerra Mundial, pois em Poitiers estavam localizadas as rampas de lançamento das bombas voadoras V1.
O senhor que nos atendeu foi amabilíssimo, fartou-se de conversar sobre as batalhas de Crécy e Azincourt, sobre a Guerra dos Cem Anos e sobre bombas voadoras. A sua felicidade era evidente. Suspeito que não serão muitas as vezes em que um dos visitantes sabia tanto do assunto, dando-lhe oportunidade de trocar impressões e falar sobre as dinastias inglesas e francesas, dos Borguinhões e dos Armagnacs, das tácticas de batalhas medievais, etc. Acompanhava-o uma senhora, apresentada como sócia da Association EMHISARC, que estava verdadeiramente deliciada com o(s) visitante(s). Um muito pequeno núcleo museológico mas que nos deu um prazer imenso visitar.
Museu de Crécy
No dia seguinte, depois de um pequeno almoço revigorante e completamente caseiro, partimos precisamente para Azincourt, onde partilhámos a visita ao museu com um grupo de miúdos de uma escola local, dos seus 8 ou 9 anos, que estavam divertidíssimos a experimentar a força que os besteiros tinham que fazer para poderem disparar as bestas, mas que se aborreceram mortalmente a ouvir excertos de Henrique V, de Shakespeare. A rapariga que guiava a visita, muito jovem, estava totalmente compenetrada do seu papel e desempenhava-o muito bem.
A seguir a 1944 (desembarque na Normandia) e a 1942 (Dieppe), só faltava uma batalha, ou o que dela resultara, de 1940 - Batalha de Dunkerque. Da praia foram depois evacuados cerca de 340.000 soldados, predominantemente britânicos mas também franceses (alvos fáceis de bombardeamentos inimigos), fugidos e cercados pelos alemães que, entretanto, tinham avançado pela França a uma velocidade avassaladora. Foram resgatados por milhares de barcos ingleses, numa operação chamada Dínamo (esta operação foi tema de um filme de que já aqui falei).
A praia é grande, um areal imenso que é difícil imaginar pejado de homens, aguardando pelo seu resgate.
Sentimo-nos mesmo bem vindos, numa casa recuperada para turismo de habitação, com uma dona que adorava Portugal e nos contou as suas experiências gastronómicas em Guimarães, com cabrito assado.
Em Dieppe o dia começou frio mas foi clareando pela tarde. Vimos o Sol a aparecer e a azular o céu, o que deu outras cores a todas as casas do porto. Muitos barcos, muita gente a passear, muito borbulhar de vozes, muitos cafés e muitas brasseries. Como era hora de almoço regalámo-nos com umas moulesmarinières e à la crème, acompanhadas de cidra e de cerveja.
Depois deambulámos pela praia onde, em 19 de Agosto de 1942, houve uma tentativa de desembarque dos aliados, predominantemente com tropas Canadianas – operação Jubileu, que foi completamente repelida pelos alemães, tendo havido um enorme massacre: dos cerca de 8000 homens 1800 morreram. O comportamento dos locais foi perfeitamente neutral até perceberem o desfecho da operação quando passaram a colaborar com os alemães, na captura dos canadianos que tentavam fugir.
Não é difícil imaginar o horror, mesmo olhando para aquela praia quase deserta, a enorme quantidade de militares a tentar desembarcar os equipamentos, a serem metralhados e bombardeados sem conseguirem avançar, amontoando-se uns em cima dos outros. Tenho lido várias vezes que se tratou de um teste ao desembarque na Normandia, talvez como forma de justificação de uma operação que correu tão mal.
Entretanto, e já com Sol, começámos a ver um comboio de barcos todos engalanados com flores e bandeiras a encaminharem-se para o mar. Foi-nos explicado que era a fête de la mer. Não consegui encontrar a explicação nem a génese deste costume, que é bem o retrato de um domingo em paz.
Antes de chegarmos a Rouen passámos por Lisieux para tomar um café. Havia um mercado de rua (era sábado), do mesmo tipo das nossas feiras por todas as pequenas cidades e vilas de província. Encontrámos uma banca que vendia livros em segunda mão, tendo sido obrigatória a compra de alguns livros de banda desenhada de Achille Talon, muito apreciado por certas pessoas.
Rouen é célebre por vários motivos, um deles a sua catedral, enorme, de estilo gótico, não só por ter sepultado o coração de Ricardo, Coração de Leão, mas também pelo facto de ter sido pintada por Monetnuma série que retrata as suas diferentes luminosidades, com pelo facto de ter sido ficado bastante destruída pelos bombardeamentos aliados em 1944.
Claude Monet
No centro histórico as casas têm cores acastanhadas e ocre e traves que se cruzam formando ângulos rectos. Encontrei uma num equilíbrio bastante instável, inclinada para o lado esquerdo, quase como se fosse desabar. Demos uma volta num daqueles pequenos comboios turísticos, aproveitando para descansar um pouco.
Sempre tive uma grande curiosidade pela figura de Joana d’Arc. É uma história romântica, quase inacreditável, mais olhada como uma lenda do que como um facto histórico. Uma rapariga humilde, filha de agricultores que, guiada por Deus, se transforma numa guerreira que luta e ganha batalhas pela França, que consegue levar um rei à coroação e que é aprisionada, julgada e morta como herege por um tribunal religioso, sendo queimada viva.
Tem tudo para ser inacreditável e espantosa – a ascensão de quem nada pode e nada tem, uma rapariga que se veste de homem para passar segura entre homens, num tempo em que isso era visto como um atentado às leis dos homens e de Deus, a capacidade que tinha de galvanizar as pessoas, de todas as camadas sociais, a sua religiosidade – ouvia vozes de santos e santas – que convencia militares e reis (ou aspirantes a reis).
Por isso foi com todo o entusiasmo que fui ouvir e ver a história de Joana d’Arc, em Rouen. A história é contada com recurso a uma recriação do julgamento póstumo, 25 anos após a sua morte, que a inocentou dos crimes de que foi acusada e que levaram à sua condenação a morrer queimada. De facto interessante, mas tão prolongada e tão arrastada que, depois de ter subido uma interminável escada em caracol (íamos passando de sala em sala), decidi que já estava esclarecida.
Joana d’Arc foi canonizada já no séc. XX, 5 séculos depois de ter vivido (e morrido). A sua história inspirou muita literatura, filosofia, teatro, poesia e cinema, tendo havido já inúmeros filmes que se debruçaram sobre a sua personagem. Vi um deles, há bastantes anos, protagonizado por Ingrid Bergman, uma das minhas actrizes preferidas.
É-me muito difícil compreender como foi possível a uma mulher tão jovem e tão simples e, muito provavelmente iletrada, que ouvia vozes, ter tido audiência junto de um pretendente ao trono e dos seus mais directos colaboradores. Mas a verdade é que quando o desespero impera, tudo vale e a fé pode mover montanhas. Ainda hoje é assim, mesmo com toda a ciência e toda a tecnologia existente.
(...) E assim não nos darmos conta de esta ser também uma tragédia nossa. A de termos media que desde 2003 se especializaram nas acusações sem provas, coadjuvados por um cada vez maior grupo de comentadores para quem o Estado de Direito é uma maçada, uma desnecessidade até. A de termos um ministério público que continua a ostentar em alguns casos interpretações romanceadas, canalhas, voyeuristas e preconceituosas de "provas" e chegou agora ao ponto de permitir -- se nada faz para impedir nem punir, permite -- a exibição televisiva de vídeos de interrogatórios. A de termos uma justiça na qual algo como o que fizeram a Paulo Pedroso sucede e que não é capaz de o reparar, de tornar claro que é inadmissível, que tem de haver consequências e que, sobretudo, não pode mais acontecer. O que, claro, quer dizer que não temos justiça. Mas, está visto, não nos faz falta: temos a nossa opinião. Como aquela pessoa que em 2003 me disse: "Já viste que ele não tem barba? Tem mesmo cara de pedófilo."