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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
A dois dias da Consoada não há refúgio
para o silêncio, nesta cidade em que o atropelo das compras
e o farfalhar dos papéis, misturados no perfume da indiferença,
nos arrasam qualquer tentativa de mergulho
na bonomia ornamental.
Piazzola acompanha-me mas estou
tão deslocada, que quase flutuo entre cinzentos
e dores desconhecidas, tristezas e desesperanças,
que me chegam apenas a nível celular. Por vezes
podemos brincar aos deuses e anunciar
boas novas. É nessas alturas
que me sinto
no Natal.
Vamo-nos habituando ao horror, retomamos as nossas vidinhas. Há guerra na Síria, no Iraque, na Palestina, atentados em África, na Ásia e na Europa.
E é na Europa que mais nos dói, não porque não nos doam todas as outras mortes, todas as outras atrocidades, mas porque é dentro da nossa casa, dentro das nossas portas.
Sobressalto, horror, desfalecimento psicológico, depois a rotina, Isto já é rotina.
Mas teimamos em manter as portas abertas, não podemos ceder ao medo. Teimamos em ir vivendo, atentado após atentado, assassinato após assassinato.
E é da liberdade que não podemos prescindir. Da liberdade, do direito a uma vida digna e em segurança, da liberdade de ser respeitado e respeitar.
Agora foi em Berlim.
Cortam-se bocadinhos de raíz de gengibre, casca de limão e paus de canela e faz-se uma infusão. Bebe-se, em litradas, assim mesmo ou com mel.
Queriam também que colocasse Vicks VapoRub na planta dos pés - recusei liminarmente.
Havia ainda o pormenor de calçar depois umas meias quentes.
Um homem senta-se e afasta o trigo do joio
espera que o seu semelhante cresça e se misture
com o joio e o trigo para que sempre se afaste
e se sinta crescer semelhante na espera.
Uma mulher deita-se e espera o homem
no dia do início da tarde em que se fez dia
como o eterno leito para que sempre se deite
e para sempre espere pela tarde do dia inicial.
Um homem e uma mulher amassam a costela
que um do outro nasceu e de imediato separou
como a massa em que se fizeram e morreram
na costela que um e outro para sempre remendaram.
Patti Smith
Prémios Nobel 20016
Bob Dylan (1964)
Oh, where have you been, my blue-eyed son
And where have you been, my darling young one
I've stumbled on the side of twelve misty mountains
I've walked and I've crawled on six crooked highways
I've stepped in the middle of seven sad forests
I've been out in front of a dozen dead oceans
I've been ten thousand miles in the mouth of a graveyard
And it's a hard, and it's a hard, it's a hard, and it's a hard
It's a hard rain's a-gonna fall
Oh, what did you see, my blue-eyed son
And what did you see, my darling young one
I saw a newborn baby with wild wolves all around it
I saw a highway of diamonds with nobody on it
I saw a black branch with blood that kept drippin'
I saw a room full of men with their hammers a-bleedin'
I saw a white ladder all covered with water
I saw ten thousand talkers whose tongues were all broken
I saw guns and sharp swords in the hands of young children
And it's a hard, and it's a hard, it's a hard, it's a hard
It's a hard rain's a-gonna fall
And what did you hear, my blue-eyed son?
And what did you hear, my darling young one?
I heard the sound of a thunder that roared out a warnin'
Heard the roar of a wave that could drown the whole world
Heard one hundred drummers whose hands were a-blazin'
Heard ten thousand whisperin' and nobody listenin'
Heard one person starve, I heard many people laughin'
Heard the song of a poet who died in the gutter
Heard the sound of a clown who cried in the alley
And it's a hard, and it's a hard, it's a hard, it's a hard
It's a hard rain's a-gonna fall
Oh, what did you meet, my blue-eyed son?
Who did you meet, my darling young one?
I met a young child beside a dead pony
I met a white man who walked a black dog
I met a young woman whose body was burning
I met a young girl, she gave me a rainbow
I met one man who was wounded in love
I met another man who was wounded with hatred
And it's a hard, it's a hard, it's a hard, it's a hard
It's a hard rain's a-gonna fall
And what'll you do now, my blue-eyed son?
And what'll you do now, my darling young one?
I'm a-goin' back out 'fore the rain starts a-fallin'
I'll walk to the depths of the deepest black forest
Where the people are many and their hands are all empty
Where the pellets of poison are flooding their waters
Where the home in the valley meets the damp dirty prison
And the executioner's face is always well hidden
Where hunger is ugly, where souls are forgotten
Where black is the color, where none is the number
And I'll tell it and think it and speak it and breathe it
And reflect it from the mountain so all souls can see it
Then I'll stand on the ocean until I start sinkin'
But I'll know my song well before I start singin'
And it's a hard, it's a hard, it's a hard, it's a hard
It's a hard rain's a-gonna fall
Podem experimentar que é muito bom. Pelo menos eu gosto.
Esta foi uma ideia de uma colega minha, que me desafiou a fazer geleia de champanhe. Confesso que nunca tinha ouvido falar de tal mas, numa coincidência engraçada, uns dias depois ofereceram-me geleia de vinho, que é bastante interessante.
Como não sou de ignorar um tal desafio, inaugurei a época de confecção natalícia com a dita geleia. Para me inspirar fui à internet ver receitas (está lá tudo). E cumpri (quase) à risca a receita que vi.
Cozi um quilo de maçãs cortadas em quartos, com casca mas sem sementes num litro de água, durante 40 minutos (royal gala - que têm bastante teor de pectina). Escorri as maçãs, medi 600 ml do líquido restante e misturei com o sumo de 2 limões, 500 gr de açúcar e uma garrafa de espumante (achei que para experimentação científica bastava).
Deixei ferver até que começaram a formar-se muitas bolhas na superfície do cozinhado. Usei o truque de deitar um pouco num prato frio e ver se fazia ponto de estrada, para verificar o ponto. Logo que isso se verificou desliguei o lume – estava pronta.
Claro que depois ficou a remanescente maçã em papa, com as cascas. Retirei as cascas e misturei a papa de maçã com uma colher de chá de gengibre em pó, outra colher de chá de canela e um pouco de açúcar. Depois juntei amendoins, sultanas e favas fritas, deitei tudo para um tabuleiro de ir ao forno e deixei a assar (forno médio) durante 20 minutos.
Ontem aproveitei também para me desfazer de uma abóbora que carinhosamente me tinham dado (já há algumas semanas) adulando-me indecentemente com os elogios a uma compota de abóbora com chocolate que tinha feito o ano passado. Portanto repeti a dose e já está enfrascada, assim como a geleia de espumante. Começam a compor-se os cabazes de Natal.
Para o próximo fim de semana será a vez dos licores.
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