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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Adam from roots
1.
Amadurecem as árvores calcinadas
raízes de ossos e pedras.
O ofício das luzes que despertam
e diariamente arrancam fibras secas.
O ofício das ondas que as mães desdobram
na ternura das despedidas.
Abrem folhas que rezam desmaiadas
de mansidão na revolta do fim.
2.
Não me conheço nestas manhãs de gelo
em que o mundo infiltra agasalhos sem afecto.
Nas tuas mãos encontro consolo
como a terra macia que me espera.
Em O Silêncio dos Livros José Tolentino Mendonça falou-nos da necessidade do mesmo para quem trabalha a palavra, dos sentidos, dos paradigmas em mudança, da massificação e do autoritarismo das normas.
Em Não me interpretem mal - os protagonistas do Governo Sombra, da forma bem disposta que lhes é habitual, levantaram o problema da ameaça à liberdade de expressão por parte dos bem intencionados autoritarismos, nomeadamente de esquerda. O incómodo e a ofensa de alguns, minorias ou maiorias, não pode justificar o silenciamento das mais variadas formas de expressão.
Como fugir ao que já foi escrito - interessantíssima tertúlia onde realço João Felgar, que de juiz passou a escritor, contra os avisos de quem lhe disse que tudo já tinha sido escrito, mesmo contra os conselhos de editores que enaltecerem as virtudes, a técnica e a facilidade do género policial, desde que o autor desse a entender escrever sobre casos por si protagonizados, mesmo contra o torcer do nariz editorial sobre temas nunca antes tratados, como as ratazanas do convento de Mafra.
Tradutores, contrabandistas da literatura - uma mesa em que a importância e a delicadeza da tradução foi discutida, assunto a que somos habitualmente alheios e distraídos. E no entanto os tradutores são os responsáveis pela divulgação da maior parte da literatura. Sem eles não nos seria possível termos acesso a livros de outras línguas que não as nossas e a obras de William Shakespeare, traduzidas por Ana Luísa Amaral, ou de Milan Kundera, traduzidas por Inês Pedrosa.
Escrevo o que quero escrever, nunca escrevo o que quero - a partir desta frase contraditória e quase misteriosa, falou-se de liberdade, de política e do comprometimento do escritor ou da sua falta, e da impossibilidade de atingir a perfeição.
Em Escrever é ganhar e perder - assisti a uma magistral lição sobre Literatura e História, pela voz de Miguel Real, sobre os grandes perdedores em vida/ ganhadores após a morte, de 4 escritores portugueses - Luís de Camões, Padre António Vieira, Eça de Queiroz e Fernando Pessoa.
Neste congresso literário, a que assisto pela segunda vez, toquei ao de leve aquele mundo paralelo que tanto me encanta. Os burburinhos, as conversas entre os vários escritores, as histórias contadas com a graça e a confiança de quem já anda nestes mundo há muito tempo, mostram um canto da existência e uma parte da nossa grande riqueza cultural, aquela área em que se deveria investir para melhorar a economia do País. Ainda bem que, finalmente, o Ministro da Cultura esteve presente na sessão de abertura.
Javier Cercas foi o vencedor do Prémio Casino da Póvoa com o livro As leis da fronteira. É um autor que conheço de livros anteriores muitíssimo bons, pelo que estou muito curiosa para ler este e sobretudo o anterior
A direita desesperada tem produzido afirmações absolutamente obscenas, mas que não parecem indignar os nossos comentadores do costume. Não se sente o sobressalto ao ouvir o ridículo de afirmações como a de Passos Coelho, que acusa o governo de ajoelhar perante a Europa. É de uma desvergonha a que não consigo habituar-me.
Entretanto e calmamente, ao fim de tantos profetas da desgraça a vaticinarem as reticências do PCP e do BE, eis que o Orçamento será aprovado por toda a esquerda parlamentar, cumprindo o compromisso que a que se obrigaram - o PS a governar com o acordo do PCP, do BE e dos Verdes, O PCP, o BE e os Verdes a apoiarem o governo do PS.
Para o ano, logo se vê.
Tudo é demasiado nesta praia que desmaia
tudo em demasia nesta fria
mansidão da desistência.
O amor como penitência
em desalmada vontade de não ser.
Me ocupas la mitad del corazón,
un pulmón, una oreja, un brazo, un ojo,
una pierna, un riñón, medio cerebro.
Me inutlizas la mitad de mí,
funciono a medio gas, respiro poco,
me muevo con torpeza, pienso mal,
me fatigo, soy lenta.
Del alma no te basta la mitad,
me la has robado toda.
Falsa Pimienta
Editorial Renacimiento
2013
Fogem-me os dedos pelos machados
cortando pedaços de abandono
que sangram copiosamente
e empapam de palavras
os gestos decepados que se ignoram
os olhos que se encerram e evaporam.
Espantam-me os dedos isolados
das mãos e dos braços afastados
almas empoeiradas e esquecidas
enterradas em poemas por dizer.
Si me dicen que estás al otro lado
de un puente, por extraño que parezca
que estés al otro lado y que me esperes,
yo cruzaré ese puente.
Dime cuál es el puente que separa
tu vida de la mía,
en qué hora negra, en qué ciudad lluviosa,
en qué mundo sin luz está ese puente,
y yo lo cruzaré.
Falsa Pimienta
Editorial Renacimiento
2013
Caindo na surdez da noite agigantam-se
as sombras que o vento pinta
e as árvores murmuram rezas de mochos.
Quantos medos reflexos e corpos encolhidos
se esquecem de si na luz coada da madrugada
desfeita de mudas incertezas
e voam aclarando o caminho
na voz que nos forra de carinho.
Sim, não é o orçamento original. Sim, pode ter surpresas desagradáveis. Sim, pode não ser cumprido. Sim, as previsões podem ser optimistas.
Sim, o governo legítimo português negociou com Bruxelas, longa e duramente.
Sim, o orçamento vai passar com o acordo dos partidos que sustentam o governo..
Sim, o Estado terá poder de veto na TAP.
Que refrescantes novidades.
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