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Leonardo da Vinci
Por vezes num só mês cabem décadas
num só Agosto desidratam as esperanças e renascem as memórias.
Dia a dia penosamente se ultrapassam os medos.
Num mês de insónias, pequenas e simples são as vitórias que nos comovem.
Finalmente acaba Agosto.
Setembro promete Outonos de carinho e renovação.
À margem das disputas entre cartazes e debates, vou deixando passar o tempo, totalmente alheada da política. Quando ouço resultados de sondagens e opiniões argumentativas de comentadores, traçando cenários sobre o futuro, com previsões mais ou menos assumidas, consoante o pendor das suas crenças, pergunto-me o que de real haverá nestes resultados e nestas opiniões.
A descrença em qualquer informação que leia ou ouça nos jornais é tal que me vejo a duvidar dos dados do INE, das notícias sobre empresas e empresários, dos resultados de execuções da execução fiscal, das extraordinárias e voláteis promoções de pessoas aparentemente desconhecidas, das informações sopradas para os jornalistas que reproduzem de forma acéfala o que se planta nas redes sociais.
Qualquer raciocínio que faça sobre a actualidade está condenado a ser desmontado por dados que entretanto surgem do mesmo nada e que demonstram que os primeiros estavam errados, eram parciais ou, pura e simplesmente, tinham sido inventados.
Não podemos confiar nas informações divulgadas pelo jornalismo clássico. Com o espectro do anacronismo a assustar a classe, não há nenhum jornal que se queira distinguir pelo rigor, profundidade e variabilidade de assuntos e casos – resolveram copiar as linhas editoriais dos blogues, do facebook e das caixas de comentários, desistindo do cruzamento de fontes, investigação de factos, utilização de motores de pesquisa da internet, já para não falar na mais básica utilização do respectivo cérebro, o que se tornou numa raridade, nos tempos que correm.
Vogo por isso no mar da intranquilidade abúlica e enevoada, sem confiar em nada nem em ninguém. A sensação que tenho é há duas realidades – a da imensa maioria da população, que não ouve as notícias, não lê jornais e tenta sobreviver o melhor possível ao quotidiano, sofrendo as dores da pobreza, do miserabilismo, do desemprego, do contar do tostão, todos aqueles que ainda se não aperceberam da grande melhoria do estado do País, e a de um escasso grupo de pessoas, que se considera uma elite que se alimenta de si própria, inventando e confabulando sobre tudo e todos, convencida da sua razão de que a ela que se deve a interpretação da nossa sociedade.
Estamos inundados de culpa e moralismo. Os políticos não defendem ideias mas afirmam as suas qualidades morais de honestidade e seriedade, independentemente do ridículo e da hipocrisia reinantes. Refaz-se a História à luz dos moralismos actuais, com uma interpretação de factos e acontecimentos numa sociedade que já não tem nada a ver com a sociedade em que ocorreram. A moda e o politicamente correcto da assunção de culpa e dos pedidos públicos de desculpas destrói a discussão dos verdadeiros problemas para ir entretendo e distraindo as pessoas com a intoxicação do bem e do mal.
Em vez de se discutir o emprego e o desemprego discutem-se cartazes de propaganda política, apenas do PS, claro, que os outros não têm mácula. Transforma-se aquilo que devia ser uma troca de ideias numa batalha de banalidades, numa tralha infame de palavras e pseudo sentimentos sem qualquer interesse ou sustentação.
O que mais me preocupa é que a esquerda, que tanto se apregoa de esquerda e dos valores da liberdade e da lei, foram e estão submersos por esta estranha amálgama de mediocridade, deixaram-se arrastar para o lodo e vão-se afundando. As máquinas de propaganda estão desligadas daquilo que verdadeiramente envolve e motiva o voto dos cidadãos.
Ao contrário de Viriato Soromenho Marques não me parece que o PS tenha que pedir desculpas ou assumir responsabilidades da Troika ou de políticas que vêm desde Cavaco Silva. Essas responsabilidades são assumidas e são julgadas politicamente pelos eleitorados aquando das eleições legislativas. O problema da justiça em Portugal vai muito para além de Sócrates e Sócrates é apenas um exemplo.
A angústia que permanece, com a consequente desertificação da mobilização eleitoral, é a falta de clareza e a coragem de assumir riscos - falar de inconveniências que podem levar à vitória ou à derrota eleitoral - o PS fez coisas erradas e certas ao longo da sua História. A direita conseguiu empurrar o PS para o canto da defesa permanente, não tendo este sido capaz de explicar as vitórias e de explorar as desastrosas políticas da direita. Na verdade o PS tem o caminho totalmente minado pela manipulação informativa. Mas o PS tem que marcar a agenda política e ter a coragem de falar de tudo o que for preciso, sem complexos de culpa, não aceitando a política do genuflexório, confissão e penitência perpétuos.
Que voltem os valores republicanos e da liberdade para que termine este deprimente retrocesso civilizacional.
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