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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Mia Couto
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(...) Mesmo moderando a linguagem, e como aconteceu há 75 anos no caso do colaboracionismo com a Alemanha, fica-nos a sensação que entre os parlamentares socialistas europeus, anda tudo a apanhar bonés na atitude comum a adoptar por eles em relação à crise grega. Ainda muito recentemente, Martin Schultz, o presidente do parlamento europeu e também a cara mais conhecida desse socialismo europeu deixou-se apanhar numa troca de galhardetes com um eurodeputado grego do Syriza com ar de avozinho (acima), de onde só pôde sair mal na fotografia. Mas, para quem pense que a outra esquerda, a comunista (dialéctica), mostrar-se-á mais lúcida na estratégia e nos princípios políticos em discussão, pode desiludir-se acompanhando o comportamento do Partido Comunista Grego (KKE) que num dia convoca uma manifestação contra a austeridade para a frente do Parlamento grego para, no dia seguinte, e lá dentro, votar contra a proposta de realização de um referendo a esse respeito. Isto deixa o caminho aberto para quem, opondo-se ao projecto dito europeu por muito que não gostemos de os ouvir, tem discursos (aparentemente) consistentes a esse respeito – caso da Frente Nacional francesa de Marine Le Pen. O que, por sua vez, torna, finalmente, ainda mais patética a conduta dos descendentes dos parlamentares da esquerda de 10 de Julho de 1940, personalizados na figura de um Manuel Valls que apela ao governo grego para regressar às negociações (abaixo). Numa confrontação em que não sabe muito bem o que há-de fazer, Valls não recolhe autoridade para apelar seja ao que for e faz uma triste figura de si a apanhar bonés por ser socialista mas também a apanhar ainda mais bonés por ser francês.
De novo, a Grécia quer que a escolha do povo decida o seu destino. De novo há um Primeiro-ministro grego que, perante a impossibilidade de cumprir o mandato para o qual se comprometeu, quer perguntar aos cidadãos se aceitam ou recusam a proposta que a Europa lhes está a impor.
Não tenhamos dúvidas - esta não é uma Europa democrática. Esta é uma Europa que pretende manter a todo o custo a direita conservadora no poder, fazendo letra morta de conceitos tão nobres como solidariedade, liberdade e democracia, ideias fundadoras da União Europeia (vale a pena ler Pacheco Pereira no Público).
A nobreza não paga dívidas e a democracia deixou de ser um valor para passar a radicalismo extremista. Foi assim classificada a escolha eleitoral do Syriza, são assim rotulados os Ministros gregos, é por isso que a direita impõe as escolhas políticas internas para uma suposta ajuda internacional.
Pela postura de Passos Coelho e de Cavaco Silva, Portugal coloca-se do lado antidemocrático. Admiro Tsipras e Varoufakis e o seu radicalismo que se revela no respeito pela dignidade do seu País, pela convicção de que é a vontade do povo que prevalece e que o governo pertence a cada um dos países soberanos que fazem parte desta caricatura em que se transformou a Europa.
Não há opiniões nem estados de alma do FMI, do BCE ou do Eurogrupo que não sejam gritadas nas primeiras páginas dos jornais, em todas as televisões, partilhadas nas redes sociais. Mas há conferências e discursos que, não fossem alguns blogues atentos, não chegariam a ninguém.
Manipulação informativa total e programada. O que é importante é insistir na radicalidade do Syriza ou seja, da irresponsabilidade do povo grego que teve a ousadia de escolher o governo errado, segundo a ideologia dos donos disto tudo.
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A realidade crua do nosso leque partidário e, portanto, das nossas opções de voto, mantém-se a mesma desde 1975. Se tivermos a paciência de revermos o celebérrimo confronto entre Mário Soares e Álvaro Cunhal antes do 25 de Novembro, podemos apreciar que a escolha principal e mais importante que se colocava aos líderes políticos (e aos eleitores) nessa altura era entre um regime democrático e um regime não democrático.
Mário Soares soube estar à altura das circunstâncias opondo-se frontalmente ao totalitarismo crescente protagonizado e/ou apadrinhado pelo PCP que, apesar das eleições em 25 de Abril de 1975, pensava poder ganhar o poder com a sua vanguarda revolucionária. Por muito que, posteriormente, possamos gostar ou não da forma como Mário Soares conduziu a sua acção e vida políticas, a ele devemos essa esperança, essa força e essa capacidade de mobilizar o povo, não permitindo uma nova ditadura.
Os discursos que hoje ouvimos a Jerónimo de Sousa são quase exactamente iguais aos de Álvaro Cunhal. Ninguém poderá dizer que o PCP não honra a sua memória e a sua coerência políticas - é o mesmo desde essa altura. Em todos estes anos o PCP acha que o PS é igual ao PSD e ao CDS, partilhando a mesma ideologia e a mesma prática política, palavras repetidas ao longo de todos estes anos, depois de tudo o que se foi passando no País, do 25 de Novembro à entra na CEE, dos governos da AD ao do PS. A todos o PCP apelida de direita reaccionária, que combate violentamente os trabalhadores.
O PCP terá um lugar na História como o partido que conseguiu cristalizar no tempo e que se manteve irredutível defendendo uma sociedade inexistente, cujos exemplos que cita foram ferozes regimes ditatoriais que, entretanto e felizmente, se desfizeram.
Por isso não vale a pena estarmos a pensar que, em Portugal, no século XXI, 40 anos após o 25 de Abril, mais de 20 anos após a queda do muro de Berlim, no meio da espiral recessiva e da crise da União Europeia, do afundamento daquilo a que nos habituámos a considerar o paradigma de uma sociedade decente, que defende e apoia a igualdade de oportunidades, que redistribui a riqueza e apoia os cidadãos, considerando-os a todos merecedores da mesma felicidade, não é possível uma aliança política à esquerda.
O PS confronta-se, mais uma vez, com a impossibilidade de poder contar com outras formações partidárias para partilhar a responsabilidade do poder. Uma coligação à esquerda é contra natura pois o PS é, sobretudo e acima de tudo, o partido da esquerda democrática. E isso É a diferença.
Mas há outros ensinamentos que Mário Soares nos pode dar. A sua coragem e clareza políticas, a sua capacidade de perceber as prioridades num período perigoso, delicado e de grande confusão, em que o menor pretexto poderia desencadear violência e golpes ditatoriais, de esquerda e de direita. É isso que se pede ao PS de hoje, em circunstâncias muito diferentes mas que são, igualmente, delicadas e de grande confusão.
A Europa pode estilhaçar-se sob uma coligação de gente que se esqueceu qual o objectivo do exercício do poder, se esqueceu que a economia deve estar ao serviço das populações. As Instituições Democráticas são olhadas com distanciamento e desesperança - o desemprego, a pobreza, as hordas de descontentes e de emigrados, a falta de perspectivas de futuro, o sentimento de insegurança e de impunidade, a judicalização da política, o novo poder fiscal absoluto, tudo contribui para que a sociedade se deslace e desagregue.
Vale a pena rever o longo confronto entre Mário Soares e Álvaro Cunhal - precisamos de refrescamento de prioridades e de separar o que é essencial do acessório - o PS é o partido da liberdade e da democracia. Tem que mostrar que é o partido da coragem e do desafio, sem medo de enfrentar os fantasmas do seu passado, sem medo de enfrentar a massificação da calúnia, a inversão dos valores do Estado de Direito. Não pode esconder-se atrás de dos calculismos e equilibrismos na contagem das espingardas e no assegurar de votos seguros. Há mais de 25% de indecisos nas sondagens que vão sendo publicadas. Esses 25% de pessoas esperam a clarificação dos cenários para o futuro: confiar nas Instituições, ter alguém à frente do governo que saiba defendê-los, que seja digno, que mostre que a Justiça, a Liberdade e a Democracia são, ainda, os valores da nossa sociedade.
A ideia de que em Portugal só passamos a ter emigração com esta crise é falsa
É falso que tenhamos tido mais emigração que noutros países
As pessoas de rendimentos mais baixos não foram afectadas por cortes nenhuns
(via Câmara Corporativa)
(*) poema de Sophia de Mello Breyner Andresen
Importante é retomar o diálogo com adultos na sala
Não foi por intenção, [mas por ] falta de experiência. (...) foram cometidos erros de natureza diplomática bastante fortes por parte das autoridades gregas (...) há um modo de negociar, há uma linguagem da negociação
(...) Muito se disse e escreveu acerca do nosso "recuo" na reforma do mercado de trabalho e quanto à nossa determinação para reintroduzir a proteção dos trabalhadores assalariados através da negociação coletiva. Será isto uma fixação de esquerda nossa que faz perigar a eficiência? Não, colegas, não é. Veja-se por exemplo a provação dos jovens trabalhadores em várias cadeias de lojas que são despedidos quando se avizinha o seu 24º aniversário, para que os empregadores possam contratar funcionários mais jovens e assim evitar pagar-lhes o salário mínimo normal que é inferior para empregados menores de 24 anos. Ou vejam o caso dos empregados que são contratados em part time por 300 euros ao mês, mas são obrigados a trabalhar a tempo inteiro e são ameaçados com a dispensa se se queixarem. Sem contratação coletiva, estes abusos abundam com efeitos nefastos na concorrência (uma vez que os patrões decentes competem em desvantagem com os que não têm escrúpulos), mas também com efeitos negativos nos fundos de pensões e na receita pública. Alguém seriamente pensa que a introdução de uma negociação laboral bem concebida, em colaboração com a OIT e a OCDE, constitui "reversão das reformas", um exemplo de "recuo"? (...)
(...) O nosso alegado recuo na "reforma das pensões" é que suspendemos a ulterior redução das pensões que já perderam 40% do seu valor, enquanto os preços dos bens e serviços de que os pensionistas precisam, isto é, medicamentos, mal foram alterados. Considerem este facto relativamente desconhecido: cerca de um milhão de famílias gregas sobrevive hoje à custa da magra pensão de um avô ou de uma avó, dado que o resto da família está desempregada num país onde apenas 9% dos desempregados recebem qualquer subsídio de desemprego. Cortar essa única, solitária pensão corresponde a lançar uma família nas ruas. (...)
(...) Imaginem o seguinte acordo em três partes a anunciar nos próximos poucos dias:
Parte 1: Reformas profundas, incluindo o plafonamento do défice que já mencionei.
Parte 2: Racionalização do calendário de pagamentos da dívida grega segundo as seguintes linhas. Primeiro, para efetuar uma RECOMPRA DA DÍVIDA, a Grécia pede um novo empréstimo ao ESM, depois compra as obrigações ao BCE e retira-as. Para renegociar este novo empréstimo, concordamos que a agenda de reformas profundas é a condição comum para completar com êxito o atual programa e para assegurar o novo acordo ESM que entra em prática imediatamente depois e corre em concorrência com o continuado programa FMI até ao final de 2016. Os fundos a curto prazo assentes no cumprimento do programa corrente e no financiamento a longo prazo é completado com o retorno dos lucros SMP, ascendendo a 9 mil dos restantes 27 mil milhões, que vão para uma conta usada para satisfazer os pagamentos da Grécia ao FMI.
Parte 3: Um programa de investimentos que impulsione a economia grega, fundado no Plano Juncker, o Banco de Investimento Europeu - com quem já estamos em conversações - o EBRD e outros parceiros que serão convidados a participar também em ligação com o nosso programa de privatizações e o estabelecimento de um banco de desenvolvimento que procure desenvolver, reformar e colateralizar bens públicos, incluindo propriedades imobiliárias. (...)
(...) O nosso governo está de pé, com ideias e com a determinação de cultivar as duas formas de confiança necessárias para pôr fim ao drama grego: a vossa confiança em nós e a confiança do nosso povo na capacidade da Europa para produzir políticas que joguem a seu favor e não contra ele.
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