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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
No dia 3 de Maio o DN brindou os leitores com um artigo com chamada de primeira página titulado Terapia inovadora contra o cancro tem êxito superior a 90 por cento, terapia essa disponibilizada pela Fundação Champalimaud.
O artigo conta a história de uma mulher de 46 anos à qual é diagnosticado um tumor do ovário metastizado (galopante, segundo a expressão empregue no texto). A estratégia terapêutica que lhe foi proposta no Hospital Público incluía quimioterapia e radioterapia durante um ano, operações. Como a doente não queria ir por ali, a conselho da sua médica ginecologista consultou um médico da Fundação Champalimaud e começou um tratamento 3 semanas depois - radioterapia de dose única.
A história da doente continua mais à frente. Ficamos a saber que sentiu alguns enjoos e tonturas durante o tratamento, nunca deixando de trabalhar nem de perder qualidade de vida, que as metástases intestinais tinham desaparecido embora os ovários ainda não estivessem completamente limpos. Desconhecia no entanto se necessitaria de mais algum tratamento e informava que tinha pago 12.000 euros (por 4 horas de tratamento). O artigo termina explicitando que o SNS tem um protocolo com a Fundação Champlimaud, que permite aos doentes serem aí tratados, embora nunca tenha sido posto em prática.
Quem ler esta peça acaba pois convencido de que os hospitais públicos não têm a terapêutica referida – radioterapia de dose única – que esta é revolucionária e pode ser usada para todos os tipos de cancro e com um sucesso praticamente total, para além de sugerir que o protocolo de colaboração entre o Estado e a Fundação não é accionado, afastando quem não tem dinheiro desta quase certeza de cura.
Claro que, quem souber alguma coisa de Medicina, percebe pelo meio do texto excertos de afirmações do Dr. Zvi Fuks, o Director do Centro Champalimaud, explicitando que, nos casos em que é indicada, esta terapêutica é excelente para o controlo de metástases e de algumas neoplasias primárias em fase inicial, sendo a localização dos tumores (esófago, traqueia, estômago, coluna vertebral) muito importante para a possibilidade de a utilizar.
Este género de artigos podem tornar-se muito prejudiciais ao público em geral e aos doentes em particular. Em vez de informarem, desinformam e criam falsas expectativas em curas e técnicas que, por muito boas e úteis que possam ser, não são certamete a panaceia para todos os males. Além disso, ao contrário do que se insinua, está disponível no SNS e é utilizada nos casos em que está indicada.
Apenas me apercebi de duas reacções, a esta notícia, o que me parece muito pouco, pois considero imprescindível que se esclareçam as pessoas quando expostas a uma publicidade enganosa. A sensação com que se fica é que o objectivo do artigo é fazer propaganda à custa de quem sofre uma doença grave e debilitante, com um peso psicológico tremendo, que faz com que as pessoas que lidam com ela, fragilizadas, recorram a tudo o que lhes possa oferecer esperança. E suspeito que qualquer dos profissionais que trabalha no Centro Clínico não deve ter ficado satisfeito com este género de publicidade.
O que mais me espanta é a ligeireza negligente como este artigo aparece escrito. Não terá ocorrido à sua autora questionar um Instituto Português de Oncologia sobre esta matéria? Não terá tido a curiosidade profissional de tentar perceber para que serve a técnica, como surgiu, quais as indicações? Ou de como se trata o tumor que a senhora em causa referia?
Ciclicamente a questão da não elegibilidade das pessoas pertencentes a grupos de risco (conjunto de pessoas estatisticamente associado a determinado risco), neste caso mais exactamente a comportamentos sexuais de risco (entenda-se risco como a possibilidade de contraírem doenças transmissíveis pelo sangue) como dadores de sangue é trazido à discussão, assistindo-se a acusações de descriminação, confundindo-se o que são medidas de segurança para toda a população com posições políticas e/ ou ideológicas sobre determinado tipo de comportamentos e escolhas de vida.
Já aqui me referi a esse problema, em 2009. Vou voltar a ele 6 anos depois, citando outros documentos que estão ao alcance de quem quiser informar-se. Os conhecimentos e as evidências científicas não são estáticas ou seja, o que se considera cientificamente correcto hoje pode evoluir e ser diferente de amanhã. Mas o enviesamento da discussão científica exclusivamente por causas ideológicas é muito perigoso. Todos os cidadãos têm o direito de se apresentar como dadores de sangue, o que não é sinónimo nem equivalente a ter o direito de doar sangue. Os serviços de saúde têm como missão assegurar que os vários componentes do sangue são recolhidos em condições de segurança, reduzindo o risco de infecções ao mínimo que os conhecimentos actuais permitem e que o estado da arte podem garantir. Começo pela OMS, um organismo internacional no âmbito da ONU, cientificamente independente e distanciada das batalhas ideológicas sobre a igualdade de géneros, que já produziu centenas de guidelines sobre múltiplos aspectos da prática médica. Esta é sobre a selecção de dadores de sangue.
(…) It is essential that BTS identify and defer from blood donation individuals whose sexual behaviour puts them at high risk of acquiring infectious diseases that can be transmitted through blood.
(…) High-risk sexual behaviours include having multiple sex partners, receiving or paying money or drugs for sex, including sex workers and their clients, men having sex with men (MSM) (250,251) and females having sex with MSM (246,247,252). MSM account for the largest subpopulation of HIV-infected people in most developed countries (253,254,255,256) and many countries therefore permanently defer men who have ever had oral or anal sex with another man (254,257,258). The permanent deferral of MSM has been criticized as being selectively discriminatory and lacking scientific rigour (253,259,260,261) and has undergone review in some countries in the light of increasingly sensitive and reliable technologies for donation screening (249,262). Studies using mathematical modelling to predict the effect of reducing deferral intervals for MSM to one or five years have suggested that the increased risk of an HIV-infected donation entering the blood supply is small, but not zero, with little gain in terms of additional donations (263,264,265,266). These studies rely on some assumptions, are applicable only to the populations studied, and relate to testing methodologies that are not available in some countries and have been superseded in others. However, no comparable evidence is currently available. The permanent deferral of MSM therefore continues to be endorsed as the default position based on the principle of risk reduction to “as low as reasonably achievable” (ALARA).
Pág. 220 – 224: (…) Decision-making process
The Guideline Development Group concluded that permanent deferral of MSM as blood donors should continue to be recommended by WHO as the safest option, based on the principle of risk reduction to “as low as reasonably achievable” (ALARA). This policy should be critically and frequently reviewed by blood transfusion services in the light of changes in disease epidemiology, residual risk of HIV transmission, sensitivity of HIV screening assays and ongoing research. (…)
Blood, tissues and cells from Human Origin - The European Blood Alliance Perspective (2013)
Pág 134:
6.5 Precautionary principle - On several occasions the precautionary principle [25] is applied. In health care and transfusion contexts this principle is applied by letting the safety of the recipient prevail. This becomes tricky when sensitive issues arise, such as the exclusion of men having had sex with other men (MSM) [26]. Clearly, discrimination must be avoided.
6.5.1 Criteria for exclusion - Justified distinctions may still be made for deferring certain groups of prospective donors, when clear health risks for the recipient exist [27]. The primary reason for excluding candidate male donors on the ground of MSM is not that being homosexual made them non-eligible, but that their sexual behaviour carries a greater risk of transmitting HIV-infected blood. The deferral criteria are not a judgement on behaviour or (sexual) preference or (ethnic) descent, but a judgement on the (general, anticipated) risk related to behaviour. Having travelled in the jungle does not make someone a bad person, but does entail that person carrying a greater risk of transmitting malaria.
Position Statement on MSM & blood donation - The European Haemophilia Consortium (2015)
By deferring all persons in a risk category, risk is decreased over thousands of transfusions over many years. The deferral of MSM donors has been legally challenged in Canada, Australia and Finland and the legality of the deferral was upheld in each case. Decisions on deferral of donors should be taken nationally, bearing in mind the incidence and prevalence of both sexually transmitted infections as well as transfusion transmitted infections in each country. Donor deferral should not be regarded as primarily an issue of social policy, fairness or equality.
The EHC position is that decisions on donor deferral, including deferral of MSM donors, should always be based on data and scientific evidence and not on considerations of social policy or politics. The safety of recipients of blood transfusion and blood components is always the primary concern. In considering any change to deferral policy, countries should carry out a risk assessment based on the scientific evidence available. They should examine if any change in policy will result in an increased risk to blood recipients and decide on the degree of risk tolerance, bearing in mind that the risk is borne by recipients and not by donors. The level of compliance with any policy should also be examined insofar as this is possible to estimate.
Transfusion of safe blood and blood components is the objective of blood transfusion services and this should always be the driving force in any decision on donor deferral.
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
— mistério profundo —
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Olá, boa tarde.
Que lindo dia está, que lindo dia da mãe. Chove um pouco, é verdade, está ligeiramente cinzento (e frio também), é certo, mas é aquele dia dedicado às mães, a todas as mães, grandes, pequenas, gordas, magras, novas, velhas, muito velhas, aquele em que é suposto darem-se-lhes muitas prendas, muitos beijos, escrever nos facebooks muitos poemas e muitos carinhos.
Enfim, já que um dia não são dias, toca lá a despachar mais esta efeméride e a marcar um restaurante para o jantar em família, juntando avó e filha (as homenageadas), marido e filhos. Ultrapassando o facto de todos serem longe, caros e estarem fechados aos domingos, arranja-se um que, pelo nome, pode ser que não seja mau (a ver vamos, darei notícias posteriores).
Depois, para que possa desfrutar deste dia da mãe, descansadíssima como mãe que sou, já ontem despachei a pilha de análises por resolver, a compra dos legumes e da fruta, enchi e esvaziei máquinas de louça e roupa, para que o dia da mãe chegasse livre e escorreito, prometendo gozo e descanso.
Por isso mesmo fui logo de manhã ao hipermercado: compras já arrumadas, sopa preparadíssima e legumes guisados para a semana. Falta apenas acabar o workshop que tenho pendurado pois, durante a semana, não há tempo de o organizar. Tudo para que o jantar deste dia (da mãe) seja o êxito que se quer e se merece.
Não é (foi) um dia (fim de semana) soberbo? Muito diferente dos outros, ou não fosse ele dedicado às mães que, neste seu dia anual, podem descansar das fadigas rotineiras e habituais.
Um feliz dia a todas aquelas que hoje são lembradas e mimadas - as mães.
Guilherme d'Oliveira Martins
António Sampaio da Nóvoa avançou para Belém. Crédito para ele, que se disponibilizou para esse serviço público e de cidadania. No entanto Sampaio da Nóvoa coloca vários problemas para as eleições presidenciais e legislativas:
Por isso lanço este desafio especificamente a Guilherme d’Oliveira Martins, a quem não conheço, numa espécie de carta aberta a um desejável (para mim) candidato a Belém. Quando tanto se fala de um perfil, um indivíduo com a sua craveira intelectual, a sua experiência política, a sua imagem de seriedade e de honestidade nas funções que já cumpriu e cumpre, fariam dele alguém em quem o País pudesse confiar para as difíceis futuras negociações que se avizinham, nos quadros nacional e internacional, alguém rigoroso e atento, alguém que respeite os cidadãos, o Estado, o serviço público, a nossa História, a nossa cultura e a nossa língua.
Nota: Vale a pena ouvir Pedro Marques Lopes e Pedro Adão e Silva sobre este mesmo assunto.
A ofensa do jornalista em relação à ofensa de António Costa por casa dos insultos do jornalista que levou aos insultos do António Costa são a matéria que serve à chicana política de direita e não serve a discussão que interessa ao PS e, mais importante, ao Pais.
Se um jornalista chama cobarde ao um líder político, é natural que ele se aborreça. A liberdade que o primeiro tem de insultar (porque insultou, disso não tenhamos dúvida) é exactamente a mesma que leva o líder político a responder ofendido. Portanto a resposta ao SMS ofendido, sugerindo censura à liberdade de imprensa é apenas uma vitimização estratégica de campanha para diabolizar o pretenso autoritarismo de António Costa.
Nada disto é importante - é uma manobra (mais uma) para desviar as atenções. Por isso mesmo António Costa deve abster-se de responder, deixando-se levar para onde a direita quer - discussões estúpidas e sem conteúdo, que fulanizam e achinelam a política.
Há certos comentadores, que a si próprios se apelidam de jornalistas, que consideram ser seu privilégio insultar quem lhes apetece, mas não gostam que se lhes responda na mesma moeda. António Costa e o PS têm que ser mais inteligentes que eles.
Zeca Afonso
Madredeus
Nara Leão
emmy Curl
Maio maduro Maio, quem te pintou
Quem te quebrou o encanto, nunca te amou
Raiava o sol já no Sul, Ti ri tu ri tu ri tu ru Ti ri tu ru tu ru
E uma falua vinha lá de Istambul
Sempre depois da sesta chamando as flores
Era o dia da festa Maio de amores
Era o dia de cantar, Ti ri tu ri tu ri tu ru Ti ri tu ru tu ru
E uma falua andava ao longe a varar
Maio com meu amigo quem dera já
Sempre no mês do trigo se cantará
Qu'importa a fúria do mar, Ti ri tu ri tu ri tu ru Ti ri tu ru tu ru
Que a voz não te esmoreça vamos lutar
Numa rua comprida El-rei pastor
Vende o soro da vida que mata a dor
Anda ver, Maio nasceu, Ti ri tu ri tu ri tu ru Ti ri tu ru tu ru
Que a voz não te esmoreça a turba rompeu
Ramalho Eanes não tem que provar a ninguém a sua capacidade de se expor e de se bater pelo que acha justo. Se há coisa de que se pode orgulhar, e nós dele, é da sua coragem em defender ideias e causas.
Poderemos estar de acordo ou em desacordo com as suas escolhas, mas acusá-lo de se negar a travar batalhas apenas porque não divide palcos nem protagonismos, é lamentável (veja-se o último parágrafo). A menos que o facto de ser citado como referência moral o obrigue a apoios e empréstimos de generalato, como tão elegantemente foi colocado o assunto.
Se o apoio de Ramalho Eanes é visto como importante, a ponto de menorizar os de Mário Soares e Jorge Sampaio, isso significa que honrou o cargo e o País. Esperemos que o próximo Presidente, seja ele quem for, tenha a mesma postura e seja capaz de restituir a credibilidade às Instituições, como Ramalho Eanes foi.
Enquanto esperamos muito calmamente o desenvolvimento do processo de Sócrates, em prisão preventiva há mais de 5 meses, a comunicação social vai alimentando o público com notícias interessantíssimas.
A ser verdadeira a culpa de Sócrates poderemos orgulhar-nos de ter os meliantes mais capazes e competentes na sua profissão - esta investigação já envolve dez países e os milhões que terá recebido já somam dezassete!
Muito respeito!
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