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Esta maioria que nos governa está de cabeça perdida. Não só ficou atarantada com o documento do PS como, para desviar as atenções e contra-atacar, resolveu desavergonhadamente usar os serviços do Estado numa tentativa atabalhoada de lançar a confusão. Desgraçadamente apenas de confundiu a ela própria, dando um protagonismo de Programa de Governo/ Orçamento de Estado ao referido documento, colocando-se na posição da oposição (à oposição) e aceitando, tacitamente, que o PS assumirá o poder.
A seguir vem mais uma apressada comunicação importante - a formalização da coligação PSD/CDS para as próximas legislativas (por coincidência a 25 de Abril).
Mas estão com azar. Finalmente o PS está a acordar e a marcar a agenda política. Não com disparates ou grandes e eloquentes frases vazias, mas com propriedade, seriedade e sentido de humor. Já está disponível a resposta às 29 perguntas da oposição. Venham mais perguntas, mais esclarecimentos. Agora já não é possível abrandar.
É essencial que o PS se reafirme como a única alternativa à direita, se demarque dos atropelos ao Estado de Direito nunca cedendo no que diz respeito aos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, seja firme na defesa do SNS, da Segurança Social e da Educação. É essencial que o poder seja utilizado para servir os cidadãos.
(...) É interessante abordar o problema pelo avesso, começando não pela crise do Mediterrâneo mas pelas contradições dos europeus sobre os imigrantes. “Se fecharem as portas à imigração, pagarão um preço económico”, adverte Jean-Christophe Dumont, especialista de migrações na (Organização para a Coooperação e Desenvolvimento Económico) OCDE. A Europa envelhece a ritmo vertiginoso. Um exemplo: sem mudança dos fluxos migratórios, a Alemanha, primeira potência económica da região e com a mais baixa taxa de natalidade, poderá ver a sua população cair de 82 milhões para 74,7 milhões até 2050, previne o Eurostat. Veria, consequentemente, diminuir o seu potencial de crescimento.
Com a entrada na reforma da geração do baby boom a população europeia com mais de 65 anos vai rapidamente aumentar, enquanto o número dos menores de 15 anos diminuirá cerca de 15% até 2060, prevê o Eurostat. O que está em jogo é o nível de vida dos europeus, o seu bem-estar e a sustentabilidade das prestações sociais.
Um estudo do International Longevity Centre (Londres) avisava em 2013 que a Europa precisará de “pelo menos mais 11 milhões de imigrantes até 2020” para garantir o pagamento das pensões aos seus reformados. Não basta subir a idade da reforma. Passar-se-á rapidamente da proporção de quatro activos por pensionista para dois por um. São dados que todos conhecem. Mas um dos mais banais argumentos contra o incremento da imigração é a concorrência que os imigrantes fariam aos nacionais no campo das prestações sociais.
“A velha Europa tem necessidade de cérebros e de braços”, titula o Libre Belgique. Mas que contam os números da demografia perante os discursos anti-imigração de Marine Le Pen, do holandês Geert Wilders, do britânico Nigel Farage, do partido Democratas da Suécia ou do movimento alemão Pegida — que protesta contra a “islamização da Europa” e a chegada de refugiados sírios que, por acaso, são em grande número cristãos?
“O medo da imigração espalha-se na Europa” foi o título de um programa de uma televisão francesa em Janeiro passado. Resumia: “Barcos em perdição, vindos da Turquia, da Síria ou da Líbia, manifestações na Suécia ou na Alemanha, polémicas em França e na Grã-Bretanha, a imigração apresenta-se na Europa como o sujeito político do ano 2015.” Faltavam os naufrágios de Abril.
Qual é a consequência política? Os dirigentes europeus estão reféns do medo criado pela extrema-direita e dos sentimentos xenófobos que se enraízam nas suas populações e a que, até agora, não têm sabido dar resposta. (...)
(...) Há outra dimensão, um problema da Europa consigo mesma: aproveitar ou desperdiçar a tragédia de Abril para refazer a política de imigração, defender a sua imagem, confirmar o seu estatuto internacional, dominar os seus demónios.
Preveniu, em Janeiro, a analista italiana Marta Dassù: “Enquanto a sociedade europeia se abre ao mundo, ganham terreno movimentos xenófobos e de ‘campanário’ que sopram sobre o fogo do medo e do ódio. (...) Se perdermos o grande desafio do Mediterrâneo os populismos vencerão na Europa. O futuro [europeu] depende em grande medida da nossa capacidade de resolver a questão do Mediterrâneo.”
A nova estratégia mediática da direita é tentar convencer os incautos que votar no PS ou no PSD/CDS é a mesma coisa. O Expresso de hoje mostra bem como a informação pode ser manipulada:
Mário Soares, Manuel Alegre e a Associação 25 de Abril prestaram um mau serviço à credibilização do Parlamento como Casa da Democracia ao recusarem-se a estar presentes na cerimónia solene de hoje.
Independentemente do que possamos pensar deste governo e deste Presidente, eles foram o resultado do voto livre e universal, resultado da vivência democrática que hoje comemoramos. É com grande tristeza que os vejo, mais uma vez, confundir luta partidária com liberdade e democracia.
(Na continuação da conversa):
- Então onde almoçaram?
- Fomos ao Porcão*
- O Porcão está aberto? Mas isso é muito fascista, estar aberto no 25 de Abril...
- ... está a dar de comer aos revolucionários... (isto não disse, mas pensei)
(* nome revolucionariamente terno com que se trata a cantina cá de casa)
Ao deparar-me com um dos comensais cá de casa, ainda agora:
- Então?! Não foi à manifestação do 25 de Abril?!?!
- Não. Tenho que trabalhar...
- Mas isso é de direita reaccionária e fascista...
- ... nos dias que correm trabalhar é revolucionário!
Desde que foi apresentado o estudo Uma década para Portugal que recomeçou a discussão política. Finalmente!
Há propostas, há alternativas, há ideias. Vamos lê-las, ouvi-las, discuti-las, compará-las com a velha ordem exausta e depauperada, vamos reacender a esperança.
O Parlamento foi bem o cenário do arrepio que alastra por esta maioria que nos governa. A nova Troika tem os dias contados. Resta ao PS tudo fazer por uma maioria absoluta de forma a poder concretizar um programa credível em que nos possamos rever e aglutinar.
(...) Mas o que foi apresentado por Mário Centeno tem uma enorme vantagem: é claro e é diferente.(...)
(...) Os economistas caucionados pelo PS não propõem apenas acelerar o fim da austeridade, propõem acabar com a política que a troika impôs a Portugal e que o governo de Passos Coelho acolheu, por nela acreditar. (...)
(...) A diferença entre estas duas políticas é, diria Vítor Gaspar, enorme. Com o PSD, o Estado "encolhe". Com o PS, o Estado vai gastar mais do que hoje mas vai também ter mais receitas porque o PIB cresce mais.
Embora se comprometa com metas de dívida e défice orçamental, António Costa acaba de perder a passadeira vermelha para entrar em quatro cidades: Berlim, Bruxelas, Frankfurt e Washington. A troika deve estar aos murros na parede depois de ouvir isto. (...)
(...) Mas hoje já podemos analisar isto: o PS e o PSD defendem o contrário um do outro. O "não há alternativa" já não existe para os eleitores. E isso coloca a discussão política num nível completamente diferente.
Onde o PSD defende cofres cheios, o PS propõe bolsos cheios.
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