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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Dean Hunsaker
1.
Ainda me lembro do perfume doce
das folhas de figueira
desfeitas pelos dedos.
Pedaços de seiva guardada
que transformarão a memória
de uma tarde morna e ensonada
no renascer de um Outono crispado
em chuvas e ventos e nocturnos
serões na leitura da esperança.
2.
Não esperes por mim.
Quando a estrada se abrir
estarei já no início do encontro
que tanto desejámos
no outro lado do querer.
Não esperes pela madrugada.
Quando o frio do mundo acordar
vestirei a teia de sonhos
em pequenos nós de espanto
no outro canto da certeza.
António Costa faz bem em identificar como seu adversário político Rui Rio. De uma só vez demonstra que o seu combate é pelo país, pela vitória nas legislativas, e desvaloriza Passos Coelho como o representante de uma direita credível.
De facto precisamos de debate político, de gente inteligente e que tenha uma visão para o futuro, concordemos ou não com ela.
Tenho assistido ao propagandear da ideia de que António Costa é igual a António José Seguro, que não diz nada de concreto, que está rodeado de gente do passado, deserdada do poder. Era precisamente esta a estratégia de António José Seguro e do PSD - arrastar e ir minando, pelo cansaço.
Por outro lado não me parece que a afluência à inscrição dos simpatizantes tenha sido de molde a alegrar quem gostaria de mobilização e mudança. É triste mas a descrença na democracia é arrasadora. E a desilusão está à espreita, pois a perfeição não existe e D. Sebastião nunca regressou de Alcácer Quibir.
Persistência e perseverança - manter o nível e nortear o objectivo pelos grandes temas, não caindo na pequena política. António Costa é uma hipótese de mudança; António José Seguro é a certeza do marasmo e da manutenção desta direita reaccionária e retrógrada.
Multiplicam-se os manifestos para alterações à lei eleitoral. Não percebo porque é que estes assuntos não são discutidos pelos partidos e não são objecto de propostas em campanha eleitoral, para que houvesse legitimidade eleitoral para essas mudanças. Estas propostas cheias de independentes e apelando ao estatuto de independente cheiram-me sempre a populismo. É um assunto demasiado sério para que não seja central na discussão política partidária.
Algo me diz que as diversas notícias que, nos últimos dias, têm saído sobre os lucros do BES Saúde e, na generalidade, sobre os lucros no sector privado, não será pura coincidência. Que fique bem claro que não tenho nada contra o sector privado, mas esta insistência causa-me alguma estranheza.
Chichorro
Ecoam os passos no empedrado
a terra seca não gasta a irregular
vontade de andar sempre
um pé adiante do outro
sem descanso nem pausas
até que a distância se evapore
como o tempo que ainda falta
para te reencontrar.
Olho para o chão e continuo
sem capacidade para ver mais além
onde sei que passo a passo ecoa o dia
em que de novo caminharemos abraçados.
Não sei se há alguém que ainda acredite no que Passos Coelho diz, seja nas festas do Pontal seja em entrevistas encomendadas. Quanto à sua promessa de não mexer na Segurança Social é apenas motivo de maior preocupação pois será o que, provavelmente, ele tentará fazer.
Seria muito importante que Passos Coelho e o PSD explicassem exactamente o que pretendem fazer, quais as reformas preconizadas para a próxima legislatura. Pode ser que, no meio do arrazoado de palavras ditas naquele tom de voz pausado e de barítono, tenor e baixo, de lábios em rictus serius e cabelo bem arrumadinho, não esquecendo os óculos a condizer com o perfil tecnocrático, pudéssemos prever a forma de desmantelamento que se está a preparar.
Os apelos ao compromisso com o PS são só mais um episódio de mistificação, repetitivo e cansativo.
Enfim, nada de novo.
Também li a moção de António José Seguro. A minha opinião, por muito que me esforce, não é imparcial - é um texto cheio de lugares-comuns, páginas de palavras que não querem dizer rigorosamente nada. Apela aos piores instintos populistas com as palavras em bold - compromisso, luta contra a corrupção, código de ética, responsabilidade, solidariedade, modernidade, cumprir Portugal, etc.
Vale a pena ler. Ninguém se deve demitir de perceber quais as soluções que quem se apresenta a votos sugere. E quais as ideias, ou a falta delas, dos que se propõem ser líderes.
A TSF estará para sempre ligada ao meu início de vida de casada e ao meu início de vida profissional em Anatomia Patológica. Lembro-me muito bem que acordava com a TSF, em 1988, ainda a TSF era uma rádio pirata.
Sempre um pouco antes da hora a que tinha que me levantar, hábito que mantenho até hoje, ficava na cama a acordar, a ouvir música e as primeiras notícias do dia.
Também esta música de Jon Andersen está associada a estas memórias.
There you have it
You see this love regretting
There's something wrong again
But you had it
In the palm of your hand
Your heart has started bleeding
You gotta get out
You're leaving
You're on your own forever
It's not the space or time or whether
You can leave
You want, you can't have
You need, you can't touch
You plead, it's enough, enough
There's something happening to ya
Love can see right through ya
In a world of make believe
Don't go throwing it all away
Hold on to love
Hold on to love
Treat it as a good thing
Be always ready
With that electric feeling
You work so hard
To be in love with her
She tries so hard
You gotta let it go
Hold on, hold on
Hold on, hold on
The more and more yo uhear it
The more it seems to make sense
To hold love in the palm of your hand
But you think that round the corner
They're queuing up to hold her
But that won't make a difference in the end
There's never space or time or whether
Yo u can leave
You want, you can't have
You need, you can't touch
You plead, it's enough, enough
There's something happening to ya
Love can see right through ya
In a world of make believe
Don't go throwing it all away
Hold on to love
There's nothing more important
Treat it as a good thing
Be always ready
With that electric feeling
You work so hard
To be in love with her
She tries so hard
You gotta let it go
Hold on, hold on
Hold on, hold on
Hold on, hold on
You work so hard
To be in love with her
She tries so hard
You gotta let it go
Hold on, hold on
Hold on, hold on
Hold on, hold on
Hold on to love
There's nothing more important
Hold on to love
Don't let it pass you by
Hold on to love
There's nothing so important
Hold it in the palm of your had
Yeah, yeah
Hold on to love
There's nothing more important
Hold on to love
Don't ever let it pass you by
Hold on to love
Hold on to love
Treat it as a good thing
Treat it as a good thing
Treat it as a good, good thing
António Costa tem uma moção bem estruturada e com ideias fortes, não concretizadas quase nunca, embora indique alguns caminhos chave. Não cede ao populismo e tenta uma postura mais distanciada, de alguém que está interessado em resolver alguns problemas. Assume que o melhor é conseguir uma maioria absoluta, assume que terá que haver compromissos à esquerda, assume que é preciso lutar por uma política europeia que não penalize países como Portugal, assume que é necessário inverter o rumo político apostando nos direitos dos cidadãos, na regulação financeira e no mercado de trabalho, no investimento e modernização do Estado. Goste-se ou não, tem algumas ideias de combate.
O regime político em que vivemos tem por base uma Constituição feita há 38 anos. É claro que já houve várias revisões constitucionais. Mas se há partidos e outras organizações sociais (a tal sociedade civil que só interessa para algumas coisas) que entendem ser necessária uma alteração profunda e radical da Constituição, que tal lançarem o debate público sobre o assunto? E se os partidos se unissem, fizessem o tal pacto de regime, para fazer um referendo em relação à eleição de uma Assembleia Constituinte?
Há 38 anos a organização da sociedade - as relações entre pais e filhos, Estado e sector privado, empregadores e empregados, o analfabetismo e o acesso à educação, os problemas de desenvolvimento do país fora das áreas urbanas, a pobreza e as desigualdades, o abandono das terras e, principalmente, o clima político que se vivia em Portugal e no mundo, eram muitíssimo diferentes dos de hoje.
O acesso à informação e a sua divulgação, a enorme melhoria das condições de vida das populações, a globalização e a banalização da manipulação informativa modificaram-se radicalmente. Continuar a apostar em organizações como os sindicatos, as associações patronais, em lutas de tipo greves e manifestações, na era da internet, do facebook e do twiter, das compras e das notícias online em que cada cidadão desenvolveu a capacidade de se julgar o centro do universo e ser, nem que seja por segundos, o protagonista do que considera ser a mudança, nem que seja momentânea, transformam muito do que são as bases da construção do nosso regime e dos nossos sistemas de equilíbrio de poderes, em estruturas frágeis e a precisar de renovação e/ ou relegitimação democrática. Se calhar poderá haver outras formas de luta, outras organizações, outro tipo de manifestações.
Não basta dizer que se quer aprofundar a democracia e aproximá-la dos cidadãos. Enquanto não se enfrentar sem medo e sem demagogia a ocupação de lugares das cúpulas das administrações locais e central por aparelhos partidários, a organização territorial e administrativa do país que está totalmente desadaptada da realidade, não será possível uma alteração da lei eleitoral em que as populações se revejam mais nos seus representantes.
Modernizar o país, o Estado, investir nas novas tecnologias, aliviar os cidadãos das burocracias e do tempo que gastam a resolver banalidades, como renovar o cartão do Cidadão - uma excelente ideia que ficou a meio caminho - investir no teletrabalho, na flexibilização dos horários, nos apoios de proximidade a quem quer ter filhos - creches, meios horários, etc., nos apoios aos mais velhos gerando oportunidades de trabalho, facilitar a mobilidade das famílias com a reordenação do território e a requalificação do parque imobiliário, investir na ciência e na investigação marítima (mas a sério, não apenas nas vésperas eleitorais em que todos se lembram da nossa riquíssima costa, para a esquecerem imediatamente após o dia da votação), são tarefas que podem mudar o ciclo de recessão e descrença instalado.
A democracia faz-se todos os dias e não devemos enquistar-nos em fórmulas e soluções que estão gastas. Onde estão os protagonistas das discussões para uma verdadeira renovação do regime? Talvez fosse essa uma das melhores formas de mobilizar o país.
Devemos estar muito atentos, preocupados, informados e sem pânicos nem alarmismos:
http://www.dgs.pt/paginas-de-sistema/saude-de-a-a-z/ebola.aspx
http://www.who.int/csr/disease/ebola/en/
http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs103/en/
http://www.who.int/csr/don/2014_08_13_ebola/en/
http://www.who.int/ith/updates/20140421/en/
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