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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Temos assistido a uma autêntica inundação informativa sobre o perigo da pronúncia pela inconstitucionalidade de medidas do OE 2014 por parte do Tribunal Constitucional (TC). Não há dia em que não se leia ou ouça doutas personalidades, nacionais e internacionais, avisarem o TC do perigo de resgates, bancas rotas e sacrifícios inomináveis, arrastados pela descrença dos mercados e daquelas instâncias voláteis que governam o mundo neste pobre povo português.
Estamos outra vez perante o esforço de manipulação da direita retrógrada que quer impor a sua agenda ideológica fazendo crer que o não cumprimento do desmantelamento do estado social trará a catástrofe e o dilúvio, tal como aconteceu na altura do chumbo do PEV IV. Todos já percebemos o que significam estas inevitabilidades.
Poemas sobre a língua portuguesa
Natália Luiza
(selecção de Inês Pedrosa)
Língua – Caetano Veloso
Língua Portuguesa – Olavo Bilac
Língua mater dolorosa – Natália Correia
Lamento para a língua portuguesa – Vasco Graça Moura
Pátria – Rui Knopfli
Língua – Gilberto Mendonça Teles
Novas ruminações – Gíria de Cacimbo
As linguagens – Mutimati Barnabé João
1 de Novembro, às 18h30, na Casa Fernando Pessoa
Morte em Pemberly é um livro de P. D. James, uma autora consagrada de livros policiais e grande admiradora de Jane Austen. Neste livro P. D. James desenvolve a história tendo como personagens Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy, o casal de Pride and Prejudice, 6 anos após o casamento, em Pemberly, no Derbyshire. Com eles reencontramos Jane e Charles Bingley, Georgiana, Lydia e Whickham, entre outros, que ajudam a compor e a recriar o ambiente típico dos romances de Jane Austen.
Ao contrário das críticas que já li, gostei bastante do livro, que se centra na vida interior dos personagens, dando-nos conta dos pensamentos e dos sentimentos de Dracy e Lizzie quando um amigo de Whickham é morto a caminho de Pemberly, num noite tempestuosa, em circunstâncias que apontam para a culpabilidade de Whickham, obrigando Darcy a acolhê-lo e a olhar para a forma como a sua vida tinha sido e continuava a ser condicionada por ele. A trama policial arrasta-se pelo tribunal, deixando os leitores vogar pela organização estratificada e hierarquizada da sociedade inglesa, com os seus ricos proprietários rurais e as suas obrigações enquanto tal. P. D. James imaginou uma história condizente com o ritmo e a narrativa de Jane Austen, preocupando-se em tornar o livro credível como continuação da história anterior.
Nunca tinha lido nada de P. D. James, mas tenho bastante curiosidade em conhecer os seus detectives.
Até 10 Novembro
Quarta a Sábado às 21:30h
Domingo às 16:00h
Carpideiras de vocação, duas antigas amigas aliviam as dores das famílias dos defuntos e alegram os falecidos, ritualizando as passagens para o outro lado, para cima ou para baixo, abrindo as portas do paraíso ou do inferno, desfilam pela vida entre mortos e rezas, cantos, choros e ladainhas, em fuga constante da própria morte.
O sotaque do nordeste brasileiro apimenta e dá uma cor diferente às palavras. Um espectáculo imperdível, delicado e gentil, mordaz e divertido, a morte promove encontros e desencontros, explicando a vida que dói e se desenrola num tempo pendular, de memórias que se baralham e se ajudam.
Mais uma vez o Teatro Meridional deslumbra. O texto é soberbo, a adaptação (peça de Newton Moreno), a cenografia, a iluminação, o som e as actrizes fantásticas, em duas horas de várias histórias brilhantemente contadas.
Espalhem a notícia, divulguem e não percam. Além disso têm um espaço de aconchego enquanto esperam, café, chá e bolo, fotos que relatam o percurso desta companhia, verdadeiramente excelente e inovadora.
Jacques Brel
Bien sûr, nous eûmes des orages
Vingt ans d'amour, c'est l'amour fol
Mille fois tu pris ton bagage
Mille fois je pris mon envol
Et chaque meuble se souvient
Dans cette chambre sans berceau
Des éclats des vieilles tempêtes
Plus rien ne ressemblait à rien
Tu avais perdu le goût de l'eau
Et moi celui de la conquête
Mais mon amour
Mon doux mon tendre mon merveilleux amour
De l'aube claire jusqu'à la fin du jour
Je t'aime encore tu sais je t'aime
Moi, je sais tous tes sortilèges
Tu sais tous mes envoûtements
Tu m'as gardé de pièges en pièges
Je t'ai perdue de temps en temps
Bien sûr tu pris quelques amants
Il fallait bien passer le temps
Il faut bien que le corps exulte
Finalement finalement
Il nous fallut bien du talent
Pour être vieux sans être adultes
Oh, mon amour
Mon doux mon tendre mon merveilleux amour
De l'aube claire jusqu'à la fin du jour
Je t'aime encore, tu sais, je t'aime
Et plus le temps nous fait cortège
Et plus le temps nous fait tourment
Mais n'est-ce pas le pire piège
Que vivre en paix pour des amants
Bien sûr tu pleures un peu moins tôt
Je me déchire un peu plus tard
Nous protégeons moins nos mystères
On laisse moins faire le hasard
On se méfie du fil de l'eau
Mais c'est toujours la tendre guerre
Oh, mon amour, mon doux mon tendre mon merveilleux amour
De l'aube claire jusqu'à la fin du jour
Je t'aime encore tu sais je t'aime
Este, dizem, é um país de gente dócil e de brandos costumes. Este, dizem, é um governo que pegou na insustentável situação legada por Sócrates e, em submissão aos ditames da Troika, não tem alternativa senão escolher repetidamente políticas recessivas, que agravam a situação económica e que perpetuam o problema.
Assisti aos primeiros minutos da declaração da Ministra das Finanças ao monocórdico país que, em monocórdico tom, reiterou o pensamento e a ideologia que este governo professa, ao abrigo da fachada encarnada pelas ordens da Troika.
Entre as várias medidas que ainda ouvi, e dos rodapés que fui lendo ao longo da noite informativa, o Orçamento de Estado esquece a reforma do dito e a história da melhoria da produtividade na função pública visto que, ao mesmo tempo que aumenta o horários de trabalho para 40h/semana, propõe aos trabalhadores uma redução em 8h/semana. Poderia ser para reduzir o desemprego, mas é apenas para reduzir o montante que gasta com os salários. Portanto, a 12% de redução salarial (por aumento de horário de trabalho) somam-se os cortes, que passarão a visar os salários a partir de 600,00€, e atingirão os 12%.
A luta entre o CDS e o PSD está cada vez mais aparente, não se coibindo José Luís Arnaut de ser mais assertivo nas críticas à decisão e à gestão política dos cortes nas pensões de sobrevivência, do que Eurico Brilhante Dias, em frente ao inefável Mário Crespo. O PSD diverte-se a armadilhar Paulo Portas que, com os seus ministros pós remodelação, aceitam o contrário do que apregoaram antes de ascenderem ao governo.
Entretanto já não é só a Troika que se acha dona de Portugal. Angola compra as nossas empresas, os nossos jornais e assume a sobranceria de quem tem poder e manda, após a tristíssima e indigna figura de Rui Machete. Mas nem o gozo angolano serviu de mote à demissão do Ministro dos Negócios Estrangeiros.
Estrangeira sinto-me eu, no meu país. Este país que dizem brando e submisso, está cada vez mais alheado e descrente destas instituições, nacionais e europeias, que nós ainda acreditamos ser democráticas. Este é um país em que a gente boa, cumpridora, pobre, sem perspectivas, atraiçoadas pelos seus representantes eleitos, a quem tiram a dignidade e a esperança, tem todas as condições para vitoriar o primeiro vendedor de sonhos que lhe prometa um pouco de segurança e de placidez futura.
Este é um país de gente triste. E a infelicidade é a melhor arma para o mal, o mal corriqueiro, quotidiano e mediano, que se instala nas conversas, nas invejas, nos vizinhos, aquele mal que nos enforma a indiferença com que olhamos a diferença, a cor da pele, os bairros sujos e degradados, aquele mal de antes eles que eu. A infelicidade é perigosa.
The Hospital at 4 am
Tentou enrolar-se de lado, no cadeirão de plástico que rangia ao mais leve movimento. Ficou a olhar para ela, cabeça a descair, olhos fechados e mãos que desenhavam alguns gestos incompreensíveis. Angustiou-se. O que se passaria na sua cabeça? Seguiu atentamente aquelas mãos, uma ligada ao soro, a outra que se levantava do braço do sofá. Esforçou-se para a ouvir, pensando que necessitava de alguma coisa.
E percebeu que, no seu atabalhoado sono artificial, ela explicava a alguém o número de voltas, as malhas, as agulhas e as cores que iria tricotar, com a gentileza de quem ajeita a lã ao corpo, medindo com olhar da mente os centímetros do decote, a inclinação da cava. Levantou-se a devagarinho sossegou-a, como quem acalma uma criança, sem conseguir conter as lágrimas.
(...) se lhe perguntarem se ele tem linhas vermelhas, não tem. se lhe perguntarem se tem vergonha, nem sabe o que tal seja. se lhe perguntarem se acha que se vai safar, está convencidíssimo disso. e o pior de tudo é que é mesmo possível: quem semantém no governo depois de uma demissão irrevogável e sobe até nas sondagens pode acreditar que o céu é o limite para todas as desonestidades e patifarias.
Que conforto na alma ouvir alguém defender o país, a democracia, as instituições democráticas. Que dor esta de perceber que é mais uma das vozes a clamar no deserto. Como Jorge Sampaio disse, é inadmissível ouvirem-se ataques ao Tribunal Constitucional e à Constituição da parte de responsáveis nacionais e internacionais.
É inadmissível o que se passa em relação aos salários, às pensões, às barragens manipulativas, aos desesperos ideológicos dos fanáticos de hoje, que minam e destroem os cimentos da convivência social - a solidariedade entre gerações, a redistribuição da riqueza, a confiança entre os cidadãos e o estado.
Tudo se rompe e tudo deixa de fazer sentido. Entre governo fanático e oposição inepta, tudo se usa e utiliza num crescendo de demagogia e populismo, esgrimindo-se até a segurança dos cidadãos a propósito da manifestação convocada para a ponte 25 de Abril. Estarão os serviços de informação e a PSP a soldo de Passos Coelho?
Não se acredita em nada nem em ninguém. O descalabro do sentido de voto no PS, que deveria corporizar a ânsia de alternativas, é apenas mais um sinal.
Triste, é um tempo triste, um povo que regressa à inenarrável manhã cinzenta, sempre à beira do abismo e da tempestade.
Obrigada, Jorge Sampaio, pela intensidade das suas palavras, pela clareza dos seus sentimentos e pela infeliz raridade da sua indignação e da sua dignidade.
Nota - Peço desculpa a quem viu o vídeo que coloquei. Não era o que eu queria, estava desactualizado. A entrevista a que me refiro ainda não está disponível.
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