Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Na sequência da greve geral, da entrevista que Teixeira dos Santos concedeu a Judite de Sousa e do último programa semanal da TSF, Bloco Central, há algumas coisas que me deixam ainda mais dúvidas (porque eu, ao contrário de Cavaco Silva, tenho cada vez mais dúvidas e estou sempre a enganar-me) das habituais.
Teixeira dos Santos foi sóbrio e discreto, fintando as perguntas telenovelescas de Judite de Sousa, cujo único objectivo era fazer alarde e publicidade da irascibilidade de Sócrates, e de quanto os seus colaboradores sofreram às suas mãos. A informação está tabloidizada e a sociedade vive num perpétuo mundo onírico, de tipo Walt Disney, desapegado da realidade e do mundo adulto com que temos que lidar. A apologia da inocência, da espontaneidade e da perpétua adolescência toca as raias do disparate. A maledicência e a coscuvilhice constantes sobre a política são dramáticas e envergonham. Não me interessa se Sócrates tem mau feitio, Teixeira dos Santos se ofendeu, Paulo Portas amua, a ministra Cristas tem fanicos, se há amantes a pulular ou amizades quebradas, vícios tabágicos ou virtudes eclesiásticas. O que me interessa é o serviço público, as ideias políticas, as decisões, os argumentos, os resultados.
Mais uma vez passou a ideia de que o chumbo do PEC IV foi totalmente irresponsável e que, mesmo que ninguém possa afirmar que teria sido evitado o pedido de resgate, tê-lo-ia atrasado e, quem sabe, como disse Pedro Adão e Silva, Passos Coelho tivesse sido substituído por alguém capaz e mais competente.
Quando falamos do enorme consenso que hoje existe na sociedade, constituído por todos os partidos da oposição, por facções dentro dos partidos do governo, associações sindicais e patronais e a tão propalada e diáfana sociedade civil, quanto à necessidade de substituição do governo (de que eu própria comungo), é preciso lembrarmo-nos de que, há pouco mais de 2 anos, também havia um enorme consenso social e político, protagonizados pelos partidos todos, facções do PS, sindicatos, associações patronais, sociedade civil e Presidente da República, em como Sócrates e o seu governo eram responsáveis por todos os males do universo e deveriam ser demitidos, tendo-se precipitado as eleições.
Será que estes enormes consensos, caso sejam invocados sempre que houver decisões governamentais impopulares e situações de crise, deverão associar-se a quedas de governos e eleições antecipadas? Onde está a democracia representativa e a base para mandatos que permitam a implementação de uma política minimamente estável e consequente? E, se poderia ter sido uma bênção a hipotética substituição de Passos Coelho, não seria também uma esperança maravilhosa a substituição de António José Seguro na liderança do maior partido da oposição e representativo da esquerda democrática?
Que tem o PS a sugerir, a mudar, a motivar, a envolver os cidadãos, que justifique a sua vontade repetidamente afirmada de ir já a eleições? Na verdade penso que é a certeza de que, quanto mais tempo passar, mais provável será que não chegue a Primeiro-ministro. Quanto ao PCP e ao BE, assim como as palavras de ordem que ouvimos – está na hora de o governo ir embora – elas são exactamente as mesmas desde 25 de Novembro de 1975 e foram gritadas a todos os governos, desde então.
Estamos perante um bloqueio político sem precedentes. Mas a repetição do assalto ao poder, visto que ninguém percebe bem qual a alternativa a formar após eleições antecipadas, incerteza que se multiplica ao perceber que este PS nem coragem tem para, claramente, explicitar se apoia ou não a greve geral, talvez não seja a melhor opção. Até porque, ao contrário do governo de Sócrates, este conta (ainda) com uma maioria Parlamentar. Soma-se a este quadro deprimente um Presidente da República que desprestigiou e anulou a função presidencial, instituição que deveria ser o garante do normal funcionamento da democracia.
Queda do governo – de que está o CDS à espera? Da saída da Troika? Do próximo orçamento? Será que António José Seguro prepara e espera uma aliança com Paulo Portas, num cenário de eleições antecipadas?
Acho sintomático ler várias pessoas referirem-se aos que não fizeram greve com aqueles que tiveram necessidade de justificar esse facto. Realmente está de tal forma impregnado, na ala esquerda, que quem não é grevista está vendido, é amarelo, defende o patrão, é cobarde e outros epítetos, tal como para a ala direita se passa exactamente o contrário, que muitos se sentem compelidos a explicarem-se. No fundo, é o que estou a fazer.
Realmente respeito muito quem faz greve, se a faz porque está convencido que essa forma de luta terá consequências, é uma tomada de posição de dignidade e clamor. Tal como respeito quem a não faz, se pensa que não se revê nesse tipo de manifestação de desagrado. Mas há patrulhas ideológicas dos dois lados, que gostam de insultar quem não faz a escolha certa, dependendo da lateralidade em que se está.
A verdade é que acredito cada vez menos nas greves como meio de pressão. Parecem-me anacrónicas, um ritual que se repete sem consequências. Penso que a pressão sobre o poder político, pois esta é uma greve com fins políticos e não laborais, a cumplicidade e o ganho da opinião pública se conseguem através da capacidade de chegar aos media e influenciar a opinião pública. É só estarmos atentos ao bombardeamento a que, desde que sequestrou os subsídios no sector privado - o governo tem sido submetido, com comentadores de todos os tipos, jornalistas, politólogos, economistas e filósofos, a desdizerem o que ansiavam como terapêutica salvífica nos últimos tempos do governo anterior. Também foi assim que se criou a onda de crucificação do governo de Sócrates.
E temos também o fenómeno das redes sociais, que podem levar à desvalorização da representatividade dos eleitos, pois confunde-se a vontade do povo com o que se lê nas redes e com a organização das ditas manifestações inorgânicas. Fenómeno esse ainda não compreendido nem aproveitado pelo regime.
Os bloqueios da circulação das pessoas, como os tentados na ponte 25 de Abril, ou da saída de trabalhadores que não aderiram à greve, cpomo o que aconteceu na Carris, são ilegítimas e a polícia tem por função impedi-las. A democracia assenta no respeito pelas escolhas de todos, por muito que não sejam as nossas.
Seguro culpa Governo por falta de acordo com professores
Ou seja, se o próximo governo for do PS e António José Seguro o Primeiro-ministro, na greve aos exames que, fatalmente, será convocada pela FENPROF e pelos retantes 7 sindicatos, não esquecer que não será apenas a FENPROF, Seguro aceitará mudar as datas de exame ao sabor dos pré-avisos de greve?
Se o meu objectivo fosse ter muitos comentários aos posts que vou escrevendo, bastava fazer uma qualquer referência semanal que beliscasse a FENPROF, para que que as patrulhas dos camaradas me mimoseassem com os seus insultos. Assim tenho esse privilégio só de vez em quando.
Para que fique bem claro e explícito:
Cruzei-me com João Pinto e Castro no SIMplex, virtualmente, e pessoalmente uma ou duas vezes, em que não trocámos mais do que alguns cumprimentos. Já o lia no seu ...bl-g- -x-st- e continuei a lê-lo no jugular. Foi para mim um choque a notícia da sua morte. Era uma voz lúcida, esclarecida e bem humorada que vai fazer muita falta.
Estou a ouvir Eduardo Catroga explicar que as gorduras do estado corresponde aos salários, às despesas sociais, etc. Se acabarmos com tudo isso, o estado emagrece, definha e morre, que é a solução ideal, para estes senhores.
Também falou em equidade entre sectores publico e privado, em relação ao horário de 40h semanais. Eu estou de acordo quanto ao horário de 40h, mas será que Eduardo Catroga acha equitativo aumentar o horário de trabalho sem o consequente aumento do respectivo ordenado? Será que há equidade entre o ordenado de quadros como ele nos dois sectores?
Os professores pedem a demissão de todos os ministros e já não é a primeira vez que ameaçam fazer greve aos exames. Com Maria de Lurdes Rodrigues passou-se o mesmo. Se Nuno Crato muda as datas, por causa do pré-aviso de greve, ficará refém dos sindicatos.
Por muito que discorde deste governo, neste caso concordo com Nuno Crato e com Passos Coelho.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
À venda na livraria Ler Devagar