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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Tem havido uma enorme campanha contra a existência de exames nacionais no 4º ano do Ensino Básico, baseado nas crenças modernas do que traumatiza as crianças. Os conhecimentos que tenho de pedagogia e de psicologia infantil são apenas aqueles que os cidadãos têm e que, pelo facto de terem sido pais, foram e são obrigados a rever em alturas de conflitos, de crises ou, simplesmente, quando confrontados com as surpresas do crescimento.
Quanto ao folclore montado à volta dos nervos, do regresso ao passado, do salazarismo dos exames, das ansiedades, dos pedidos de declarações de honra a crianças tão novas, da enorme deslocação para outra escola, do medo por não estar em ambiente conhecido, é a melhor forma de transformar algo banal e habitual no percurso de um estudante num momento aterrador e impossível de ultrapassar.
Muito pouca confiança temos nos nossos filhos, que nem são assim tão indefesas ou presas de quaisquer alterações mentais sem fora da confortável e acolchoada rotina dos dias, nem são raposas à espreita da primeira oportunidade para fazerem trapaça. Faz parte da vida assumir responsabilidades, ser-se posto à prova, ultrapassar obstáculos, são importantes os rituais de passagem. Os exames devem ser encarados como provas naturais para quem estuda. O facto de serem prestadas numa instituição diferente e por professores desconhecidos apenas asseguram que as crianças todas tenham as mesmas oportunidades. Todos sabemos, e a responsabilidade aqui é dos adultos que são professores, que muitos dos resultados das provas de aferição não eram fidedignos pois havia sempre alguns professores que ajudavam na resolução dos testes, o que era extremamente injusto e enviesava as possíveis avaliações posteriores à validade das mesmas. Quanto aos telemóveis, também me parece um exagero pedir uma declaração de honra em como não os usariam. Mas não me iludo com a ideia angelical de que nunca se lembrariam de tal, nem com a certeza de que naquela idade não sabem o que é honra. Isso é uma menorização que eles próprios não aceitam.
Outro assunto muito diferente é se na verdade haverá alguma vantagem para os alunos e para o sistema de ensino com a realização de exames nacionais neste nível. O que mais me preocupa não são os exames, são a resposta que o sistema deveria poder dar a quem não passa nos exames - esse é que me parece o problema mais importante para resolver. Onde estão as políticas de reforço e acompanhamento de quem tem mais dificuldades? O que está pensado ao longo do ano, como diagnóstico destas situações? Quais os professores que investem nos alunos que não passaram? Quais os motivos do insucesso, como evitá-los e ultrapassá-los?
Não me recordo de nada nas diversas declarações e notícias, nos circos montados à volta das escolas esperando que alguma criança estivesse em prantos antes ou a seguir às provas. Não me lembro de ter visto questionar os responsáveis do que pretendiam fazer com as crianças que não tiverem atingido os conhecimentos que se pretendia. Isso é o que realmente interessa.
A pouco e pouco vão-se desmontando as mentiras e as calúnias com que se cobriram vários protagonistas da governação anterior. Infelizmente já ninguém pode reparar os enxovalhos a que tantos forma expostos e não há processos de difamação que apaguem o sofrimento dos que foram julgados em praça pública. Os responsáveis por tanta lama, a pretexto da luta contra a corrupção, não são mais do que peões, mutas vezes voluntários, numa luta política suja e antidemocrática, e fazem parte de grupos profissionais que deveriam ser a segurança da sociedade, como por exemplo jornalistas, advogados, investigadores e magistrados.
Rescisões amigáveis
(...) quem aceitar seguir este caminho já não poderá voltar a trabalhar ou prestar serviços a qualquer órgão da Administração Central, Regional ou Local, empresa ou instituto público. (...)
Paulo Portas fez um discurso de Primeiro-ministro. Calmo, pausado, explicativo, sofrido, assumindo a necessidade de renegociar com a troika e não aceitando a inacreditável taxa de sustentabilidade para os pensionistas. Concorde-se ou não, Paulo Portas fez o discurso que deveria ter sido o de Passos Coelho.
E assim temos um governo de coligação em que o Primeiro-ministro faz uma triste figura num dia e o parceiro de coligação demonstra como se deve posicionar o País, em relação aos seus credores, e como deve ser um político que procura o apoio da população.
Pulo Portas continua a esticar a corda mas ainda não a fez rebentar. Esperará ele que o seu eleitorado se manterá, ou mesmo crescerá, à custa do eleitorado do PSD? Ou perdeu o tempo certo e justo para romper?
António José Seguro não marca a agenda. Nem tão pouco o Presidente. Maria de Belém Roseira tem razão - Paulo Portas é o político com mais poder, mas não sei se tem noção do que fazer com ele.
Parece ter sido há mais de quatro décadas, mas foi apenas há 2 anos. Não deveremos esquecer o penteado, a compostura, o ar grave e sério, a voz colocada de cantor lírico, ã empáfia de salvador da Pátria, o populismo exacerbado ao prometer viajar sempre em económica, a inflexão de Autoridade, o enaltecimento do rigor sem o cimento das ideias, da ética e dos valores, palavras que abrilhantam os discursos, a pose de estado, o rictus teimoso, e o vazio, o vazio, o vazio, o vazio, o vazio, o vazio, o vazio,...
Poema de Carlos de Oliveira
Sonhos
enormes como cedros
que é preciso
trazer de longe
aos ombros
para achar
no inverno da memória
este rumor
de lume:
o teu perfume,
lenha
da melancolia.
Bem sei que o dia da mãe foi hoje. Mas foi ontem que me apeteceu fazer o pudim de café. Hoje, após uma caminhada bem apressada de cerca de 50 minutos, com um intervalo para uma rosa vermelha com a qual presenteei a minha mãe, vários cafés e copos de água, tivemos a brilhante ideia, e muitíssimo original, de ir almoçar para a beira rio. Quando lá chegámos, para além das filas de carro para parquear, da infrutífera procura de uma esplanada que não estivesse vazia, mas com todas as mesas reservadas, acabámos por abancar dentro do restaurante. O serviço foi mau e demorado, a comida veio fria, as doses eram milimétricas o que, para mim, até é uma vantagem, e os preços não estavam conforme a crise.
Enfim, voltemos ao pudim de café. Esta é uma receita precisamente dada pela minha mãe, que a aprendeu da sua, minha avó.
Ingredientes:
O mesmo volume de - ovos inteiros, leite e açúcar. Esta base serve para tudo. Eu usei 6 ovos que correspondem a cerca de 300ml de leite, aos quais juntei 2 saquetas de café solúvel, e 300g de açúcar, embora eu só tenha usado 270g (mas penso que com 250g também ficará maravilhoso).
Preparação:
A primeira coisa a fazer é caramelizar a forma do pudim: colocam-se 3 a 4 colheres de sopa de açúcar e a mesma quantidade de água dentro da forma, ao lume. Quando o açúcar começar a ficar amarelo retira-se a forma e, com uma colher de pau, barra-se por dentro com o caramelo. Tem que ser depressa porque começa a solidificar.
A seguir liga-se o forno.
Mistura-se o leite com o café e aquece-se. Entretanto juntam-se os ovos ao açúcar e mexe-se bem, com uma colher de pau. Incorpora-se o leite quente, com cuidado para não cozer os ovos. Depois de bem homogéneo, deita-se o preparado na forma. Coloca-se a forma com o pudim dentro de um pirex com água, até cobrir metade da forma, e leva-se a cozer no forno (médio) cerca de 40 minutos. Está pronto quando o palito que se espetar sair seco.
Deixa-se arrefecer e desenforma-se.
Ficou muito bom.
Não tenho esperança na actual liderança do PS, nem nas dos outros partidos (PCP e BE). Não há sinais de uma alternativa credível protagonizada pela oposição em contraponto ao que temos. Mas de uma coisa estou cada vez mais convencida - este governo tem de acabar. Para isso terá que ser o CDS a romper a coligação, pois o Presidente já demonstrou que não demitiria o governo. Em democracia há sempre alternativas.
Espero bem que haja pessoas, no meio dos responsáveis partidários, com um mínimo de responsabilidade, que estejam a participar em conversações longe dos holofotes dos media, sem necessidade de cartas e email, telefonemas ou outras vacuidades para enganar o país, que cheguem a um mínimo de consenso em relação aos mais graves problemas que enfrentamos:
É urgente que a sensatez tome conta dos eleitos e dos partidos políticos. Já todos percebemos e comprovámos a falácia e o perigo do governo dos técnicos iluminados. As opções são políticas e têm a ver com aquilo que consideramos ser o contrato que o Estado tem com os seus cidadãos - direitos e deveres, de parte a parte. Não é concebível continuarmos a ter um governo que não defenda os superiores interesses do País. Não é concebível termos um governo que, do alto dos seus conhecimentos técnicos, se é que os tem, se desligue totalmente da realidade e não se saiba adaptar às alterações dos contextos e dos desafios que enfrenta.
Paulo Portas perderá mais uma oportunidade de acabar com esta loucura. Sou totalmente a favor do cumprimento dos mandatos - foi assim com José Sócrates, tem sido assim com Passos Coelho. Não me revejo neste PS que será o partido que poderá liderar uma alternativa. Mas enquanto este governo continuar, todos os dias serão mais difíceis, masi deprimentes e será mais funda a cova onde nos afundamos.
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