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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Tenho sido muito crítica de António José Seguro. Mas a verdade é que ultimamente tem tido iniciativa política, marcando a agenda e mostrando à troika que pode ser alternativa.
A carta enviada aos representantes do FMI, BCE e CE, seguida das conversas com os parceiros sociais, falando directamente com os decisores externos e com as forças da tão falada sociedade civil, são um bom sinal.
Espero que continuem estes bons sinais, porque todos os outros são deprimentes.
A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas "sou gaivota e fui sereia"
ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste
A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo
faltou-me o pé senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos
A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"
Convidei para o jantar... um poema
Havia rumor de passos de vozes ranger de tábuas
entre as rosas mistura de cheiros acres e baunilha.
Havia olhares prolongados de privações
anos de chão raspado por joelhos macerados.
Havia mãos diligentes que batiam ovos
zelosamente guardados em quartos de verão.
Infâncias de memórias casas de ventos
onde se depositam amenas tardes de feno.
Suspiro com leite-creme de beterraba e chocolate
O suspiro:
Batem-se 8 claras com uma pitada de sal em castelo bem firme, e juntam-se 400g de açúcar batendo sempre, durante mais um pouco, até ficar um creme branco e espesso. Espalha-se num tabuleiro e leva-se ao forno lento até cozer.
O leite-creme de beterraba e chocolate:
Cozem-se 200g de beterraba descascada e aos bocados em água, com raspa de 1 limão e de 1/2 laranja e 1 vagem de baunilha (aberta, raspada e cortada aos pedaços); depois de cozida escorre-se, retira-se a vagem da baunilha e reduz-se a puré (com a varinha mágica) juntamente com 1/2l de leite que, entretanto, ferveu com outra vagem de baunilha e 200g de chocolate preto (de culinária), cortado aos bocadinhos para ir derretendo. À parte misturam-se 8 gemas com 300g de açúcar, 2 colheres de sopa rasas de farinha e, a pouco e pouco, o restante 1/2 litro de leite. Côa-se o leite com a beterraba e leva-se ao lume, juntando com cuidado a restante mistura do leite, ovos, açúcar, farinha e leite. Deixa-se no lume até engrossar, torna-se a coar e está pronto.
Serve-se o suspiro banhado em leite-creme de beterraba e chocolate.
Esta é uma homenagem à minha avó.
Dos comentários ouvido na TSF - Bloco Central e Governo Sombra - e na SIC-N - Eixo do Mal - cheguei a algumas conclusões revolucionárias, e que enformarão o meu viver democrático e republicano daqui em diante:
Daqui depreendo que a lei é variavelmente aplicável consoante se é Relvas, Paulo Macedo, Sócrates, Maria de Lurdes Rodrigues, Vítor Gaspar, João Semedo, Carlos Carvalhas, Jerónimo de Sousa, Ana Avoila, ou até Clara Ferreira Alves, Pedro Adão e Silva, Pedro Marques Lopes, João Miguel Tavares, Daniel Oliveira, Luís Pedro Nunes, Ricardo Araújo Pereira, Pacheco Pereira e muitos outros. Daqui depreendo que Miguel Relvas não conhece limites, mas que todos estes mentores das liberdades criativas sabem quais são os de Miguel Relvas mas não os deles.
Por isso visto a camisola de bonzo que se me cola à pele e que Clara Ferreira Alves tão apropriadamente desmascarou.
A partir de agora sempre que todos estes oradores aparecerem em conferências, lançamentos de livros, inaugurações de eventos ou quaisquer outras situações, é perfeitamente normal e até saudável, cantar, gritar, insultar, e até atirar ovos podres, visto que isso não belisca minimamente a liberdade de expressão de nenhum deles e é um direito que todos nós temos. A não ser que eles sejam cidadãos, e nós não. Ou é ao contrário?
Águas
E pedras do rio
Meu sono vazio
Não vão
Acordar
Águas
Das fontes
calai
O ribeiras chorai
Que eu não volto
A cantar
Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas
Das fontes calai
O ribeiras chorai
Que eu não volto
A cantar
Águas
Do rio correndo
Poentes morrendo
P'ras bandas do mar
Águas
Das fontes calai
O ribeiras chorai
Que eu não volto
A cantar
Agora é que vai ser: o apuramento culinário e a capacidade de irmanar com os melhores cozinheiros, de todos os géneros e feitios, inventando iguarias de fazer rebolar de gozo o paladar de vários comensais, está ao meu alcance.
Após aconselhamento internáutico, parti rumo ao El Corte Inglés, em busca do afamado ralador Microplane. Mas vim de lá com vários apetrechos e muito agradavelmente surpreendida pela cortesia, conhecimento e afabilidade dos comerciantes, que simpaticamente me arranjaram um maçarico para queimar açúcar, com o respectivo gás e lição prática de uso, termómetro para pontos de açúcar e saca-rolhas que, espero eu, funcione bem.
Tudo isto porque quero aceitar este convite. Já tenho o poema e já imaginei o doce. Só que, entre a ideia e a sua concretização, vai alguma distância. Principalmente se há percalços como o talhar do leite-creme, e coisas semelhantes. Nada que me impeça de continuar a inventar, audaciosamente, até à volúpia aveludado de um leite-creme inovador, desconstruído e reafirmado.
Este é, de facto, o pior Presidente da nossa era democrática, responsável por muita de descredibilização da classe política. Não o único, mas um dos principais. É quase inacreditável.
Aqui está uma manfestação de resistência pacífica, inteligente e irónica. Na verdade até bastante justa.
Grândola Vila Morena foi uma das senhas para o Movimento das Forças Armadas em 25 de Abril de 1974. Foi uma das senhas para a instauração de um regime democrático, o contrário do que os arruaceiros do movimento Que se lixe a Troika fazem quando a utilizam, de forma a conspurcá-la, tal como a conspurca o Ministro Miguel Relvas ao fazer chacota do acompanhamento musical desafinado e grosseiro, no Clube dos Pensadores.
Ao contrário do que Pedro Adão e Silva e Luís Delgado disseram, não me parece que isto seja um movimento inorgânico. Parece-me um movimento de uma minoria antidemocrática que, infelizmente, tem a compreensão dos media e dos comentadores, que ontem, na SIC-N, ao abordarem os desacatos à volta de Miguel Relvas nas redes sociais, apenas mostraram opiniões que validam e desculpabilizam este tipo de contestação.
Pois ela parece-me não só orgânica, organizada e orquestrada, como o contrário da oposição a um governo eleito democraticamente. Não conheço alternativas à democracia representativa, não sei o que é a democracia de rua, parafraseando a pergunta no forum da TSF.
Isto é um festim para as vanguardas esclarecidas e para ditadores frustrados, e está a tornar-se perigoso. Prefiro ministros como Miguel Relvas, que podem ser apeados e demitidos por Presidentes da República e por eleições livres e democráticas, que contestatários como os estudantes lixados pela troika, que nem sequer entendem o que é o protesto político, a pessoas surdas e incapazes de discutir alternativas, por muito desesperadas que estejam.
Desesperados e lixados estamos todos, com este governo, com esta Europa, com esta Troika, e mais ficaremos se a democracia da rua vencer.
Nota: Outras opiniões, que vale a pena ler:
Paulo Pedroso - Portugal está a desaprender a liberdade
Valupi - No país do Miguel Relvas
Diogo Serras - Alternativa zero
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