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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
S&P corta rating a nove países, França perde AAA e Portugal passa a “lixo”
E que tal sugerirem o julgamento de Sócrates em todos os países da Europa? O homem arrasou e continua a arrasar...
Nota: Cuidado: ele anda aí, quem sabe em encontros inconfessavelmente maçónicos, para além de gastronómicos...
Vulcão dos Capelinhos, 14-04-1958
Luís Carlos Decq Motta
A propósito deste post, sobre a ilha Surtzey, lembrei-me do vulcão dos Capelinhos. Há já alguns anos visitei os Açores, incluindo o Faial. Ficou-me na memória o imenso areal cinzento, as casa soterradas, o espetáculo da devastação e do poder da Terra. Vi as fotografias da época e imaginei o terror e o fascínio de quem ali vivia e teve que emigrar.
Vale a pena ver alguns filmes que circulam pela internet sobre este fenómeno ainda tão recente. Deixo um deles, com as imagens em bruto.
Há que reconhecer que o meu sentido de orientação é, de facto, inexistente. Por isso o TOM TOM é um dos meus melhores amigos. Mesmo tendo uma voz a sair do aparelho, encafuado no carro de forma a conseguir ir vendo o caminho pré indicado e colorido, bastante irritante, ordenando saia na saída ou mantenha-se à esquerda ou saia na rotunda, 3ª saída, etc.
Hoje aventurei-me pelas ruas de Lisboa antiga, mais precisamente para a Calçada da Graça. Armada de excelente companhia e TOM TOM devidamente acondicionado, carregado e orientado, meto-me ao caminho. Caminho acidentado, com ruelas íngremes a subir, outras ruelas íngremes a descer, curvas de duzentos e tal graus, linhas de elétrico que fazem deslizar os pneus, carros estacionados em todo o lado impedindo de estacionar em lado nenhum, depois de voltas várias na tentativa de que alguém se convencesse a desaparecer, para aproveitar um qualquer buraco para parar, resolvi regressar a casa.
Mas nada se consegue sem muito trabalho. No cimo de uma das ruelas íngremes que teríamos que percorrer em sentido descendente, dei com vários carros a fazerem marcha atrás, naquilo que me pareceu um movimento alarmado, com as luzes da marcha atrás violentamente acesas, perseguidos por um elétrico que vinha em sentido ascendente e entupindo a ruela, que não permitia a passagem simultânea dos veículos em sentido contrário. Todos se saíram bem, menos um desgraçado de um opel astra que nunca mais se despachava, mesmo tendo em conta os amáveis transeuntes que davam frenéticas indicações ao respetivo motorista.
Foi um passeio interessante. Imperdível. Incluindo o cheiro nauseabundo que estava instalado precisamente ao cimo da ruela em questão. O tempo de espera do despacho do opel astra foi ainda mais extraordinário, tendo em conta as condições ambientais. Enfim, Lisboa antiga e turística, em todo o seu esplendor.
Após a falência do Lehman Brothers e da recessão que se lhe seguiu, muitos pensaram que o capitalismo estava em crise. O Estado serviu, nessa altura, para defender os cidadãos de estranhas manobras financeiras de grandes empresas bancárias, cujo risco de falência globalizada arrastava para a penúria milhões de pessoas em toda a Europa e EUA. Houve um ressurgir das ideologias que repudiavam o lucro pelo lucro, fazendo-se inúmeras comparações com o que se tinha passado antes da grande depressão, na esperança de uma mudança que valorizasse o indivíduo, a qualidade de vida e o bem-estar da sociedade, a bem de todas as democracias.
Pelo contrário, a enorme campanha a que temos assistido em toda a Europa, que redundou na substituição democrática, nuns casos, e não democrática noutros, dos governos de muitos dos países europeus, branqueando a natureza sistémica da crise e apontando como criminosas as políticas que tinham sido implementadas para impedir situações semelhantes às da Grande Depressão, tem subvertido e mudado radicalmente a perceção da vivência e da sociedade no futuro próximo.
Neste momento há já o convencimento de que o Estado não serve para defender as pessoas, para lhes assegurar direitos fundamentais e uma vida digna, mas que é uma excrescência a retirar da vida pública. Também já se conseguiu convencer as populações que não há sustentabilidade para um sistema de segurança social e para um sistema nacional de saúde. Ou seja, a assistência na velhice e na saúde depende dos rendimentos de cada um.
Estamos portanto a construir uma sociedade em que o trabalho é um privilégio e que as perspetivas de desenvolvimento individual, com um mínimo de segurança e qualidade, só está ao alcance de um pequeno grupo de indivíduos, sem se perceber o porquê dessa diferenciação. A falta de pudor de algumas declarações dos novos senhores do mundo é avassaladora e as hordas de jovens sem futuro sustentado avolumam-se.
O populismo e os discursos moralistas foram apenas uma estratégia da direita para chegar ao poder. Por isso a revolta é ainda maior, quando se assistem a discursos de personalidades como o Presidente da República, o Governador do Banco de Portugal, Eduardo Catroga ou Manuela Ferreira Leite, advogando a maior austeridade para quem já está no fundo da escala e no mínimo dos rendimentos, enquanto eles próprios usufruem das exceções. Em Portugal as exceções penalizam sempre os mais desfavorecidos e os mais carenciados.
O pior é que, nem interna nem externamente se vislumbram ideias nem força para as defender, pessoas que se recusem a esta triste globalização da desigualdade e do empobrecimento.
Resta-nos continuar. E reagir, nem que seja a escrever.
Que alternativas a esta situação? Vou tentando ouvir notícias, mas a saturação é demasiada. Um enorme bocejo e a exasperação esperam-me ao fim de poucos minutos. Vão passando dias e semanas com o burlesco trágico de marionetas que se levam a sério.
As figuras mediáticas, as representantes do nosso estado democrático, mantêm os contornos mas já perderam os pormenores. Os cidadãos nem sequer reconhecem os traços internos, já não vêm os limites das formas, já perceberam a ausência de espessura.
O ruído incomoda como mosquitos a meio da noite. É o melhor caminho para nos desligarmos da realidade.
quando em 2010/2011 o governo sócrates decretou um corte médio de 5% nos vencimentos dos funcionários públicos que ganhassem mais de 1500 euros, a ter lugar em 2011, o banco de portugal rabeou mas foi obrigado a aplicar o corte. em 2012, porém, com o governo passos, e numa situação que o próprio banco de portugal reputa de muito mais grave ainda que a de 2011, com uma tutela exterior nas contas do estado e uma gravíssima recessão económica, os cortes decretados nos subsídios de férias e natal não são acatados pelo banco. (...)
Aqui está um excelente artigo de Ana Sá Lopes, a propósito de um paper que já tem cerca de 1 ano.
E se a melhor forma de combater o desemprego, animar a economia, reduzir poluentes e o consumismo fosse diminuir o número de horas de trabalho semanal para 21horas? Será que há algum economista que tenha pensado sobre isso?
Manuela Ferreira Leite afirmou ontem que as pessoas com mais de 70 anos teriam direioto a tratamentos de hemodiálise se pagassem.
Lançou-se, portanto, a discussão da sustentabilidade do SNS. Na opinião de Manuela Ferreira Leite o direito à saúde mede-se pela capacidade de a pagar. Não deixa de ser interessante assistir, em tão pouco tempo, à total desvergonha de uma direita que durante tanto tempo teve pudor em dizer o que lhe ia na alma. Ainda não ouvi os nossos representantes políticos repudiarem estas declarações, tal como o fez de imediato António Vitorino.
Até pode ser legal, mas é imoral. Numa altura destas, em que há redução salarial e aumento de impostos para tantos, ausência de subsídios, reformas a descer e desemprego a aumentar, a resposta de Eduardo Catroga à questão sobre a possibilidade de acumular a remuneração com a pensão, tal como a manutenção do 13º e 14º meses no Banco de Portugal, são sintoma de uma enorme falta de sensibilidade social, para não dizer de vergonha. Isto é inaceitável.
Na Madeira os cidadãos passaram a pagar por inteiro os medicamentos. As dívidas são de tal ordem que a ANF resolveu deixar de fornecer a crédito. É o resultado das opções políticas e económicas do governo regional da Madeira. Alberto João Jardim foi eleito com maioria absoluta. Mas já se perfila a justificação: um nova patifaria do Contnente.
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