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Terra de ninguém

por Sofia Loureiro dos Santos, em 13.11.11

 

Se há alturas em que os funcionários públicos especialmente e toda a população em geral têm razões fundadas para protestar e fazer greve, é esta. Estamos a viver uma crise económica, financeira e social gravíssima, temos um governo que foi eleito com base em falsos pressupostos, que tem feito exactamente o contrário do que apregoou, que está a implementar, sem oposição, o programa mais ideologicamente à direita desde o 25 de Abril, delapidando valores de equidade e justiça fiscal, igualdade de direitos fundamentais e destruição de conceito de Estado e de Serviço Público. Tudo isto numa Europa num crescente de autoritarismo e subversão dos valores democráticos, em que os governos e os povos são manietados e chantageados pel'Os Mercados e pela todo-poderosa Alemanha.

 

Eu sinto-me entre duas realidades que me assustam. Por um lado a necessidade e a vontade de protestar, de manifestar o meu desconcerto, desapontamento, a total desaprovação de tudo o que se passa e firme convicção de que tudo vai piorar. Por outro a certeza de que as manifestações a que assistimos neste último sábado, anacrónicas, repetitivas, iguais às que têm sido organizadas pelas mesmas estruturas sindicais anquilosadas, com as mesmas palavras de ordem, com os mesmos oradores, a dizerem as mesmas coisas que têm dito em todos os governos, de direita ou de esquerda, fossem quais fossem os partidos e as políticas seguidas, com as mesmas músicas de intervenção, importantíssimas e ícones de uma outra realidade, de um outro tempo, de outras gerações.

 

Mas se não me revejo na irrelevância destas acções de protesto, a que já ninguém dá crédito, tal como a greve geral marcada para 24 de Novembro, que tem toda a razão de ser, não fora o manancial de greves gerais marcadas pelos motivos mais disparatados, e pelo facto de ter a sensação de que quem mais tem a perder são os próprios trabalhadores em greve, ainda menos me revejo nas manifestações dos indignados, em que a pulsão antidemocrática e populista me repugnam.

 

Na terra de ninguém estou pior que o tempo invernoso, céu pesado e de chumbo, chuva forte e vento louco, numa temperatura amena de fim de época, humidificando e parasitando a nossa mente.

 

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publicado às 14:50

A Paghjella di l'impiccati

por Sofia Loureiro dos Santos, em 12.11.11

 

A Filetta

 

 

 

Sè vo ghjunghjite in Niolu

Ci viderete un cunventu

Di u tempu u tagliolu

Ùn ci n'hà sguassatu pientu

Eranu una sessantina

Chjosi in pettu à u spaventu

 

Dopu stati straziati

Da i boia o chì macellu

Parechji funu impiccati

Ci n'era unu zitellu

L'anu tuttu sfracillatu

E' di rota è di cultellu

 

Oghje chi hè oghje in Corsica

Fateci casu una cria

Si pate sempre l'angoscia

Intesu dì Marcu Maria

Era quessu lu so nome

Mancu quindeci anni avia

 

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publicado às 17:27

Onze do onze de dois mil e onze

por Sofia Loureiro dos Santos, em 11.11.11

 

 

Onze do onze de dois mil e onze. Fim do mundo inteiro não, fim de uma determinada visão do nosso pequeno mundo. Não há terramotos nem trombetas apocalípticas. O fim do nosso pequeno mundo é tão pequeno e tão fim que nem direito tem a ser grandioso. O fim das nossas glamorosas certezas democráticas, das nossas ideias de igualdade de oportunidades, dos nossos valores eleitorais, da nossa liberdade, é tão pequeno e continuado que a adaptação natural do ser humano, principalmente se governado ou representado por eunucos, não dá direito a grandes indignações.

 

Como é hábito ouvem-se as habituais vozes manifestantes de grande horror, que assim se indignam e manifestam desde o dia vinte e cinco do quatro de mil novecentos e setenta e quatro, e as habituais vozes rancorosas e saudosas do dia vinte e quatro do quatro de mil novecentos e setenta e quatro. Mas o que mais indigna é a manifestação vermiforme de quem se diz opositor e oposição e bale com a fraqueza de quem não sabe o que é grandeza nem alternativa, de quem procura um espaço para mostrar a tacanhez dos vencidos sem luta.

 

Onze do onze de dois mil e onze é uma data sem história, como na história ficarão alguns dos que se submetem ao poder dos incolores que pairam sobre o mundo sem fronteiras, ou com as fronteiras que esse poder incolor determina.

 

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publicado às 23:43

Opereta antidemocrática

por Sofia Loureiro dos Santos, em 10.11.11

 

Tal como Pacheco Pereira e António Costa, preocupados com o rumo antidemocrático da União Europeia, que se reflecte na subversão da democracia em cada país europeu, também estranho e acho totalmente inaceitável as afirmações de Otelo Saraiva de Carvalho, em relação ao quase incitamento dos militares à realização de um golpe militar.

 

A democracia é frágil e as Forças Armadas são o garante da defesa desse mesmo regime democrático.

 

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publicado às 23:34

Feriados

por Sofia Loureiro dos Santos, em 09.11.11

 

Num país laico, não deixa de ser extraordinária a notícia de que a Igreja (Católica) impõe condições ao governo para acabar com alguns feriados.

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publicado às 22:01

A subversão da democracia europeia

por Sofia Loureiro dos Santos, em 09.11.11

 

 

Depois de Michael Fuchs ter defendido a demissão de Berlusconi, Angela Merkel assumiu que não pode haver políticas domésticas dentro da moeda única. Para quem ainda alimenta esperanças de integrar uma União Europeia que se rege por regras democráticas, em que os estados soberanos se respeitam, as últimas declarações destes responsáveis alemães, a efetiva demissão de Berlusconi, e o recuo da ideia referendária na Grécia, pode perder definitivamente as ilusões.

 

Neste momento são Os Mercados e a Alemanha, não sei se a ordem dos fatores é arbitrária, que verdadeiramente apoiam ou demitem os governos. O funcionamento democrático de cada país, em que os cidadãos escolhem os seus governantes, é totalmente subvertido pelas pressões externas, os juros das dívidas a aumentar, os ratings a diminuírem e pelo despudor dos responsáveis alemães. Péssimos sinais e péssimas notícias.

 

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publicado às 21:45

Sou eu

por Sofia Loureiro dos Santos, em 05.11.11

Chico Buarque 

 

 

Na minha mão

O coração balança

Quando ela se lança

No salão

Pra esse ela bamboleia

Pra aquele ela roda a saia

Com outro ela se desfaz

Da sandália

 

Porém depois

Que essa mulher espalha

Seu fogo de palha

No salão

Pra quem que ela arrasta a asa

Quem vai lhe apagar a brasa

Quem é que carrega a moça

Pra casa

Sou eu

Só quem sabe dela sou eu

Quem dá o baralho sou eu

Quem manda no samba sou eu

 

O coração

Na minha mão suspira

Quando ela se atira

No salão

Pra esse ela pisca um olho

Pra aquele ela quebra um galho

Com outro ela quase cai

Na gandaia

 

Porém depois

Que essa mulher espalha

Seu fogo de palha

No salão

Pra quem que ela arrasta a asa

Quem vai lhe apagar a brasa

Quem é que carrega a moça

Pra casa

Sou eu

Só quem sabe dela sou eu

Quem dá o baralho sou eu

Quem dança com ela sou eu

Quem leva este samba sou eu

 

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publicado às 22:35

Continuo

por Sofia Loureiro dos Santos, em 05.11.11

Hessam-Abrishami

 

 

Volto a cabeça dentro do tempo

o olhar devolve-me o espanto

de quem se não reconhece

nesse mundo transformado

mas imutável.

 

Continuo como o mundo

parada mas em viagem

para onde os olhos e o tempo

quiserem.

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publicado às 21:47

À volta do lume

por Sofia Loureiro dos Santos, em 05.11.11

 

 

Para mim, a época de Natal começa a ser preparada mais ou menos por esta altura. Começam os fins-de-semana com panelas ferventes de marmelos, laranja, canela, abóbora, jeropiga, rótulos, frascos, garrafinhas, rolhas de cortiça, cola e açúcar, tanto quanto o necessário para abrandar as aarguras da existência.

 

À volta do lume conversa-se, cimentam-se silêncios e cumplicidades. Colheres de pau e mãos meladas, facas, cascas e sementes, chá e paciência, preparam-se cabazes com a substância da amizade.

 

É bom e quente, e sabe-me tão bem.

 

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publicado às 21:31

Seis anos

por Sofia Loureiro dos Santos, em 05.11.11

 

De 5 de Novembro de 2005, a torcer por Manuel Alegre, a 5 de Novembro de 2011, a torcer por... nós todos. Não sei se me apetece tanto como há 6 anos. Mas ainda me apetece escrever neste blogue, por vezes descabelado, por vezes morno, cada vez com menos certezas. A todos os que vão aparecendo, obrigada. Vou continuando.

 

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publicado às 15:13



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