Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Entre 7 e 9 de Abril decorreu, no Porto, o XIV Congresso Nacional de Anatomia Patológica. Ao contrário de outros congressos de outras especialidades, não houve antes, nem depois, qualquer notícia sobre o assunto.
A Anatomia Patológica não é uma especialidade mediática, nem glamorosa. Os médicos de Anatomia Patológica praticam uma ciência quase invisível, mas absolutamente central em toda a actividade de diagnóstico, de decisão e monitorização terapêutica, de avaliação de factores prognósticos, de investigação e de ensino.
Um dos convidados foi Adalberto Campos Fernandes que, de uma forma simples e clara, discorreu sobre as várias ineficiências do nosso sistema de saúde, a necessidade de modificação da cultura de gestão, da aposta nos recursos humanos com a fidelização dos profissionais a tempo inteiro, uma remuneração condigna, exigência, rigor e avaliação de desempenho, reforço das lideranças intermédias e manutenção da universalidade do SNS, desmontando a argumentação crescente do paradigma do utilizador/pagador.
Rigor, trabalho, estudo e investigação, partilha de ideias e de experiências, formação contínua, a Anatomia Patológica é o paradigma da tradição que se alia à inovação, da responsabilidade que se junta à ousadia e enforma o verdadeiro núcleo da Medicina.
Nota ou declaração de interesses: sou Anatomopatologista.
Vivemos em democracia, gostamos de acreditar que sim, que temos uma sociedade pluripartidária, que nos oferece opções de governo diferentes, sendo essas opções decididas pelo voto popular, em eleições livres.
Mas será mesmo assim?
Desde a aprovação do OE de 2011, pelo menos, tem havido pressões quase diárias para que Portugal peça ajuda financeira externa, tal como fez a Irlanda. Para isso têm trabalhado os partidos da oposição mas sobretudo e principalmente, a especulação que faz com que subam os juros da dívida, que faz com que desçam os ratings dos bancos, das empresas públicas e do país.
A luta política é lícita, independentemente das interpretações que possamos fazer, da escolha do partido A ou do partido B. Mas neste momento até a decisão de ir a eleições é penalizada. Já não basta não termos mecanismos de decisão económica e financeira, visto que os governos têm que obter o aval e a autorização da União Europeia, leia-se da Alemanha, como têm que prestar contas à União Europeia, leia-se à Alemanha, como ainda têm que ter eleições apenas quando e se a União Europeia e Os Mercados quiserem.
Os media não podem estar a soldo do poder político. Mas informarão melhor as populações se estiverem a soldo do poder económico?
Nesta Europa dos Cidadãos, como ouço tantas vezes dizer, nesta sociedade ocidental, moderna e democrática, a vivência do que é a democracia vai encolhendo e afastando-se cada vez mais do seu conceito.
Há sempre alguém que gostaríamos de igualar, nesses sonhos de grandeza da adolescência, heróis da ciência, das artes, gente que desafia o perigo, que se entrega à morte para salvar o próximo, enfim, daqueles seres que se nos apresentam em forma humana, mas são carne e sangue de deuses.
Pois eu sempre juntei à minha lista os detectives das histórias que vou lendo, mas não do tipo Sherlock Holmes ou Philo Vance. Os que eu aprecio são a Miss Marple, a Mma Ramotswe, o Poirot, o Foyle, o Jaime Ramos e o Maigret, ou aqueles seres anónimos e sem graça que se revelam nos policiais, cheios de defeitos e de vícios mas argutos e, bem lá no fundo, generosos e capazes de entregas totais, de renascimentos memoráveis.
Este fim-de-semana comecei a saborear uma das muitas séries já realizadas com base nos livros da Agatha Christie, em que a espertalhona e mexeriqueira Miss Marple observa as águas paradas da vida de todos os dias e descobre mundos invisíveis e inconfessáveis.
É uma boa maneira de vencer a crise. Pelo menos desligamo-la por algumas horas.
Há alguns dias, em acesa discussão com uma amiga, à volta de um jantar que tentava apagar a exaustão que nos acabrunhava, afirmava eu com toda a convicção que o povo somos nós, bons, maus, corruptos, rigorosos, iguais a todos os que tanto condenamos e desprezamos. Ouvi uma resposta meio azeda meio séria, de quem se sente mal pelo que diz, mas convencida da sua razão, de que não, não somos todos iguais, que ela não se sentia parte daquele povo mal educado e vigarista, oportunista e ronceiro.
Hoje, ao inteirar-me da forma como o Benfica reagiu à vitória do Futebol Clube do Porto, também eu afirmo que não faço parte do povo que mandou fechar as luzes e abrir a rega, não sou igual a quem atira pedras, a quem faz da selvajaria a relação com o seu pequeno mundo. De facto, ainda bem que não somos todos iguais.
Shinpei Kusanagi: grace
De passagem
sem palavras nem paisagem
corre o murmúrio da terra
o barco pela margem.
De passagem
percorro o sentido da mensagem
desfaço o mapa
continuo de viagem.
Cristina Branco
Coerência e sentido de estado:
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.