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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
As farófias tomam conta da vida política. Por um lado, ficamos mais leves e mais doces. Tal como as farófias, as ideias derretem-se e é como se nunca tivessem existido. Ocupam o lugar do ar batido entre as claras, fofas, leves, como espuma.
Ao lado das farófias só o canto, o bel-canto, para ser mais precisa, a voz funda e vibrante, a postura da boca e das cordas vocais, os olhos que sonham o horizonte, enquanto o som treinado de uma laringe educada se faz ouvir aos ouvidos das gentes simples. Lá lá lá lá lá lá…
Ao lado das farófias e do bel-canto soa a família, a que se tem e a que se queria ter, os filhos, os cães, os periquitos, as tartarugas, os beijos, as mãos dadas, o eu amo-o profundamente, o ser brincalhão, os romances e os pastéis de nata.
E assim vamos nós, das farófias para o bel-canto, da mensagem pascal para as cadelas, do cor-de-rosa para o cor-de-laranja, do que não interessa nada para o que não tem interesse nenhum.
A tarde com as mãos na terra
ervas e aromas acalmam o dia.
Lá fora os ruídos do mundo sem chão
e as palavras sem rega nem regras
sem perdão.
Take the A train
Michel Petrucciani
Steve Gadd
Anthony Jackson
(fotos da internet)
A melhor das receitas é mesmo a que é improvisada… e sai bem.
O meio cabrito que hoje assámos ficou divinal, como é próprio de um almoço pascal. Foi comparado num hipermercado, não sei qual, já partido a preceito e bem embalado, ficou a marinar desde 5ª feira em várias ervas aromáticas – tomilho, rosmaninho, louro, vinho, sal e xarope do ácer. Bem acamado do tabuleiro do forno, em lume muito brando, demorou cerca de 1:30h a cozinhar. À parte cozeram batatas pequenas, com casca que, depois de peladas, mergulharam no molho do cabrito para tomar gosto. Acompanhado de esparregado e Chateauneuf du Pape, tinto, sacrificámos o cabrito resignada e gostosamente.
A outra experiência também não correu mal, mas precisa aperfeiçoamento.
É uma tarte. Como despachada matrona que sou, isto de fazer massas quebradas, areadas ou folhadas não é comigo. Há umas maravilhosas no Pingo-Doce que é só esticar nas formas e/ou tabuleiros e colocar a assar no forno. No entanto, quando as ditas massas quebradas quebram mesmo por ficarem esturricadas, negras, totalmente impróprias para consumo, a internet é um excelente auxílio para nos livrar de embaraços. E assim resolvi seguir as indicações de algumas almas caridosas, fazendo uma pasta de tarte com bolachas moídas (250g). A receita aponta para bolachas Maria mas como não as tinha em casa, usei uns borrachões que me tinham dado, bem moídos no copo misturador. Depois juntei 150g de margarina derretida (no microondas), 2 colheres de chá de açúcar e sumo de meia laranja. Tudo muito bem homogeneizado, espalhado na forma de tarte, no frigorífico durante 2 horas.
Para o recheio usei uma receita de doce que me ensinaram há muito pouco tempo e que é rapidíssima e facílima de fazer: mistura-se 1 lata de leite condensado com 1 pacote de natas e sumo de 3 limões. Já está. Coloquei o recheio na forma já forrada com a pasta de bolacha e frigorífico com ela. Antes de servir coloquei em cima doce de morango que fiz há uns dias.
Ficou maravilhosa, com o ligeiro problema do recheio ser um pouco líquido de mais. Por isso ainda precisa de algum trabalho de remodelação.
Enfim, um belo repasto de Domingo de Páscoa.
Fernando Teixeira dos Santos é mais um dos que são triturados pela política. Apesar do coro que, agora, põe nas mãos dele a iminente bancarrota do país, ele foi um dos responsáveis por muitos votos favoráveis ao PS, nas últimas eleições. Foi um dos ministros das finanças mais competentes e voluntariosos que tivemos. Tentou opor-se a Alberto João Jardim a propósito da lei das finanças regionais. Segurou o governo e Sócrates em várias circunstâncias.
Não tenho dúvidas que cometeu grandes erros, talvez o maior tenha sido a sua dedicação ao país e a sua lealdade ao Primeiro-ministro. Como é hábito passou de bestial a besta em pouco tempo. Neste momento o PS faz de conta que ele não existe e relegou-o ao anonimato e à transparência. Dura recompensa para quem tanto deu. Para quem foi segundo na lista de candidatos a deputados pelo círculo do Porto em 2009, nem sequer foi considerada a sua inclusão nas listas de deputados para estas eleições legislativas. Servir a causa pública não é compensador, a não ser para as consciências de quem o faz.
A sondagem da Marktest é tão estranha que quase parece estapafúrdia. A da Eurosondagem é menos estranha e menos estapafúrdia. Tanto a Marktest como a Eurosondagem não têm dado grandes provas de resultados credíveis. É de suspeitar.
Do que tenho a certeza é da incapacidade, muitas e muitas vezes demonstrada, do BE e do PCP algum dia quererem fazer parte de uma solução governativa. A recusa de se reunirem com os representantes da União Europeia e do FMI é, mais uma vez, a recusa da responsabilidade, do compromisso a propor soluções, os chavões cansados e cansativos de uma pseudo esquerda velha e esgotada.
Do que também tenho a certeza é da inacreditável figura de Passos Coelho na dita mensagem de Páscoa. Se o ridículo matasse…
A campanha dos sectores de direita, que pretendem que se instale em toda a população a certeza de que o SNS é insustentável continua, recorrendo-se a todos os estratagemas (vale a pena ler o último artigo de António Correia de Campos).
O último foi a denúncia da incapacidade dos hospitais proverem aos doentes os medicamentos necessários, e a condenação das sugestões de ajuda à Maternidade Alfredo da Costa feita a quem a ela recorre ou recorreu.
As reportagens sobre os medicamentos em falta nos hospitais não são esclarecedoras, mas parece-me que é exactamente esse o objectivo. Em que circunstâncias foram pedidos medicamentos às famílias dos doentes? Ninguém sabe se é verdade nem em que condições acontecem ou aconteceram.
Em relação aos donativos à maternidade, não percebo o espanto e atrevo-me a dizer que acho muitíssimo bem. Porque é que a população não pode ajudar com donativos as maternidades, clínicas, creches, escolas, teatros, cinemas, bibliotecas, e outras instituições, públicas ou privadas? Em que é que isso reduz os direitos dos doentes ou dos familiares dos doentes? Em que medida prejudica quem quer que seja?
A consciência social, a cidadania e a solidariedade não são incompatíveis com um serviço público de saúde de qualidade e gratuito, ou tendencialmente gratuito. Dá a sensação que, em Portugal, há algumas entidades que têm obrigação de tudo: Deus e/ou o Estado. Os cidadãos só têm direitos, nunca deveres, éticos que sejam.
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