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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Ao que tudo indica, a Assembleia da República estará dissolvida a 25 de Abril, pelo que as cerimónias de comemoração do Dia da Liberdade não se efectuarão.
Estranho esta decisão e estranho a justificação. Não seria possível abrir excepcionalmente a Assembleia nesse dia, para que a Casa da Democracia se engalanasse e recebesse as justas e dignas festas de Abril?
Temo que os valores democráticos, de que esta situação é apenas um símbolo, estejam cada vez mais enevoados. O regime democrático deveria fazer da sua afirmação e empolgamento uma causa suprapartidária e intergeracional. Não há aquisição vitalícia de respeito pelas liberdades cívicas e individuais, nem pelas instituições do poder soberano do povo.
Espero que o mesmo povo saiba honrar o dia 25 de Abril como o Dia da Liberdade. Era importante que todos nos mobilizássemos para afirmar que somos livres, que queremos participar na vida do país e que, para além das permanentes queixas e das permanentes crises por que passamos, sabemos dar valor ao que conseguimos a 25 de Abril de 1974.
E que tal promovermos uma manifestação simbólica a favor da Liberdade e dos Militares de Abril? Eu sugiro que todos usemos cravos vermelhos, papoilas, rosas vermelhas, antúrios, sei lá, qualquer flor vermelha, bem vermelha, nesse dia. À lapela, no chapéu, como alfinete de gravata ou pregadeira, nas mãos, nos pés, no olhar e, sobretudo, no coração.
Sócrates foi a votos no PS vencendo os seus três opositores, numas eleições directas em que a percentagem de participação foi de 89,95%. É claro que os seus concorrentes protagonizaram uma oposição decorativa, pelo que se perdeu uma oportunidade de haver uma disputa de liderança, se tivesse havido coragem por parte de alguns dos seus mais assanhados críticos. Mas estes estarão provavelmente à espera da derrota de Sócrates nas eleições legislativas para avançarem com as alternativas que, eventualmente, representem.
Seria igualmente importante que houvesse uma disputa de liderança nos partidos à esquerda do PS. A responsabilidade de fazer uma coligação, ou de haver um apoio parlamentar, que pudesse viabilizar um governo de esquerda, é igualmente do BE e do PCP.
Não foi só José Sócrates que não fez alianças à sua esquerda. Nenhum dos líderes do PS se coligou com o PCP, antes ou depois de eleições, para formar um governo estável. Tal como com o BE. A credibilidade das posições e das atitudes de ambos os partidos apenas têm dado razão ao PS e, recentemente, a José Sócrates.
Tal como Daniel Oliveira disse ontem, n'O Eixo do Mal, os partidos da dita esquerda deveriam ser capazes de tornar públicas as condições mínimas para poderem viabilizar um governo do PS. Segundo a sondagem divulgada pela TVI, se as legislativas fossem hoje PSD e CDS teriam, juntos, 50,9% dos votos, o que significa que a hipótese de uma maioria de esquerda não está de parte. Com as actuais direcções do BE e do PCP isso será impossível, visto que a cultura existente é a do protesto por princípio e como fim.
O PS tem a obrigação histórica de reforçar e de reavivar o seu contrato de cidadania, por uma sociedade que olhe para o desemprego, para as desigualdades sociais, para o mérito, para os serviços públicos de qualidade, para a modernidade, que aposte nas tecnologias de informação, na ciência, nas energias renováveis. O PS tem a obrigação de fazer da sua diversidade e da sua tolerância uma força, de se desenvencilhar do oportunismo, do vazio mental, da orla de políticos que dizem o mesmo, com as mesmas palavras e a mesma entoação, quais bonecos de repetição. O PS tem a obrigação de se responsabilizar por aquilo que prometeu e não fez. O BE e o PCP têm uma oportunidade histórica de deixar a retórica da esquerda arcaica e anti democrática, sacudirem os discursos com toneladas de pó e de bolor e criarem condições para que o eleitorado possa confiar e vote à esquerda.
Passos Coelho na SIC, agora mesmo - é preciso distinguir entre a avaliação de desempenho e a classificação de desempenho.
Estrondoso.
Quando colocamos em dúvida a decisão de Sócrates de constituír um governo minoritário, este tipo de situações recordam-nos de imediato a justeza das suas razões.
É difícil encontrar qualificativos para a coligação que aprovou a revogação da avaliação do desempenho dos professores. O populismo e a cedência às reivindicações corporativas, num jogo de tentativas de agrado pré-eleitoral, consegue ser mais inacreditável que todas as outras manobras e manipulações politiqueiras a que temos assistido.
É neste PSD que deveremos acreditar? É neste BE, neste PCP, neste CDS? Os cada vez mais audíveis pedidos de um governo de salvação nacional, essa entidade mítica que apenas significa a amálgama de falta de ideias e de iniciativa, a ausência do assumir da responsabilidade e do risco que significa decidir, governar, mudar, podem já contar com os líderes das várias oposições representadas no Parlamento.
Nota: Pacheco Pereira votou contra esta enormidade.
Durante o discurso de Miguel Macedo, hoje, no Parlamento, apercebi-me que o PSD não concorda com a redução salarial imposta por um dos PECs do governo demissionário.
Caso o PSD ganhe as próximas eleições, será que vão repor as percentagens entretanto retiradas?
Como muitas pessoas hoje, fui ouvindo as declarações dos líderes parlamentares, justificando a tomada de posição que levou ao pedido de demissão do governo.
Nada de novo. Era uma morte anunciada. Espero muito sinceramente que outros anúncios não se concretizem.
Seguem-se eleições. Em democracia o voto é soberano. Da última vez a soberania do voto durou pouco.
Algumas conclusões a que podemos chegar perante os acontecimentos:
Duas coisas muito interessantes:
poema de Alexandre O’Neill: Amigo
pintura de Peter Worsley: Friends
Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!
De uma querida amiga, para todos os amigos.
QUEM TEM MEDO DA POETRIA?
Na sua última edição de Março, a revista “Os meus livros” publica um dossier intitulado “A resistência da poesia”, assinado por Andreia Brites, mencionando editoras e livrarias que, contra ventos e marés, continuam a apostar na Poesia como género literário bem presente no mercado.
Até aqui nada a assinalar. Trabalho louvável de pesquisa e desenvolvimento no sentido da divulgação da poesia. E não fora o “esquecimento” da Livraria Poetria entre as que referiu no seu artigo, a abordagem seria perfeita.
Mas Andreia Brites omitiu esse pequeno grande pormenor: A livraria que pela 1ª VEZ ousou instalar-se no mercado SÓ com livros de Poesia (e Teatro), e que no mercado PERMANECE desde 2003 foi, sim, a Livraria Poetria.
(Já em tempos, num importante artigo na Pública assinado por Luís Miguel Queirós sobre esse tema e os locais onde se vendem livros de poesia, a Poetria não foi incluída no conjunto das livrarias citadas)
Já agora, quando em 2008 abriu em Lisboa uma livraria de poesia, foi comentado na comunicação social e outros sítios que acabava de surgir “a 1ª livraria de poesia no país”.
E ainda, outro pormenor no mínimo insólito, a Livraria Poetria também NÃO é referida, nem ao de leve, na esmagadora maioria dos blogs ou sites especializados ou que falam de poesia (com honrosas excepções como a Assírio e Alvim, o Bibliotecário de Babel ou o Eu ela e a escrita…).
É caso para perguntar: Quem tem medo da Poetria?
OUÇAM TODOS (os que teimam em nos ignorar): a Poetria existe e resiste apesar de tanta indiferença, na sua senda poética de divulgação da “linguagem das aves”. E até vamos em breve alargar o nosso espaço físico para que mais livros de poesia (e teatro) possam aqui morar.
A partir daqui.
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