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Um dia como os outros (53)

por Sofia Loureiro dos Santos, em 21.04.10
Pouco depois de receber o prémio Pessoa, passei de pessoa vulgar, a Persona, no sentido de me ter transformado numa máscara, por onde se esperava que saísse uma voz a manifestar posições públicas. De repente pediam-me a opinião sobre tudo e nada. Desde logo, recusei dizer qual era a minha cor preferida, o meu signo, se gostava ou não de café com leite de manhã ou um copo de whisky à noite, ou dar as minhas opiniões políticas sobre as primárias do Partido Democrata nos EUA ou sobre as vicissitudes do PSD.
 
Decidi apenas falar de história e de memória, do nosso passado recente ditatorial e, nesse sentido, dei prioridade a deslocações a escolas. Quase que me transformei numa caixeira viajante a quem perguntavam sobre a PIDE/DGS, o Estado Novo e a situação das mulheres durante a ditadura. E o certo é que – agora a sério – tive excelentes surpresas, totalmente contraditórias com o que consta sobre a Escola e os professores, nomeadamente de História. (...)
 
(...) Sei que provavelmente essas escolas constituem excepções, mas basta a sua existência para se perceber que em todo o lado onde há iniciativa, preparação, conjunção de esforços de professores e alunos, a História se torna em algo de apetecível. Em muitos casos, perguntavam-me como se investiga em Portugal. Ou seja, os alunos sentiam uma curiosidade renovada e até… a apetência pela investigação histórica. Sentia-se que, longe de ser uma «seca», a História surgia como um conjunto de histórias contadas e de memórias vividas a contribuírem para um sentido de identidade, baseada num passado comum, que reforçava a cumplicidade no presente.
 

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publicado às 21:09

Um dia como os outros (52)

por Sofia Loureiro dos Santos, em 21.04.10
Não resisto a transcrevê-lo todo.
Por causa da avaliação de professores, vários sindicatos, com a Fenprof à cabeça, moveram contra Maria de Lourdes Rodrigues uma guerra sem quartel. Sócrates, e muito bem, nunca a deixou cair. (Ao contrário do que fizera, e mal, com Correia de Campos.)

No actual governo, Maria de Lourdes Rodrigues, a dura, foi substituída à frente do ministério da Educação por Isabel Alçada, uma escritora cuja amabilidade parece ter sido suficiente para driblar a referida Fenprof.

A magia acabou. Docentes de vário grau e competência acabam de descobrir, estupefactos, que a avaliação conta (e como não contaria?) para os concursos de contratação.

Consequência: os docentes que, por discordarem do modelo de avaliação, não aceitaram aulas assistidas, ficaram impossibilitados de obter as classificações mais altas (Muito Bom e Excelente). Não as tendo obtido, vêem-se agora prejudicados no confronto com os que, e foram muitos, aceitaram aulas assistidas durante o processo de avaliação. Isto é o óbvio ululante. Porém, a avaliar por declarações aos media, a maioria diz-se surpreendida com os factos e traída pelos sindicatos.
 
A TERRA É REDONDA - Eduardo Pitta

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publicado às 20:56

Espirais

por Sofia Loureiro dos Santos, em 18.04.10

 

Deuses de granito em sombras

altas espirais de silêncio

no mar horizontes de nunca mais.

 

Inteira a palavra que não escrevo

sabe a mar e a sangue

nos lábios de quem ama.

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publicado às 19:00

Destino

por Sofia Loureiro dos Santos, em 18.04.10

 

Quando peço saladas e coca-cola zero, prescindo da sobremesa e bebo café com adoçante, olho em volta e reparo que todas as rubicundas matronas (como eu) sacrificadamente estão de dieta. E continuam redondas.

 

 

Burne-Jones: Fat Ladies

 

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publicado às 16:58

Da urgência da revisão Constitucional

por Sofia Loureiro dos Santos, em 18.04.10

Despartidarizar a Administração, desgovernamentalizar o país, desestatizar a sociedade. A Constituição não serve a quem tenha estes objectivos - Pedro Passos Coelho quer que a revisão da Constituição seja efectuada com urgência, antes das próximas eleições presidenciais, pois defende que só a modificação da Constituição permite as medidas necessárias ao combate da crise e ao crescimento económico.

  • Sugere que deve ser o Parlamento a nomear os responsáveis das entidades reguladoras, com a justificação de que essa seria uma forma de despartidarizar o estado. É bom que não nos esqueçamos que os deputados representam partidos políticos. Por isso o Parlamento é, por definição, um órgão partidarizado. Além disso os membros da entidade de regulação da comunicação social são eleitos pelo Parlamento, estando a Constituição aberta à eleição de outros órgãos:

Artigo 163.º
Competência quanto a outros órgãos

h) Eleger, por maioria de dois terços dos Deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções, dez juízes do Tribunal Constitucional, o Provedor de Justiça, o Presidente do Conselho Económico e Social, sete vogais do Conselho Superior da Magistratura, os membros da entidade de regulação da comunicação social, e de outros órgãos constitucionais cuja designação, nos termos da lei, seja cometida à Assembleia da República; 

  • Possibilitar às pessoas a livre escolha entre o sector público e o privado - segundo opiniões de vários constitucionalistas, não necessita de revisão constitucional. É uma medida que está ao alcance da vontade política do Parlamento e do governo que dele emana. 
  • A alteração do sistema eleitoral, com a possibilidade de existência de listas abertas para a ordenação de candidatos pelos eleitores, necessitará ou não, dependendo das opiniões, de revisão Constitucional.

O que não me parece claro é em que medida estas alterações combatem a crise e melhoram a economia do país.

 

Mais urgente e importante, em termos das tão queridas reformas estruturais, seria uma alteração da organização administrativa do território. As alterações na distribuição demográfica foram acentuadas e as próprias representações políticas local e nacional se poderiam modificar com essa reestruturação. Essa sim seria uma medida que provavelmente precisaria de revisões no texto constitucional, pois enquanto no

 

Artigo 164.º

Reserva absoluta de competência legislativa

É da exclusiva competência da Assembleia da República legislar sobre as seguintes matérias:

n) Criação, extinção e modificação de autarquias locais e respectivo regime, sem prejuízo dos poderes das regiões autónomas;

já no

Artigo 249.º
Modificação dos municípios

 A criação ou a extinção de municípios, bem como a alteração da respectiva área, é efectuada por lei, precedendo consulta dos órgãos das autarquias abrangidas.

 

Sendo assim, parece que a Assembleia da República tem a exclusiva competência de legislar sobre a reorganização do território, mas só poderá extinguir municípios se eles próprios estiverem de acordo, o que parece uma contradição.

 

Pedro Passos Coelho ensaia a fuga para em frente, propondo medidas que provocam algum ruído, mas nada mais.

 

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publicado às 16:22

Cristianismos

por Sofia Loureiro dos Santos, em 18.04.10

 

 

Cristianismo e judaísmo, o cristianismo como a origem do anti-semitismo, a Bíblia como a palavra de Deus, a Bíblia como as palavras dos Homens sobre as interpretações de Deus, do Deus dos Judeus, do Deus dos Cristãos. Jesus como Homem, Jesus como Deus, Jesus como Homem e Deus, Jesus como corpo humano habitado por Deus, Jesus como Homem escolhido por Deus.

 

Os textos da Bíblia, os Evangelhos Canónicos, Gnósticos, Apócrifos, a forma como são diferentes mesmo quando narram episódios semelhantes à luz do que os autores pretendem transmitir, a transformação da figura de Jesus de um judeu que ensina a Lei de Moisés no Messias (em grego Cristo), aproveitando do Livro todas as passagens em que se fala no Messias, transpondo-as para a narrativa da vida de Jesus.

 

O nascimento do Catolicismo com a férrea disciplina, hierarquização e centralização do poder, o Código de Niceia, Constantino e a religião do Estado, a ortodoxia e a heresia.

 

Jesus, Interrupted: Revealing the Hidden Contradictions in the Bible (And Why We Don't Know About Them) – de Bart D. Ehrman, um excelente livro para compreendermos o que foram o crescimento e a implantação do Cristianismo e do Catolicismo, e de como o conhecimento e a informação são os melhores antídotos contra os fundamentalismos e as ideias feitas – como o celibato obrigatório dos Sacerdotes, a submissão das mulheres aos homens e o anti-semitismo. 

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publicado às 12:48

Avalanche

por Sofia Loureiro dos Santos, em 17.04.10

Sir Stanley Spencer: Avalanche

 

Abri um dique e não contive a avalanche. Pedras ramos contidos pelo sal pela névoa pelo orgulho pela total incapacidade de me dar de todo de tudo ultrapassaram as fronteiras das certezas do horizonte iluminado que percorria inundam-me. Perdi-me no meu próprio labirinto.

 

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publicado às 18:22

Austeridade

por Sofia Loureiro dos Santos, em 17.04.10

 

A austeridade do grupo Lena, que impõe um programa de estabilidade e crescimento draconiano ao jornal i, cujo objectivo é a redução de custos a todo o custo, medidas que muitos opinantes, jornalistas e economistas, nacionais e internacionais, preconizam para Portugal.

 

A austeridade de Cavaco Silva, ao ouvir um seu homólogo destratá-lo destratando o país que representa.

 

A austeridade de tantos quantos estão preocupados com a linguagem parlamentar, mesmo quando ela apenas é perceptível pela leitura de lábios, porque o país está surdo mas não mudo.

 

A austeridade que facilita aos cidadãos a peregrinação a Fátima, por conta dos pecados da nação, país de hereges e grevistas, aquando da visita do Chefe de Estado do Vaticano e Papa.

 

A austeridade mais austera que nos brinda com uma Primavera periclitante e um enfado desmedido.

 

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publicado às 12:16

Take the "A" Train

por Sofia Loureiro dos Santos, em 17.04.10

Duke Ellington - Ella Fitzgerald

 

You must take the "a" train
To go to sugar hill way up in harlem
If you miss the "a" train
You'll find you missed the quickest way to harlem

 

Hurry, get on, now it's coming
Listen to those rails a-thrumming
All aboard, get on the "a" train
Soon you will be on sugar hill in harlem

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publicado às 00:09

Calma portuguesa

por Sofia Loureiro dos Santos, em 16.04.10

 

O que será que Václav Klaus entende por nervosismo? Como mede ele a ansiedade protuguesa?

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publicado às 23:49



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