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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
O que é que justifica este tipo de remunerações nas empresas do estado? Como é possível alguém, em Portugal, numa empresa pública, ter uma remuneração média de 93.000 euros por mês, acrescido de um prémio mensal médio de 42.000 euros (calculando 14 meses por ano), o que perfaz um total, em média, de 135.000 euros por mês? Que competências e que produtividade têm António Mexia, Ferreira de Oliveira ou Zeinal Bava, comparadas com as de outros profissionais que ganham menos metade num ano que este senhores por mês?
Entre a luz que vemos a realidade dessa luz podem passar milhões de anos-luz. Mas a luz que vemos não é menos real. Apenas nos aparece com uma constância inversamente proporcional à distância que as separa.
Entre a vida que temos e a que conhecemos, em nós e naqueles que abraçamos, há tantas vidas como segundos de vida, tantos abraços como partículas de luz. Apenas nos sabe ao gosto de uma parcela de felicidade.
poema de Miguel-Manso
pintura de Francisco Oller: el velorio
não bastasse a humilhação pública de morrer
espera-se do corpo que cumpra com indiscutível
pompa o intolerável protocolo de ausentar-se
a penosa execução circular e nocturna do velório
a presença inconveniente dos agentes funerários
os adereços lutuosos a obscena maquilhagem
no dia seguinte, o inventário das orações, a concisa
cerimónia (não há muito a dizer, sejamos honestos
e soa até a insulto que se pronuncie o nome de
Lázaro) o caixão é fechado, o dia põe-se bonito
─ é quase tão imoral como alguém ter trazido uma
gravata com motivos facetos, uma camisa florida ─
depois, em casa, parece que as vozes ressoam como numa
sala a que tivessem subtraído os móveis e houvesse, por isso
a estranheza de uma extensão desprovida, dissemelhante
o avô vai buscar as memórias da infância (por que
razão obscura omite ele as lembranças de casado?) há
na sua voz qualquer coisa de paciente melancolia
como se aceitasse, com constrangedora submissão, que
o tempo não se detenha nunca, que os anos nos empurrem
para um buraco na terra, nos sujeitem a tão bruta descortesia
a prontidão da morte, a ligeireza do tempo, a estupidez
da vida que nunca vai encontrar cura e razão para ela própria
contra tudo isso eu alardeio o poema, antecipo a derrota
(a partir daqui)
Começo por dizer que considero, este ano, por razões que se prendem com a grave crise que atravessamos, as greves decretadas por aumentos salariais uma irresponsabilidade, para além de mostrarem falta de solidariedade para quem, pura e simplesmente, não tem emprego.
Em segundo lugar, qualquer greve que se cole a um fim-de-semana, nomeadamente nesta semana em que há um feriado à 6ª feira e tolerância de ponto na 5ª feira à tarde, aumenta exponencialmente o número de dias efectivamente fora do trabalho, transformando uma greve de 3 dias numa paragem de 1 semana. Isso descredibiliza de imediato as razões de quem faz greve.
Os Enfermeiros, assim como os Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica (TDT), têm uma licenciatura exactamente como os Biólogos, os Psicólogos e os Assistentes Sociais, por exemplo, contratados como Técnicos Superiores de Saúde (TSS). No entanto a remuneração que auferem nos serviços públicos, no início da carreira, é diferente, pelo que os Enfermeiros e os TDT reivindicam, e com toda a razão, a equiparação dos seus ordenados aos dos TSS.
Esta é uma reivindicação antiga, desde que os respectivos cursos passaram a ser considerados licenciaturas. É claro que todos compreendemos que é incomportável um aumento imediato de 200€ a cerca de 6.000 Enfermeiros mas a verdade é que este problema já deveria ter sido resolvido há muito tempo.
Não concordo com esta greve mas penso que o governo deve tentar encontrar uma forma de, faseadamente, pagar aos Enfermeiros, TDT e TSS a mesma remuneração inicial, pois não há licenciaturas de primeira e licenciaturas de segunda, como parece ser a opinião de Henrique Raposo, cujos artigos denota a ignorância atrevida de quem fala do que desconhece.
Mais uma vez se prova que é muito mais interessante atacar o carácter de alguém, melhor se é político, ainda melhor se é deputado, soberbo se é do PS, do que discutir ideias e políticas alternativas.
Inês de Medeiros vê-se envolvida na espiral de propaganda dos moralizadores da causa pública, que descobriram que os deputados, quando residem fora do seu círculo eleitoral, têm direito a receber ajudas de custo para as viagens, nos termos da legislação existente, disponível no site da Assembleia da República.
Já se chamaram todos os nomes a Inês de Medeiros, blogues e jornais entusiasmam-se com os insultos, sem cuidarem de saber se há algum facto por detrás das notícias - desmentido de Inês de Medeiros no Público, 30 de Março, pág. 29 .
Mas porque deve a realidade estragar uma história tão extraordinária? Aliás, como todos estamos cansados de saber, nunca nenhum deputado da nação, em todo o espectro partidário, por honra, pudor e dignidade, aceitaria ser eleito por Lisboa quando residisse no Porto, em Bragança, Freixo de Espada à Cinta, Ponta Delgada ou Funchal, recebendo as ditas ajudas de custo. Mesmo estando tudo isso previsto na lei.
Não é lógico? É muito lógico mas a ideia que tem prevalecido é a de considerar os deputados representantes do todo nacional, não apenas do círculo da sua residência. Se os deputados entenderem que isso se deve mudar, que tal alterarem a lei?
Mas o mais extraordinário e tristemente significativo é que o próprio Presidente da Assembleia da República, que tal como está escrito no Artigo 16.º dos Princípios Gerais de Atribuição de Despesas de Transporte e Alojamento e de Ajudas de Custo aos Deputados:
(...) Artigo 16.º
Casos omissos
Os casos omissos são decididos por despacho do Presidente da Assembleia da República, ouvido o conselho de administração. (...)
ainda não se dignou esclarecer os cidadãos revoltados pela ignomínia de Inês de Medeiros permitindo, com o seu silêncio, o enxovalho constante de uma Deputada à Assembleia da República. Mas para Jaime Gama o respeito devido ao Parlamento é mais bem observado se a fórmula regimental pela qual todos se lhe devem dirigir, for sempre rigorosamente obedecida.
Mona Aghababaee: Onde está a liberdade?
Falemos do bem, daquele puro sentimento que nos ensinam os padres de mãos postas, as avós sentadas bem direitas nas cadeiras de costas altas. Daquele bem de semana pascal, em que a mesa farta se prepara em jejuns diversos, do bem que pertence às pessoas de bem.
Falemos do bem que nos queremos, da luta diária pelo pão de cada dia, do fragmento de noite em que nos deitamos na cama, num cansaço de hábito escuro, na culpa de não encontrar horas nem forças para quem nos quer bem.
Falemos do bem do dinheiro multiplicado, que sem raízes nem asas se volatiliza para uns materializando-se noutros, no bem dos redondos braços da lei, da rotunda e árida ética.
Falemos do bem das armas caladas e apertadas durante o sono, do bem da fome que morre e que mata, do bem ruinoso das convicções febris, do bem que fazemos por tantos deuses que fabricamos, adoramos e consumimos, embrulhados em plástico ou papel brilhante.
Falemos então do mal que este bem nos faz, olhemos para fora das nossas horas, por fora das nossas bênçãos e façamos qualquer coisa de bom, na busca de um raio que nos abra o instante de sermos felizes.
João Galamba é um jovem que vive a idade da sua geração. Não tenta vender a ideia de uma vida planeada para a política, não tenta mostrar erudição precoce ou espontânea, não tenta ser aquilo que não é.
João Galamba entende a cidadania sem complexos e não se veste de intelectual de esquerda nem de descendente de lutador antifascista. Assume a sua infância desafogada, o seu diletantismo, a sua inaptidão para causas que já não existiam. Fez o percurso de um jovem da classe média, média-alta e não se envergonha dele.
João Galamba vai sabendo o preço do seu comprometimento. Há muitos que se comprazem e se realizam a enlamear os ingénuos, pois a pequenez e a inveja, aquela mesmo com que enchem a boca das palavras de João Gil, sem perceberem que lhe encarnam a filosofia, amesquinham o que tocam. É bom que o Parlamento possa contar com João Galamba.
(via Jugular)
A eleição de Passos Coelho como líder do PSD, pela margem com que foi eleito, é um facto importante e que poderá significar o princípio do fim do cavaquismo, assim como o princípio do começo de uma oposição a sério.
Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira, Alberto João Jardim e Paulo Rangel saíram grandemente derrotados assim como, esperamos, uma certa forma de fazer política.
É bom que haja definição à direita para que a esquerda também se reposicione. O PS e o país precisam de luta política e de clarificação ideológica.
Depois de cerca de 1600 dias a escrever neste blogue, 125 pessoas por dia, em média, vieram ler ou ouvir o que postei.
Estou espantada e orgulhosa. Não sei o que esperava a 5 de Novembro de 2005. Ainda hoje me pergunto porque mantenho este diário aberto, em que as opiniões muitas vezes não espelham as dúvidas que me assaltam, as mudanças de humor, os estados de alma, o que vou descobrindo de mim e do mundo.
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