Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Rodrigo Leão & Ana Vieira
São de veludo as palavras
Daquele que finge que ama
Ao desengano levo a vida
A sorte a mim já não me chama
Vida tão só
Vida tão estranha
Meu coração tão mal tratado
Já nem chorar me traz consolo
Resta-me só o triste fado
A gente vive na mentira
Já nem dá conta do que sente
Antes sozinha toda a vida
Que ter um coração que mente
Vida tão só
Vida tão estranha
Meu coração tão mal tratado
Já nem chorar me traz consolo
Resta-me só o triste fado
A propósito da entrevista dada pelo Presidente do Instituto Português do Sangue, na sequência das notícias veiculadas a 17 de Julho pelos meios de comunicação, acendeu-se de novo a polémica à volta dos critérios de exclusão de dadores de sangue.
A transformação deste assunto em problema político, em bandeira de defesa dos direitos dos homossexuais, acusando o Instituto Português de Sangue e o seu responsável de homofobia, exigindo a sua demissão, é uma forma totalmente desfocada de olhar para a realidade.
Não se trata de discriminação dos comportamentos ou das escolhas de orientação sexual, trata-se de usar os meios aos dispor da comunidade científica para a redução máxima do risco de um acto médico, que tem sempre riscos, por mínimos que sejam.
A existência de critérios de exclusão é um meio de assegurar a quem necessita de transfusões sanguíneas o menor risco possível de contaminação por agentes infecciosos: HIV, HCV, HBC, HHV-8, HHV-2, priões, etc. Existem grupos nacionais e internacionais que analisam os vários contributos científicos em cada área, as consequências para a população, éticas, sociais e de saúde pública, e definem orientações (guidelines) para cada caso.
Podem consultar-se as guidelines da Cruz Vermelha Americana que estipulam as várias circunstâncias em que as pessoas não devem doar sangue. Por exemplo qualquer pessoa que tenha recebido um transplante de dura-mater (membrana que cobre o cérebro) ou hormona de crescimento não pode dar sangue; os familiares em primeiro grau de uma pessoa com a doença de Creutzfeld-Jacob não podem dar sangue; em relação ao risco de HIV/SIDA diz o seguinte:
You are at risk for getting infected if you:
- have ever used needles to take drugs, steroids, or anything not prescribed by your doctor
Pode também consultar-se o Annual Meeting de 2008 da American Medical Association (AMA) - REPORTS OF THE COUNCIL ON SCIENCE AND PUBLIC HEALTH – que (páginas 421 e 428) faz uma revisão das guidelines actuais:
Há ainda uma directiva da União Europeia (EC Directive 2004/33) que, no anexo III, define quem está permanentemente excluído de doar sangue:
Em Março de 2008 o Conselho Europeu produziu a Resolution on Donor Responsibility and Limitations of the Right to Donate Blood or its Components - Resolution CM/Res (2008)5 - que conclui que:
Nesse mesmo documento existe uma tabela com os Estados membros que seguem o critério de exclusão de homens que têm sexo com homens (MSM) e os que não seguem, quais os motivos e quais as orientações seguidas. De um total de 27 países, 9 não seguem as guidelines (este documento é de Março de 2009).
Dar sangue não é um direito. O que é um DIREITO e DE TODOS é o de RECEBER SANGUE com a menor probabilidade possível de conter riscos infecciosos. Cabe aos organismos de saúde pública a responsabilidade de garantirem, tanto quanto os conhecimentos científicos o permitam, que quem o recebe está salvaguardado de doenças futuras, directamente relacionadas com a transfusão. Para isto existem critérios científicos que não se devem misturar com activismo político.
Nota: também aqui.
Adenda (1) (01/08/2009) - os dados e estatísticas nacionais em relação à infecção HIV/SIDA estão no site da Coordenação Nacional para a infecção HIV/SIDA, no separador documentação e informação, Infecção VIH/sida (CVEDT/INSA) - Dados VIH/sida Doc. 140 - A situação em Portugal a 31 de Dezembro de 2008.
Adenda (2) (01/08/2009) - usando os dados do INSA, Infecção VIH/SIDA (doc. 140), actualizados a 31/12/2008, os cálculos de incidência (em 2008) e de prevalência (de 1983 a 2008), considerando a existência de 7,5% de população homossexual (feminina e masculina) e/ou bissexual (média das referências nas sociedades ocidentais – 2 a 13%) os valores encontrados são:
Ou seja, existe o dobro da prevalência e da incidência da infecção VIH/SIDA na população homossexual/bissexual quando se compara com a população heterossexual.
Mas se considerarmos as percentagens estimadas da população homo/bissexual (2,2%) num trabalho do ICS, coordenado pelos investigadores Manuel Villaverde Cabral e Pedro Moura Ferreira, do qual fizeram parte Sofia Aboim, Duarte Vilar, Alexandre Lourenço e Raquel Lucas (já citado anteriormente), apresentado em Maio do ano passado no auditório do ICS, com debate integrado por várias personalidades, entre as quais Miguel Vale de Almeida, a prevalência seria 874 por 100.000 e a incidência 21 por 100.000 habitantes, 7 vezes superiores aos da população heterossexual.
E estamos apenas a falar da infecção VIH/SIDA. Faltam as hepatites (B, C, D, …), os Herpes Vírus (HHV-8 e HHV-2), etc.
Adenda (3) (02/08/2009) - Agradeço à Ana Matos Pires a chamada de atenção em relação à incorrecção da adenda 2, já corrigida, que dava como co-autor do trabalho do ICS Miguel Vale de Almeida. Aos autores e ao Miguel Vale de Almeida peço desculpa pelo erro.
Sou tão deslumbrada que me deslumbro até com os deslumbramentos que provoco com a minha deslumbrada prosa. Mas se alguém duvida do meu deslumbramento por me deslumbrar com causas tão pouco deslumbrantes, deslumbrado fica pelo deslumbramento sem par que pode causar.
E a banda larga nos dai hoje, ora e na hora de deslumbrar.
Na realidade tenho consciência que digo lugares-comuns em relação a muita coisa, como política educativa, de imigração, energética, ambiental, e até de saúde, pois não é a mesma coisa ser-se operacional ou decisor. São os lugares-comuns que resultam daquilo que os cidadãos comuns pensam da vida colectiva, para além do seu estrito ciclo de relações pessoais e familiares e competências profissionais.
A educação é um assunto que importa a todos. A universalização do acesso ao ensino público que se massificou, principalmente desde 1974, foi um ganho indesmentível na alfabetização da população. Aumentou esmagadoramente o número de alunos e professores, foi-se ampliando a escolaridade obrigatória, infelizmente desacompanhada de uma proporcional melhoria e adequação dos currículos, da modernização do parque escolar, da exigência de formação e da diferenciação da profissão docente.
A sociedade modificou-se e as famílias não estão disponíveis para assegurar o acompanhamento das crianças e jovens, pedindo-se cada vez mais à escola e aos seus profissionais que assumam vários papéis, transformando-os em transmissores e avaliadores de competências e conhecimentos, psicólogos, médicos e assistentes sociais. Exigem-se polivalências mas não se disponibilizam verbas nem espaços para que elas funcionem. Não existem equipas multidisciplinares com representação destas profissões para que se possam desencadear acções preventivas, para que se possam acompanhar situações de instabilidade familiar ou social.
É urgente que se olhe para a escola como uma das bases essenciais do tecido social, no que diz respeito à aquisição de saberes, à socialização e à educação para a cidadania. É preciso dotar as escolas de meios que lhes permitam responder a estes desafios, que permitam a todos, independentemente da sua proveniência sócio económico cultural, terem oportunidade de se integrarem e adquirirem formação para a vida. Devem exigir-se disciplina, rigor, trabalho, competência, a professores e alunos, a quem elabora e a quem escolhe manuais escolares, às associações de pais, às autarquias. Devem adequar-se os meios tecnológicos, as bibliotecas, os ginásios, o ensino da música, da pintura, etc. Há muitas crianças e jovens que poderão contar apenas com os meios que a escola pública lhes oferece para as aprendizagens, socialização e formação.
O estado não pode ser o substituto da família mas é o garante do direito à educação; a escola pública é um dos melhores viveiros da democracia.
Nota: também aqui.
(Aretha Franklin)
(oo) What you want
(oo) Baby, I got
(oo) What you need
(oo) Do you know I got it?
(oo) All I'm askin'
(oo) Is for a little respect when you come home (just a little bit)
Hey baby (just a little bit) when you get home
(just a little bit) mister (just a little bit)
I ain't gonna do you wrong while you're gone
Ain't gonna do you wrong (oo) 'cause I don't wanna (oo)
All I'm askin' (oo)
Is for a little respect when you come home (just a little bit)
Baby (just a little bit) when you get home (just a little bit)
Yeah (just a little bit)
I'm about to give you all of my money
And all I'm askin' in return, honey
Is to give me my profits
When you get home (just a, just a, just a, just a)
Yeah baby (just a, just a, just a, just a)
When you get home (just a little bit)
Yeah (just a little bit)
Ooo, your kisses (oo)
Sweeter than honey (oo)
And guess what? (oo)
So is my money (oo)
All I want you to do (oo) for me
Is give it to me when you get home (re, re, re ,re)
Yeah baby (re, re, re ,re)
Whip it to me (respect, just a little bit)
When you get home, now (just a little bit)
R-E-S-P-E-C-T
Find out what it means to me
R-E-S-P-E-C-T
Take care, TCB
Oh (sock it to me, sock it to me,
sock it to me, sock it to me)
A little respect (sock it to me, sock it to me,
sock it to me, sock it to me)
Whoa, babe (just a little bit)
A little respect (just a little bit)
I get tired (just a little bit)
Keep on tryin' (just a little bit)
You're runnin' out of foolin' (just a little bit)
And I ain't lyin' (just a little bit)
(re, re, re, re) 'spect
When you come home (re, re, re ,re)
Or you might walk in (respect, just a little bit)
And find out I'm gone (just a little bit)
I got to have (just a little bit)
A little respect (just a little bit)
pintura de Diane McGregor:
Fly Toward a Secret Sky
Olho o mundo basculante perigoso minúsculo
que me chama em voz surda
o vento que me empurra
para o salto
no abismo.
Os pássaros seguram as amarras
revoltas as pedras que sustentam
o corpo preparado.
Marés soltas
sem olhar.
Fenprof promete protesto no início do ano lectivo – não me espanta. A FENPROF não fez outra coisa desde 2005, quando se começou a falar das aulas de substituição, senão protestar.
Se há área em que o governo mexeu, e bem, foi na área da educação. Este governo tentou reformar o sistema público de educação desde que tomou posse. Para isso centrou a actuação na reestruturação da carreira docente dignificando-a e organizando-a em dois graus, dando aos mais experientes a possibilidade de terem funções mais específicas e diferenciadas, entre as quais a avaliação de desempenho dos colegas mais inexperientes.
Este princípio parece-me de tal forma óbvio que tenho dificuldade em perceber como é possível questioná-lo. No entanto a FENPROF, com todas as suas forças, combateu e combate o estatuto da carreira docente, porque acha que não deve haver vários graus na carreira; combateu e combate com todas as suas forças a avaliação do desempenho porque, na verdade, o reconhecimento do mérito não lhe interessa.
Mesmo que se modifique a estrutura da carreira, alterando o concurso de acesso a professor titular ou aumentando os graus da carreira, só o facto de se ter conseguido implementar este princípio é uma reforma estrutural importantíssima. Mesmo que o modelo de avaliação do desempenho seja modificado, simplificado ou complexificado, só o facto de se ter conseguido que se pensasse e fizesse uma avaliação de desempenho, é fundador de uma nova atitude e de uma nova exigência no serviço público de educação.
O ministério da educação e o governo foram acusados de autismo, autoritarismo e incompetência. Pois eu penso que a persistência, a coragem e a determinação nestas matérias foram uma marca de qualidade. Haverá que corrigir e melhorar muitas coisas, mas sempre com o sentido numa escola pública de qualidade, que é um dever do estado e o único meio de garantir igualdade de oportunidades a todos os cidadãos.
Nota: também aqui.
Lhasa de Sela
I got caught in a storm
And carried away
I got turned, turned around
I got caught in a storm
That's what happened to me
So I didn't call
And you didn't see me for a while
I was rising up
Hitting the ground
And breaking and breaking
I was caught in a storm
Things were flying around
And doors were slamming
And windows were breaking
And I couldn't hear what you were saying
I couldn't hear what you were saying
I couldn't hear what you were saying
I was rising up
Hitting the ground
And breaking and breaking
Gostaria de saber se os responsáveis políticos do PSD, Manuela Ferreira Leite, por exemplo, apesar de engripada, não tem nada a dizer sobre o regime democrático que vigora na Madeira, em que Alberto João Jardim acusa Sócrates de “dar cabo” de Portugal com “a política de Salazar” e, simultaneamente, se recorre à violência, mais precisamente a tiros de carabina, para impedir uma manifestação política (por estrambólica que seja) previamente autorizada,de um partido político (PND).
E o Presidente da República, também não está preocupado?
Nota: também aqui.
Poema de Cláudia Santos Silva
Pintura de Marc Chagall:
Double Portrait with Glass of Wine
não serei
dedicada submissa esquecerei
todas as instruções para a limpeza do lar falharei
as poupanças o mutualismo
a pedicura as unhas de gel o peeling a musculação
chegarei tarde
partirei cedo nos jantares casamentos baptizados
será junto de outrem que me sentarei
serei impulsiva ignara
percorrerei desassombros sem referência
não estarei disponível não tomarei a pílula
ansiarei por todos os preliminares amarei
os filhos de um amor não passível de clausulado
não disporei de património herança promessas eternas
em vão buscar-me-ei por entre sonhos e escombros
para que em vão saibas como reconhecer-me
como perder-me enquanto me pergunto
porque razão haverás tu de querer-me
não serei um bom partido
assim velha gorda distante mal-humorada ávida
tantos adjectivos para uma só pequena pessoa.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.